Começou ontem a Champions League.
O Real Madrid meteu meia dúzia de gols no campeão turco. O Manchester United quatro num alemão. Paris Saint Germain quatro num time grego. Só a Juventus teve um tropeço na Dinamarca.
Estes números evidenciam o poder do dinheiro no nosso esporte favorito. O futebol continua sendo talvez o único esporte em que um time de 3a, 4a divisão consiga, num dia inspirado, vencer um time grande.
Porém, o dinheiro, sempre o dinheiro, está cada vez mais desequilibrando esta equação.
Mesmo times maiores, ditos formadores, que não têm saúde financeira, vêem seus jogadores, ainda no patamar de promessas, irem embora sem que consigam segurar suas crias.
A tal Lei Pelé, tida como avanço, foi na verdade um enorme retrocesso para o futebol. Antes, os jogadores tinham seu passe preso aos clubes. Agora, estão presos a empresários, grupos de investidores, empresas… E se você joga muita bola mas não é comprometido com uma dessas entidades, provavelmente não achará lugar para brilhar no futebol.
Isso explica o inexplicável nos campos de futebol. Como pode Fulano ser banco e Beltrano continuar sendo seguidamente escalado?
Há muitos anos – o tempo passa rápido – uma amiga convidou a mim e a minha mulher para irmos a um churrasco na Barra. Lá chegando, descobri que a dona da casa era filha de Jair Pereira, que lá apareceu pra conversar conosco. Alguém perguntou logo de cara por que ele não estava mais treinando times grandes do Rio (na época, um dos quatro estava em crise aguda. Não lembro qual). Disse que não era ligado a nenhum empresário e que, com isso, ao surgir uma vaga, seu nome não era sequer cogitado.
Um cara que foi técnico de seleção brasileira, que sabidamente entende de futebol (muito mais do que muito técnico que temos por ai hoje) que caiu no completo esquecimento devido a não querer depender de empresários.
Ainda há um equilíbrio no futebol brasileiro pois todos os clubes, com raríssimas exceções, estão endividados até o pescoço.
Ironia do destino, isso acaba sendo uma boa coisa, pois isso ajusta a balança, desequilibrada por favorecimentos de grandes veículos de comunicação aos considerados “mais queridos”, aos que “vendem mais jornal”.
O objetivo destes é transformar o Brasil em Espanha, onde dois clubes, anos-luz mais ricos que todos os outros, polarizam a disputa do campeonato. Vez por outra, um dos clubes “menores” – Athletic Bilbao, Atlético de Madri, Valência… produz um brilhareco. O La Coruña, campeão em 2000, está na segunda divisão.
Para ilustrar este desequilíbrio, as transmissões de futebol nas tardes e noites. Sem medo de errar, mais da metade dos jogos da rede aberta aqui pra Brasilia até agora são de um mesmo time. Como ensinar seu filho a ser Vasco, ser Fluminense, se não passam jogos do seu time, se só transmitem jogos daquele time?
Tomara que, um dia, surja no jornal o arrependimento por ter torcido tanto por estes…
Enquanto isso, torçamos para que o equilíbrio de forças reine e possamos ter o que temos ainda: um campeonato – sem redundância – equilibrado.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
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