Parece inacreditável mas não é. Se pensarmos bem, tudo o que aí está em termos do outrora imortal estádio era razoavelmente previsível.
Sua sequência de obras milionárias, até chegar à bilionária, em nenhum momento favoreceu o principal interessado: o torcedor que, por 60 anos, encheu o estádio. Ele foi encolhendo e alijando as classes populares, as que contavam qualquer moedas para verem seu time de coração – e às vezes até os adversários. Naturalmente, os novos colonizadores não tinham a mesma afeição: jogo virou “experiência”, torcida virou “sensação” e o resultado é que o plano padrão FIFA de gente sentada, adestrada e aplaudindo como se estivesse em Wimbledon, deixou entrar água.
Nesta década de 10, conta-se nos dedos de uma das mãos a temporada regular do Maracanã. Já temos uma geração de crianças que se tornou jovem adulta sem qualquer intimidade com o estádio, e vemos outra surgindo que só o conhece por ouvir falar às vezes. Dizem que são os tempos modernos, dos novos negócios, mas porque o ascendente futebol alemão caminha na direção contrária?
O Maracanã viveu dos clássicos, e nos últimos tempos eles viraram vaga lembrança. A TV não se preocupou muito: ela paga caro para conseguir sua espanholização e o que lhe importa se o torcedor não está na arquibancada? Para ela, televisão seu lugar é em frente à tela.
O Maracanã precisa ser salvo, mas que ninguém conte com os podres poderes. Os clubes precisam tomar o processo à frente, antes que seja tarde. A cada ano que passa, mais brasileiros são indiferentes ao futebol. Há setenta anos, nem se falava de futebol nos jornais. O Rio não resiste a uma década de abandono do seu esporte maior (quero dizer, maior por enquanto). E digo clubes porque Vasco e Botafogo não podem contar exclusivamente com os respeitáveis São Januário e Engenhão.
Há quem diga que reavivar o Maracanã é insistir em saudosismo. Se nada for feito, resta saber quem terá saudades de um elefante branco depredado em 2050. A cada ano que passa, o futebol rivaliza mais com outros esportes em ascensão, entretenimentos e outros. A turma do trem sumiu: era ela quem abarrotava o Maracanã.
Se o estádio é caro demais, que sofra um corte de custos, a começar por milhares de sujeitos que ficam espiando onde você bota o pé, onde para, se peidou e te fazem perguntas como se você fosse um autêntico pateta que jamais pisou no Maracanã.
Popularizar setores, tirando cadeiras, barateando preços e permitindo a interligação outrora conhecida como “migração são pequenos detalhes que de saída, podem ajudar na recolonização do nosso patrimônio maior do futebol. Convênios com escolas, promoções, aproximar o torcedor do estádio que lhe foi tomado há quase uma década. Facilitar o transporte e o acesso. Não vai ser nos jogos de quarta feira à tarde em Edson Passos, com todo respeito ao querido America, que o futebol carioca vai recuperar seu prestígio.
O Maracanã foi pago com dinheiro do povo que, agora, está impedido de frequentá-lo. Parece inacreditável. Ele é lugar de jogo, de torcida, de futebol e de história. Resgatá-lo é imprescindível para a Cidade, o Estado e o País. Não adianta ficar de braços cruzados diante da falta de vergonha na cara dos políticos e dirigentes envolvidos, até porque alguns estão em merecida cana. É preciso atitude para ontem.
Panorama Tricolor
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Imagem: rap