Prezado tricolor: este não é um texto sobre o Vasco.
Mas o atual estado das coisas em São Januário é muito educativo e merece ser olhado com atenção.
Eurico Miranda é basicamente um ditador. Eleito pelo povo. Recai sobre a eleição dele a acusação da existência de um (o termo usado é esse, pasmem) mensalão, onde cerca de 2.500 novos sócios entraram para o clube no mês limite para que participassem da eleição que o trouxe de volta ao “trono”. O fato é que a eleição valeu e ele lá está até 2017.
Está velho, visivelmente ultrapassado, doente, fraco.
O que o faz reinar absoluto? Dois filhos. Uma diretoria fraca em personalidade, tão velha quanto o líder mas absolutamente fiel, incapaz de questionar qualquer uma das suas ordens, por mais estapafúrdias que sejam.
A inexistência de quem o questione de igual para igual. Oposição verdadeira.
Ele pode fazer o que quiser. Manter, como fez esta noite, para incredulidade de praticamente todos os vascaínos, o Roth no cargo. Pra vocês terem uma ideia, ontem, numa dessas pesquisas na internet, 97% das respostas pediam a saída do técnico. Bem sei que essas pesquisas não valem de nada, mas nunca tinha visto uma unanimidade tal em nenhuma dessas.
Pois bem, isso, para o Rei-Sol não significa nada. Ele não presta contas a ninguém. Ele não tem de dar satisfação a ninguém. Então faz o que lhe der na telha. O que mais interessar. E em alguns momentos, como esse de ontem, parece agir exatamente com essa intenção: esfregar na cara de quem o desafia o seu poder.
E para algumas pessoas, o poder é muito pior do que o dinheiro. Ele vicia. Corrompe. Assim, o pirralho dono da bola de futebol se acha no direito de escolher o time e levar a bola embora se for desagradado. O porteiro fecha a porta e se torna o dono da chave. O flanelinha é o real proprietário das vagas da rua. O síndico… Ah, o síndico…. Morei num prédio com 120 apartamentos. A síndica levava para as reuniões quarenta e duas procurações. As votações começavam então de 42 a 0. Praticamente impossível de se fazer algo coletivamente que contrariasse sua excelência.
É esse tal do poder que motiva muitas das pessoas que você conhece a sair de casa e trabalhar. Aquele cara rico, que poderia parar de trabalhar e curtir a família, aproveitar a vida, viajar o mundo. Mas ele não faz nada disso. Segue na sua vida, no seu posto, porque é esse poder que o move.
Concluindo: é muito importante, em qualquer estrutura da sociedade, um equilíbrio de forças. Ter alguém com a capacidade e a autonomia de questionar aquilo que está sendo feito. É claro que o contrário também é verdade. Costumo dizer que toda democracia é maravilhosa desde que haja, no fim das contas, alguém para dar uma porrada na mesa e decidir. Porque senão as coisas empacam. E aí, se sofre pelo problema oposto. Em vez de um ditador, a falta de um decisor.
A oposição é sempre necessária. Mesmo que tudo caminhe bem. Que o síndico seja uma maravilha. Porque em algum momento poderá deixar de ser. Pode lhe subir à cabeça essa sensação de majestade, de poder tudo, de falta de questionamento. E ai, numa situação dessas, reverter o quadro se torna tarefa quase impossível.
Não há horizonte à vista em São Januário. Luz no fim desse túnel.
É muito bom prestar atenção no contra exemplo do Vasco. É bem didático.
Abraços.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: dm
Catalano, saudações.
O exemplo do Vasco serve muito bem ao tricolor. Tem gente por aí querendo que o Celso Barros assuma a presidência do Fluminense. Se não será um Eurico, ao menos será alguém que sabemos adorar ter o poder de decidir os rumos do clube ao seu bel prazer, como já fazia quando era patrocinador. Jamais terá o meu voto. Abraços!
mas Eurico foi eleito democraticamente em todos os pleitos do Vasco, inclusive neste último, portanto os vascaínos vão ter que engolir este impositor de regras ao Vasco, até que o clube cerre suas portas. – estou repetindo o que ouvi esses dias de alguém –