http://blogdojuca.uol.com.br/2014/01/como-ja-dizia-o-mestre-armando-nogueira/

Ao referir-se aos que lhe cobram simplesmente a busca do contraditório no caso Gávea-Canindé, utiliza um expediente mofado: quem não concorda com sua posição de dono do mundo, senhor supremo da informação a ponto de poder escolher o que deve ou não virar notícia no mundo do futebol brasileiro, aponta o caminho de sandices e de quem não sabe o que está falando. Ou ignorantes que não sabem escrever.

Desqualificar idéias opostas com ofensas é a fotografia exata de quem não tem argumentos para encobrir uma Torre Eiffel de coincidências, tudo simplesmente por vaidade. Ou oportunismo: atacar a CBF pode ser um excelente negócio em época que o mundo do futebol mira o Brasil. Não que a entidade seja um mar de rosas, longe disso. Mas que é bem estranho, é.

Inevitável não pensar no antropólogo Roberto DaMatta e seu famosíssimo ensaio “Sabe com quem está falando?” (1981) por meio de uma pequena adaptação.

“Um deles é o aspecto escondido ou latente do uso (e aprendizado) da expressão, quase sempre vista como um recurso escuso ou ilegítimo à disposição dos membros da sociedade brasileira.”

“Outro traço do “sabe com quem está falando? é que a expressão remete a uma vertente indesejável da cultura brasileira.”

“Tomamos, então o partido de sempre privilegiar nossas vertentes mais universalistas e cosmopolitas, deixando de lado uma visão mais percuciente e genuína dos nossos problemas. Aliás, será mais correto dizer – mesmo sob pena de estarmos realizando uma digressão longa e prematura – que as camadas dominantes e vencedoras sempre adotam a perspectiva da solidariedade, ao passo que os dissidentes e dominados assumem sistematicamente a posição de revelar o conflito, a crise e a violência do nosso sistema. O erro, e isso nos parece evidente, é perder de vista as dialéticas da vida social e tomar uma das posições como certa, achando que somente ela representa uma visão correta da nossa realidade social.”

As diversas perguntas que cercam o caso Gávea-Canindé há 45 dias estão muito longe de serem apenas sandices ou afirmações de quem não sabe o que diz. Muito pelo contrário: sandice seria dizer que tudo foi mera obra do consórcio acaso-desatenção-burrice, arquitetada pelo Fluminense para implantar a república da antiética no futebol brasileiro. Foi tudo sem querer… foi tudo coincidência…

Rejeitar veementemente a simples hipótese de algo errado na incrível coincidência André Santos-Heverton é desafiar o cálculo das probabilidades sem o amparo da ciência em si.

Mais incrível de tudo é Juca buscar o amparo para seus argumentos numa nota escrita em agosto de 1971 por Armando Nogueira, menos depois de dois meses da decisão do título carioca onde o Tricolor saiu merecido vencedor – e, aí sim, com a mágoa do torcedor. Por causa disso, 42 anos depois o Fluminense seria o grande vilão do futebol brasileiro em 2013/2014. Uma mistura de ódio, obsessão e incoerência.

É certo que Juca não precisava ter ido tão longe se queria insinuar maracutaias nos resultados do futebol brasileiro.

Bastaria a dignidade de olhar para o próprio umbigo, navegar na história contemporânea de seu time de coração. Sem fanatismos.

Rui Rei 1977? Dualibi 1996? Castrilli 1998? Edilson 2005? Sandro Meira Ricci 2010 – hoje, um exemplar FIFA?

Deixando o coração de lado, Juca poderia apenas mostrar respeito à profissão e aos que lhe permitiram triunfo econômico – os leitores -, até explicar com argumentos substanciados e não pueris, ofensivos e desrespeitosos para com os que não lhe dão total concordância, porque concluiu que a incrível coincidência da rodada 38 do campeonato brasileiro 2013 foi, em sua opinião de dono do mundo, mera obra do acaso – motivo de riso para qualquer estudante de segundo grau que tenha noção elementar do cálculo de probabilidades.

Ao tentar diminuir o valor de quem não lhe faz eco, Juca tropeça feio.

Afinal de contas, ninguém é obrigado por decreto a acreditar que a mais incrível coincidência da história do futebol brasileiro seja apenas uma história da carochinha.

A negação do contraditório com imensa repulsa causa estranheza demais, pelo menos para os que são dotados de senso crítico e não aceitam a ditadura da vertente única.

Panorama Tricolor

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