O destino de Drubscky no Fluminense já estava escrito desde antes de sua contratação. Quais as mãos que o carregaram ao posto? O que pensavam os cartolas quando de sua admissão? Drubscky não saiu porque seus resultados foram ruins, caiu porque se percebeu que ele não deveria ter sido contratado tarde demais.
Drubscky é um acadêmico do futebol, um estudioso. Entretanto, dizem que teoria é quando se sabe tudo, mas nada funciona. Sua carreira exemplifica um pouco desse pensamento e seu currículo nunca o credenciou a assumir um clube com a grandeza do Fluminense.
Decisões erradas como essas custam caro aos combalidos cofres tricolores, além de demonstrar uma imensa falta de respeito com o profissional – Drubscky treina times ideais, com tempo e elenco para invenções e inovações táticas diversas, não equipes de ponta do desorganizado futebol brasileiro – comprovam a absoluta ausência de qualquer planejamento. Somos um barco à deriva.
Na lacuna deixada por Drub, torcedores pediam contratações caras e fora de nossa realidade. Esquecem-se de que o tempo das vacas gordas foi-se e, quando gordas eram, quem botava a grana tinha uma predileção por treinadores, no mínimo, questionáveis. Por outro lado, a diretoria não parece preocupar-se com o perfil de profissional no comando técnico. As ações são sempre para apagar incêndios provocados pelos erros da mesma diretoria.
Assim, há fazer-se uma avaliação. Temos time para o meio da tabela, não mais que isso. Mas, mesmo para isso, precisaremos suar. Treinadores mais experientes poderiam ajudar na montagem de um esquema tático defensivamente mais sólido, apostando na qualidade de Fred para decidir alguns jogos a nosso favor. Treinadores mais motivadores poderiam mexer com o ânimo de nossos outrora entediados milionários, resgatando o espírito guerreiro de outras ocasiões.
E então? Experiência? Motivação? Estratégia? Identificação? Um estrangeiro quem sabe? Quem está de sopa no mercado? Celso Roth? Cuca? Papai Joel? Renato? Quem sabe apostar na novidade, trazendo quem conhece o clube? Duílio acabou de ser campeão capixaba, Marcão trabalha com as divisões de base e Deco poderia receber um convite inusitado.
Com essas e outras peças na mesa, a diretoria surgiu com a contratação de Enderson Moreira. A pulga que mora atrás de minha orelha esquerda pergunta se há grande diferença entre ele e o Drub. De fato, Moreira não é um nome que empolga (na memória política, nem se fala!) ou que tranquiliza a torcida para projetar o longo e espinhoso caminho que temos à frente.
Contudo, Enderson não traz más lembranças. Contratado como auxiliar-técnico permanente, enquanto aguardávamos a chegada de Abel Braga, dirigiu a equipe por treze vezes (para a realidade do Fluminense, isso justifica o “permanente”), conseguindo um aproveitamento de quase 64% e realizando boas partidas na Libertadores daquele ano – exceção feita ao fatídico jogo contra o Libertad no Paraguai.
Com a chegada de Abel, Enderson percebeu que poderia voar mais alto em outros times. Foi campeão goiano e da série B pelo Goiás – títulos que já o diferenciam de Drubscky –, além de fazer uma boa campanha com o esmeraldino em 2013. No Grêmio, seu aproveitamento superior a 60% se não fez de sua passagem um sucesso também ficou longe de ser um fracasso. No Santos, ajudou a montar a equipe que se sagrou campeã do Paulistinha desse ano.
Seu último trabalho parece ter sido o pior de sua carreira nos últimos tempos. Depois de uma saída conturbada do Santos – relacionada a problemas no grupo, em especial sobre atraso de salários – assumiu o Atlético Paranaense em condições desesperadoras. Livrou o Furacão da segundona do estadual, mas não conseguiu acertar a equipe, sendo vaiado em boa parte dos jogos.
Enderson volta a um Fluminense diferente do que deixou. Os problemas financeiros são iguais ou maiores que os do Santos; a situação não é desesperadora como no Furacão, mas inspira cuidados. Não há dinheiro para contratações e boa parte dos medalhões com que trabalhou já se foram.
Cavalieri, Gum e, principalmente, Fred já trabalharam com ele. Na ocasião, conseguiu alinhar-se bem ao espírito guerreiro e montou uma equipe organizada taticamente. O que se espera é exatamente isso: que Enderson consiga aliar organização tática à motivação do elenco.
Se não é o treinador dos sonhos, que seja nosso treinador até o final do campeonato. Se não nos colocar na Libertadores, que seus esforços nos deixem no meio da tabela, porque, da forma como está o ano, já andamos com medo do pior. Moreira, teu nome é trabalho!
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PS: Na semana passada, elogiei Peter Siemsen pela coragem em recusar uma proposta de mudança do local do jogo contra o Corinthians e como isso nos comprometia a lotar o Maracanã. Eis que, depois da goleada contra o Galo, a diretoria anuncia um aumento de preço dos ingressos. Que lógica tem isso? Presidente, desculpe-me por ter elogiado sua recusa. Parece que eu entendi errado o que está no “planejamento” de vocês.
Panorama Tricolor
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Imagem: lancenet/guis saint-martin