O assunto pode parecer repetitivo, maçante, mas é necessário que seja rediscutido.
Em que pese a amiga e cronista aqui do Panorama Tricolor, Crys Bruno, com o brilhantismo que lhe é peculiar, ter traçado com absoluta propriedade o perfil do treinador Cristóvão Borges na sua crônica “O perdido e o passivo”, de 25 de fevereiro, não posso me abster de, também, tecer algumas considerações sobre o nosso comandante.
Cristóvão já deveria ter sido demitido após o fim da temporada de 2014. Manteve-se no cargo após, inicialmente, ter dobrado a sua pedida salarial – de duzentos para quatrocentos mil reais mensais – e, posteriormente, ter recuado, ante a perspectiva negativa de dificuldades financeiras que se avizinhava com a notícia do rompimento unilateral do então patrocinador-master do Fluminense, a Unimed.
Talvez as novas diretrizes impostas pela necessária redução das despesas tenha dado à torcida tricolor alguma tolerância em relação à sua permanência para 2015, uma vez que, pelo menos, era um nome que já conhecia o grupo e poderia começar um trabalho desde o início da pré-temporada, circunstância que lhe daria a oportunidade de escolher nomes para compor o elenco e interagir com o grupo desde a sua formação. Além disso, aceitara manter seu salário, enquadrando-se na nova política de gastos do Fluminense.
Confesso que, diante daquele quadro sombrio, eu mesmo entendi que Cristóvão era a opção mais viável para comandar o Fluminense. Fiz vista grossa ao seu passado recente como treinador do Flu, aos vexames monumentais a que fomos submetidos na temporada passada, e aceitei passivamente a sua escolha, dando-lhe novo crédito de confiança.
O início desta temporada, porém, indicia que as suas crônicas deficiências persistirão. Embora tenha tido tempo suficiente para treinar e avaliar os recém-chegados e a vantagem de já conhecer a espinha dorsal da equipe, Cristóvão ainda não conseguiu dar ao time um padrão tático. Algumas vitórias sobre adversários fraquíssimos encobriram a sua debilidade profissional, descortinada por ocasião das duas últimas partidas, quando enfrentou a melhor equipe dentre as consideradas de menor investimento e o primeiro clássico, sucumbindo em ambas as oportunidades com um futebol abaixo da crítica.
Cristóvão é treinador de uma nota só, criador de uma estratégia defasada e previsível – bolas ao Fred -, que não foi capaz de se reinventar, de recursos escassos e que raramente consegue desconstruir a estratégia de um adversário que possua um sistema defensivo sólido ou, mesmo, alterar um panorama adverso dentro de uma partida.
O Fluminense não precisa de mais um enganador, precisa de um profissional que explore o potencial de uma equipe tecnicamente qualificada – mesmo após a saída de importantes jogadores – que não produz como poderia e deveria e que esteja à altura da sua grandeza. E esse é um problema de quem decidiu trazê-lo e mantê-lo ao privilegiar a política do “bom, bonito e barato”, política que, ao menos quanto à escolha do comandante, se mostrou equivocada e incompatível com a história grandiosa do Clube.
Aí está a chamada economia porca. Esforços foram envidados para que jogadores como Cavalieri, Gum Jean, Fred e Wagner renovassem seus contratos, mas o principal, por onde tudo começa, foi esquecido. A garantia de um Fluminense minimamente competitivo em 2015 passará, necessariamente, pela escolha de um novo treinador, qualificado o suficiente para dar ao tricolor um rumo diferente deste que vem tomando.
Neste ponto, não se prega qualquer loucura, afinal de contas, no fantasioso e inflacionado mercado do futebol, nem sempre o mais caro é o melhor. Mas, quando um Doriva, com todo o respeito ao Doriva, consegue dar a um time medíocre como o do Vasco, uma organização tática e uma disposição que não se viu nos comandados de Cristóvão, é possível acreditar que bons treinadores – e nem tão caros assim – estejam em algum lugar deste imenso país à espera de uma oportunidade para mostrar o seu valor num clube como o Fluminense.
Um bom técnico é investimento, não é despesa. Um profissional arguto, experiente, estrategista, poderá aproveitar melhor o potencial de que dispomos e dar à equipe um sentido coletivo de organização dentro de campo, algo que não se vê há longo tempo.
Enquanto insistirem com Cristóvão, qualquer avaliação que se faça sobre os novos jogadores contratados poderá ser precoce e precipitada. Em boas mãos, alguns desses que hoje são questionados, podem se revelar muito mais úteis à equipe. E aí está uma das principais diferenças entre um treinador de verdade e um impostor.
Faço coro, portanto, à sua demissão como forma de dar ao Fluminense, no mínimo, esperança de uma temporada competitiva. A sua permanência nos relegará a um patamar inferior, distante daquilo que deve pretender um clube vitorioso em qualquer competição que dispute.
Por outro lado, não creio que o recrudescimento do nome de Abelão, abertamente veiculado nas redes sociais após a derrota para o Vasco, seja a solução ideal. Seu estilo “paizão” e protecionista não se coaduna com a formação de uma nova equipe, em que somente ascendam à titularidade aqueles que tiverem mérito para tanto.
Imagino sangue novo. Alguém que possa dar ao Flu uma cara diferente daquela que se viu nos últimos anos. Por isso, é bom que já se pense num substituto, uma vez que este combalido campeonato carioca, se não predestina ninguém ao sucesso no restante da temporada, ante a notória fragilidade dos adversários, serve, contudo, para mostrar deficiências explícitas que, não corrigidas, poderão acarretar ônus elevados futuramente.
Panorama Tricolor
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Imagem: google
#SejasóciodoFlu
Concordo com tudo. Ainda vou mais longe: só precisamos de um treinador que acabe com as substituições esdrúchulas (evitando ao máximo a improvisação de jogadores) e com a linha de impedimento. O padrão de jogo não mudaria – continuaria ruim – mas os resultados sim e o fantasma do rebaixamento iria embora. Qualquer coisa além disso seria um grande lucro.
Obrigado pela leitura e considerações. Acho difícil alguém que substitua e enxergue tão mal uma partida como o Cristóvão. Exemplos disso são Doriva e René Simões, que são fracos, mas conseguem dar um padrão de jogo melhor aos seus times do que Cristóvão conseguiu dar ao Flu, mesmo há um ano no comando. Um abraço e ST