O raio-X do Flu (por Walace Cestari)

raio x

O campeonato que começa neste final de semana nos traz um misto de esperança e incertezas. De nossos adversários falei na coluna anterior e a comparação não nos deixa muito otimistas quanto ao papel que podemos desempenhar no campeonato. Outra análise igualmente importante – e que justifica a anterior – é a de nosso elenco. Olhar para o umbigo e ver se estamos bem servidos nos diversos setores do elenco.

GOL

Cavalieri é, sem dúvida, um bom nome. Goleiro que já esteve na seleção, seguro e experiente. Apresenta currículo que não deixa nada a desejar a qualquer outro da posição no campeonato. Entretanto, não vive a melhor fase da carreira, vem oscilando um pouco e tem, na média, atuações menos espetaculares do que aquelas que é capaz. No banco, Kléver não lhe faz sombra, entretanto não é mau goleiro caso seja necessário em uma eventualidade.

ZAGA

A zaga é o setor que mais preocupa. Nominalmente, não parece tão distante de outros bons times do campeonato: Gum tem dois campeonatos brasileiros no currículo, Marlon é jogador da seleção olímpica, Antônio Carlos é identificado com o clube e é, ao fim e ao cabo, um bom zagueiro. O elenco ainda conta com Henrique que, apesar dos títulos da carreira, não passa confiança à torcida e ultimamente tem sofrido com lesões e problemas físicos diversos. De Vitor Oliveira não dá para se esperar muito, exceto fortes emoções. Era melhor ter ficado com o Mattis.

O problema da zaga é a falta de organização. O time expõe-se demais e a defesa não parece preparada para suportar o esquema de jogo. Falhas de posicionamento são frequentes, assim como repetidas vezes os defensores se veem obrigados a sair no mano a mano ou mesmo completamente envolvidos pelo ataque adversário. Some-se a isso a curiosa predileção pelo risco de que gozam nossos zagueiros – dribles nos momentos e locais errados, saídas perigosas, passes atravessados… – teremos como resultado a falta de tranquilidade em todos os jogos.

As laterais são uma preocupação ofensiva e defensiva. Giovani firmou-se pela esquerda – mas, quem é seu reserva? – e vem tendo atuações que, por um lado, não comprometem; mas, por outro, não empolgam. Na direita, Wellington Silva alterna partidas excelentes (em especial no apoio ao ataque) com partidas simplesmente desastrosas: é nossa montanha russa em campo. Renato, seu substituto imediato parece tímido, capaz apenas de um desempenho regular. Pouco para um time precisa muito de opções de jogadas pelas laterais e não enxerga em seus jogadores soluções para a questão.

MEIO-CAMPO

O meio defensivo conta com Jean, jogador que, pelo nome, teria vaga em qualquer time do país, mas que rende muito abaixo do que já demonstrou ser capaz. Além dele, Edson torna-se a peça mais regular do meio de campo, fazendo o papel de primeiro volante ­– que nem é sua posição original – e ainda arriscando-se ao ataque, conseguindo alguns importantes gols.

Pierre vem para acrescentar profundidade ao elenco, trazendo experiência e vontade. Sua característica passa longe do jogador técnico, mas parece ser uma boa peça, principalmente se colocar em campo sua disposição fora do comum. Rafinha é um bom garoto que pode ter oportunidades ao longo do campeonato, pois combina uma boa marcação a uma verticalidade bastante interessante. Faltam-lhe, claro, a experiência e a regularidade. Luiz Fernando é outro jovem da base, menos promissor que Rafinha, mas que pode ajudar com vigor físico e muita vontade.

O meio de criação do Fluminense vive uma crise existencial. Wagner poderia ser o maestro do time se jogasse o que sabe, mas, no momento, tem desafinado o projeto de orquestra tricolor. Se encontrar o tom, eleva nosso meio-campo a um patamar diferenciado. Marlone e Vinícius chegaram para dar opções ao treinador e somente o último disse a que veio. Vinícius tem evoluído no clube e será importante no campeonato. Para Marlone, sobram interrogações para uma promessa que parece que não vai se cumprir.

Essa lacuna na criação faz com que esperemos mais do Gérson Joia pode nos oferecer. O menino é sensacional, tem visão e passe que pouquíssimos possuem, mas não pode cair-lhe nas costas todo o peso de ser a referência do meio do Flu. Como garoto, vai oscilar e não pode ser cobrado por isso. Robert, outra revelação, ainda não fez no time principal uma atuação como as elogiadas da divisão de base. Quem sabe não é essa a hora de Robert?

ATAQUE

O ataque é o setor com mais opções e que vem apresentando mais resultados. Entretanto, sofremos com uma dependência enorme de Fred. Óbvio que o capitão teria vaga em qualquer time brasileiro (e muitos estrangeiros) e que sua ausência seria sentida por qualquer equipe. Mas há poucas opções para substituí-lo inclusive taticamente, o que nos deixa sem saber como atacar quando Fred não está. Kennedy é veloz e vem melhorando seu futebol a cada dia, mas não é centroavante. Lucas Gomes ainda não disse a que veio e, com ele em campo, a arquibancada não se levanta no lance perigoso. Marco Jr é nosso eterno candidato: uma promessa que nunca se concretiza e Michael enfrenta o gravíssimo problema da dependência e nossa torcida, mais que por gols, é que o garoto possa sair dessa e vencer esse desafio.

Ah! Magno Alves. O velho filho Magnata voltou para casa e isso é bom. Mas não esperemos que Magno seja a salvação de uma lavoura que anda sem fertilizantes e água. Magno pode alternar com Fred ou mesmo atuar com nosso capitão. Belo reforço, além de ser um merecido reconhecimento a quem sempre se dedicou às três cores.

COMISSÃO TÉCNICA

Visto assim, não parece que tenhamos um elenco tão problemático para a disputa do Brasileirão ou mesmo dá a impressão de que o time, jogando no seu melhor, é uma equipe fortíssima e envolvente. Porém nossa maior interrogação senta no banco de reservas e tem a prancheta. Drubscky parece muito bem intencionado, mas não tem em seus trabalhos nada inovador que o credencie ao posto de comandante de uma equipe com tantos bons valores a serem orientados, motivados ou lapidados.

Montar uma boa proteção à zaga, fazer o meio ficar com a bola, tocando com velocidade e ocupando espaços para criar oportunidades para o ataque finalizar é o desejo longínquo da torcida. Vimos algumas vitórias no carioquinha com Drubscky, mas nenhuma atuação que merecesse destaque pelo aspecto tático.

Temo apenas que uma sequência de derrotas derrube mais uma vez o “planejamento” e entremos no círculo vicioso de contratações açodadas, atendendo a pedidos passionais de uma torcida que quer ver muito mais de seus guerreiros do que aquilo que vem sendo oferecido na arena das quatro linhas.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: google

voleio guis saint martin 27 04 2015