Falecido neste domingo após doença súbita e fulminante, Artur Xexéo foi um marco nos quase 40 anos em que imperou na imprensa brasileira. Sumidade em referências culturais dos anos 1940 em diante, editor de veículos jornalísticos de sucesso, cronista e dramaturgo de mão cheia, com os pés fincados simultaneamente em Hollywood, no Cassino da Urca e em Bento Ribeiro.
Um dos exemplos típicos da carioquice competente com a marca do Bairro Peixoto – e depois em Vargem Grande -, marcou época no velho Jornal do Brasil e em O Globo. Depois, em sua década final, alcançou um sucesso ainda maior por conta de sua presença no canal GloboNews e, mais recentemente, nos comentários do Oscar.
Torcedor do Fluminense, Xexéo deixou uma lição quintessencial para qualquer pessoa que pretenda atuar como cronista de verdade – o que repele qualquer tirada verborrágica -, já ensinada antes por Miles Davis: menos é mais. Foi o que vez com seu texto, simplificado e abrangente ao máximo.
Há pouco, a mesa da GloboNews que cobre a perda de Xexéo bem lembrou da semelhança de seus textos com os tons de Ivan Lessa, um dos maiores cronistas brasileiros da história. Guardadas as naturais hipérboles, a comparação é justa e, ainda que Lessa não tenha deixado sucessores literários, é certo que muito da escrita de Xexéo remetia de certa forma à do ponta de lança do Pasquim.
Falando de Fluminense e, por isso mesmo, de excelência, Xexéo é um dos grandes da escrita que se emaranhou pelas três cores da vitória. Neste campo, sua ausência é naturalmente sentida mas fica a compensação de que temos outros pilares jornalísticos a nos guiar por muito tempo na arquibancada – e aí estão nomes expressivos como os de Marcelo Janot, Affonso Nunes e Bernardo Araujo que não me deixam mentir, dentre tantas figuras importantes.
O Fluminense de Xexéo é o mesmo de suas paixões culturais – a música, o teatro e as letras dos anos 1950 e 1960. Então pensamos em Didi, Castilho, Pinheiro, Telê, Waldo, Altair e tudo nos remete ao título de campeões do mundo, do Rio x São Paulo, de um Maracanã lotado e cheio de vida tricolor por todo lado, em meio a um país que tinha tudo para dar certo, cujo símbolo era o Rio de Janeiro da Bossa Nova, que depois seria a decolagem do Cinema Novo e de tanta arte impecável. Foi um Rio que passou em nossas vidas e que carregou nossos corações.