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Amigos, amigas, à luz da astrologia, o inferno astral se inicia trinta dias antes do aniversário da vítima desse período. Não é, necessariamente, marcado por revezes e episódios catastróficos, mas como um período de medos e insegurança, que caracterizam o fim de um ciclo. A julgar por esse aspecto, o inferno astral do Fluminense sequer teve início, uma vez que o aniversário do Prêmio Nobel do Esporte acontece no dia 21 de julho.
Você pode acreditar ou não em astrologia. Eu, particularmente, não me atrevo a aderir ou refutar aquilo que não entendo. Portanto, apenas recorro à referida disciplina para introduzir o tema que tem assombrado nossos corações e feito balançarem os nossos alicerces. Pelo fato, inclusive, de, segundo à astrologia, ser o inferno astral um período propício para a reflexão.
Se é assim, levando em conta que o inferno astral do Fluminense parece ter sido acometido pelo vírus da precipitação, devemos, então, tomar a atual conjuntura como um convite à reflexão sobre o que nos trouxe até aqui. Porque, em que pesem os movimentos e fundamentos astrológicos, sabemos que o que vivemos no presente é o produto das decisões que tomamos no passado, do mais longínquo ao mais recente.
A nova lesão de Alexsander, que custará mais no mínimo três meses de afastamento, nos diz que devemos tirar esse atleta do radar, porque nossas demandas se impõem no curtíssimo prazo, mas não é sobre o futuro, nem o próximo, tampouco o distante, que devemos construir nossas reflexões, mas sobre o que nos trouxe até aqui. Pelo menos, esse é o propósito dessa tentativa de análise do momento atual do Fluminense.
Devemos buscar a compreensão da causa de estarmos reclamando de que não acaba nunca aquilo que não deveria ainda sequer ter começado. O que nos leva à conclusão de que esse inferno astral que vivemos não tem relação com influência dos astros, o que nos desafia a esmiuçar as verdadeiras razões, que estiveram parcialmente ocultas ao longo de um primeiro quadrimestre alvissareiro para as três cores, quando o time de Fernando Diniz chegou a ser apontado como o melhor da América do Sul, talvez de forma precipitada, por muitos analistas, desde os mais renomados ao articulista da Gazeta de Passa Quatro.
A sucessão de lesões, ao ponto de termos iniciado a última partida com a ausência de cinco ou seis titulares, não pode ser descartada, sob o risco de incorrermos na desonestidade intelectual, não obstante ser essa mesma sucessão de lesões passível de ser questionada. Afinal, o que andam fazendo o departamento médico, a fisiologia, a preparação física e o comando técnico? Qual é o papel desses elementos nesse desastre que estamos presenciando?
São respostas que só podem dar os mesmos elementos envolvidos na rotina da atualmente desmantelada equipe, ao contrário das demais, que estão todas, sem tirar nem pôr, apontando para a política do clube. A velha política da banca, que eu já denunciava lá pelos idos de 2015, em que interesses nada esportivos, para ficarmos nos eufemismos, predominam sobre os legítimos interesses da instituição Fluminense.
O planejamento do Fluminense para a temporada foi contratar uma penca de jogadores que mal tinham lugar no banco de reservas dos seus times. Isso, entre veteranos e novatos, incluindo o próprio Marcelo. Ao mesmo tempo em que jogadores com alto potencial de serem úteis foram dispensados, emprestados para outros clubes. A que se soma a incrível má vontade em dar espaço aos jogadores da base, cuja experiência nos mostra serem produtos da fonte que melhor nos vem abastecendo há anos, sobretudo quando os elencos mal elaborados naufragam ao longo da temporada, seja por ruindade, seja pelas comezinhas perdas na janela do meio do ano.
Ficarei nos fatos, não recorrerei aos exemplos, tanto para não ser prolixo, quanto por saber estar escrevendo para quem já está careca de saber do que eu estou falando. A política do futebol do Fluminense se apoia em teses que não param de pé. Não vou repeti-las aqui, assim como não vou me dar o trabalho de enumerar as contratações estapafúrdias, risíveis quando confrontadas por qualquer análise honesta de relação custo-benefício. Não falo só de contratações, mas também de renovações de contratos de jogadores de inutilidade fartamente comprovada.
