Fernando Diniz, nosso treinador favorito ou não, vive um momento no mínimo curioso no Fluminense.
Vamos fazer um exercício de análise do trabalho do treinador nas duas passagens pelo nosso Tricolor.
Na primeira passagem, Diniz fez a equipe apresentar um futebol envolvente, com toque de bola encantador, porém, pouco produtivo ofensivamente.
Em 2019 fizemos jogos emblemáticos. Uns positivos como a vitória sobre o Nacional de Medellin na Sul Americana por 4 a 1, com a então promessa João Pedro marcando três gols e a equipe jogando por música. O outro é o “psicótico” jogo com o Grêmio, que perdíamos por 3 a 0 no primeiro tempo e depois viramos para 5 a 4 nos acréscimos, este pelo Brasileirão.
A equipe tinha um Nino novinho, mas já virtuoso, com Matheus Ferraz na zaga, Ganso e Daniel no meio, com Allan de destaque e a dupla de ataque inspirada com Luciano e Yony Gonzalez (João Pedro entrando em alguns momentos).
A equipe no Brasileirão 2019 fazia jogos cativantes, mas também jogos bem intrigantes como contra o São Paulo, onde a equipe finalizou 18 vezes com 67% de posse de bola mas perdeu por 2 a 1 em pleno Maracanã. E a situação piorou quando Luciano, Caio Henrique e Everaldo foram negociados. Em outro jogo incrível no Maracanã, o Fluminense novamente massacra seu adversário como trocentas chances, um número absurdo de posse de bola, mas perde pro CSA por 1 a 0.
Apesar do belo futebol apresentado e do domínio que impunha aos adversários, com a sequência de resultados negativos Diniz é demitido do clube em 2019, com o Fluminense perto da zona de rebaixamento.
Todos a época reconheciam potencial em Diniz mas viam que a equipe ficava muito vulnerável e não conseguia transformar em gols as oportunidades.
Diniz saiu, perambulou, brilhou no São Paulo mas sucumbiu no fim manchando sua passagem por lá com brigas com o elenco. Passou por Vasco e Santos também. Em 2022 com instabilidade da equipe de Abel Braga, que não vinha bem na Sul Americana e já tinha fracassado na pré Libertadores 2022, o então técnico do Flu é demitido e Diniz retorna ao clube, onde muitos assistem sua contratação sem qualquer ânimo.
Confesso a vocês que fui um dos poucos a época que gostei da vinda do técnico Fernando Diniz, pois acho que o trabalho dele tinha conteúdo e, com jogadores de melhor qualidade, poderia ter êxito.
E de alguma maneira no ano de 2022, apesar de alguns percalços no meio do caminho a equipe quase conseguiu se classificar na Sul-americana, chegou às semifinais da Copa do Brasil e faz a melhor campanha do Flu no Brasileirão nos últimos dez anos, ficando em terceiro lugar, jogando muito bem e encantando a torcida.
Pela primeira vez teríamos Fernando Diniz fazendo uma pré temporada e podendo escolher os jogadores para formar o plantel da temporada 2023.
A equipe montada por ele, apesar de alguns veteranos, começa a dar resultados e a consagração vem com o “esculacho” sobre o maior rival na final do Carioca, vencida pelo Flu por 4 a 1 com um show de bola de Marcelo e cia.
Naquele momento o Fluminense praticava o melhor futebol do continente, Diniz era exaltado por toda a mídia e até velhos haters que achincalhavam seu trabalho se derretiam com seu modelo de jogo.
Passamos o carro no River, estreamos aplicando um passeio no América-MG e vencemos com autoridade o Cruzeiro no Mineirão, empolgado com seu retorno a Série A do Brasileirão.
Com certeza, há um ano Diniz era a coqueluche, a referência… Mas vieram algumas derrotas, algumas contusões, o treinador se enrolava na escalação e na manutenção do seu sistema de jogo.
Observo que, no meio do ano passado, o Fluminense passou por uma fase muito ruim, sem alternativas de saída de jogo, sem intensidade e com uma única maneira de jogar.
Com as derrotas e cobranças começou a aparecer um Diniz destemperado ao extremo, rude no tratar com a imprensa e sendo expulso em vários jogos das competições diversas.
Alguns jogadores que vinham contundidos e outros em má fase técnica voltam a jogar melhor. A equipe tem uma nova boa sequência mantendo vivo o grande objetivo, a América.
Mesmo com alguns problemas e teimosia do nosso treinador, conseguimos ser campeões da América com Diniz finalmente sendo reconhecido como um técnico vencedor dentro do futebol brasileiro.
O título, ao invés de trazer calmaria e até uma melhoria em seu temperamento e também no seu modo de colocar a equipe em campo, piorou tudo com uma verdadeira salada que confunde a todos.
O planejamento inicial de 2024 era vencer a Recopa e jogar com os reservas o Carioca até a sétima rodada. Planejamento esse quebrado, não sei porque, na quinta rodada, onde ele põe os titulares contra o Bangu.
Resultado disso: éramos líderes com folga da Taça Guanabara e, com a saída dos reservas e entrada dos titulares, empatamos com o Boavista, com o Vasco, perdemos para o Flamengo e para o Botafogo em um jogo desastroso. Essa patacoada nos colocou em quarto lugar para enfrentar o Flamengo na semifinal, com a vantagem ficando para o nosso rival.
E aí vem todo o questionamento sobre o momento do Diniz. Nas semifinais ele escala uma equipe praticamente master, somos massacrados no primeiro jogo e perdemos somente de 2 a 0. No segundo jogo, ele improvisa de novo todo o sistema defensivo. Essa insistência em escalar muitos veteranos e de não colocar zagueiros de origem após a saída do Nino, é uma coisa que está desgastando a relação dele com parte da torcida. E eu pergunto: será que a forte esgotou? Será que tem de onde o Diniz tirar?
A estreia na Libertadores 2024 foi preocupante.
Ainda acredito no Diniz mas ele precisa se reinventar.
Na minha visão o sinal amarelo está ligado e nesse mês, com a sequência pesada de jogos de Libertadores e Brasileirão que teremos, uma eventual rotina de insucessos podem acabar de vez com a paciência dos torcedores (e a minha!).
O primeiro passo para evitar isso é nessa terça, com Maracanã lotado e apoio da torcida. É o que todos esperamos.