Não vou entrar no mérito das tais comissões a representantes de atletas por transferência e até por assinaturas de contratos, mas causa uma dor profunda vermos a fortuna que é gasta com essa rubrica para incorporarmos ao nosso elenco jogadores que nada têm a acrescentar aos nossos objetivos futebolísticos. E, não sei se o pior de tudo ou só mais uma mazela, é que eles ainda entram em campo para jogar.
O que temos no Fluminense é uma gestão irresponsável e temerária dos recursos, lesiva aos nossos interesses financeiros. Não tenho como não lembrar de reportagem, já nem tão recente assim, dando conta do “incrível” superávit obtido pelo Fluminense no exercício passado. Uma aparentemente excelente notícia, ao final da qual se escondia, nos últimos parágrafos, a verdadeira e péssima nova, qual seja de que a nossa dívida aumentou em cerca de R$ 50 milhões.
Que tal, então, o pronunciamento do nosso preclaro presidente (parafraseando meu amigo Luizinho), gabando-se de ter pagado mais de R$ 200 milhões em dívidas ao longo de dois anos, sendo que a mesma dívida continuava do mesmo tamanho? Um jogo de semântica ardiloso, em que, embora dizendo a verdade (os R$ 200 milhões foram pagos), o alcaide mentia ao gerar uma associação indevida entre pagamento e amortização. Tempos bons, em que trocávamos dívidas e o passivo permanecia inalterado, diferentes do atual, em que ele só aumenta. E vai aumentar novamente esse ano, não tenham dúvidas disso. É só olharmos para a óbvia elevação dos gastos com o elenco. Uma elevação de gastos, exceto pela valorização dos ótimos jogadores do elenco atual, absolutamente inútil e nociva aos cofres do Fluminense Football Club.
Nosso inferno astral é nada mais que a revelação de que não pode dar bom resultado a combinação de falta de planejamento com má gestão de recursos. O Campeonato Brasileiro já foi pelo ralo, porque não temos elenco para isso, e a própria Libertadores, que ainda podemos ganhar, é um objetivo seriamente comprometido, com o risco de sequer chegarmos à próxima fase.
O maior erro que podemos cometer nesse momento é deflagrar a caça as bruxas, que, na verdade, há muito já foi deflagrada, porque essa é a nossa natureza. Não pode haver uma mazela, que é preciso que a ela correspondam um ou mais culpados, contanto que não sejamos nós. Se é assim, que se culpe a verdadeira responsável, a política do clube, que vem sendo mantida com o carimbo do nosso voto. Ou, em outros tantos casos, com a ausência dele, o que nos leva a pecar, a maioria (com honrosas exceções), por ação ou omissão.
Em que pesem as boas realizações, sejam elas do marketing, do jurídico ou até mesmo do futebol, o rumo proposto pela atual gestão do Fluminense não para de pé. Eu vinha defendendo aqui a tese de que possivelmente a ideia em curso buscava a geração de um círculo virtuoso, mas que ele não viria com a insistência na péssima gestão de recursos e falta de planejamento honesto no futebol. Não sobrevive a isso uma empresa, um governo e sequer uma igreja, não será diferente com um clube de futebol.
Aqueles que ainda estão dormindo, é hora de acordar. Estamos vivendo de uma ilusão de grandeza que não se sustenta nos fatos. Perdemos a chance de transformar um grande achado, que foi o time de 2022, sob o comando de Fernando Diniz, nesse círculo virtuoso. Preferiu-se, ao contrário, a manutenção e o fortalecimento do círculo vicioso da banca, apoiado em uma máquina de manipulação, intimidação e mentiras.
Essa é a causa, amigas, amigos, do inferno astral antecipado que estamos vivendo, que parece não ter prazo para acabar, ainda que minha torcida seja para que acabe, contrariando os atuais prognósticos. E não me venham com contratações. Cada vez que ouço falar nelas, a única coisa que vem ao meu coração é o pesar por mais gastos inúteis, que nutrem outros gastos igualmente inúteis e nocivos, que vão comprometendo, a cada dia, a própria existência do Fluminense no médio prazo.
Saudações Tricolores!