O conto de fadas da diretoria tricolor (por Vitão)

Começou a temporada de 2022. O conto de fadas da diretoria Tricolor tinha um enredo encantador: um time reforçado com jogadores de peso, manutenção das jóias mais brilhantes e as contas saneadas. O elenco tinha suas necessidades e todas eram bem visíveis, como as laterais, um reserva para o gol, um meia de criação e um centroavante. Vamos começar nossa reflexão pelo gol. Marcos Felipe, prata da casa, fez uma grande temporada no ano passado, sobretudo na Libertadores. O Flu precisava de um reserva de confiança para Marcos, afinal Muriel ganha um alto salário para ser o irmão do Alisson. Mas a diretoria, com o aval do nosso treinador, preferiu um goleiro caro, grande arqueiro, mas, friamente, um medalhão de 41 anos em sua última temporada. Hoje temos três goleiros, dois com grife e um deles com salário bem alto. Não era uma necessidade do elenco, mas essa foi a opção da corte e de seu rei que, infelizmente, comandam o Flu.

Na lateral esquerda, era preciso, enfim, trazer um jogador de verdade. Após a saída de Egídio e Barcellos, jogadores horríveis daquele empresário que é amigo da corte, foi prometido um grande jogador, Mais uma vez, com o aval do nosso treinador, chegou da Moldávia o tanque Cris Silva. Este chegou com grife, como um lateral de nível Champions League. Por um caminhão de dinheiro, desembarcou no Flu e o nosso treinador comemorava dizendo que era o ala técnico e ofensivo que seu esquema necessitava. Mas, até agora, o jogador não demonstrou nada. Muito pelo contrário, teve desempenho fraco em todas as fases do jogo. Pineida já se mostrou mais consistente, porém não pode ser escalado. Como vão justificar que o lateral de milhões da Champions League não tem condições de ser titular? Faz parte do modus operandi desta corte criar contos que encantam ao anoitecer e desencantam ao brilhar do sol.

Sobre o meio, mais equívocos e desperdício de dinheiro. Temos André, menino craque, maduro, revelação do Campeonato Brasileiro. Primeiro volante por natureza, o Velho tomou conta da meia cancha tricolor e se destacou pela saída de bola, pelo domínio do espaço e pela técnica refinada. Ainda temos Martinelli que brilhou ano passado e Calegari que é volante. Temos Yago que jogou muito em 2021 e também atua no setor. Sem contar os meninos da base que foram ignorados e alguns até emprestados, o que quase aconteceu com André. Ou seja, o Flu não precisava de um volante. Não era uma carência do elenco, nunca foi. Mas, adivinha o que a corte decidiu? Novamente, com o aval de Abel, veio Felipe Melo, mais um medalhão com idade avançada e salário gordo. Para justificar a contratação, nosso treinador mudou até seu esquema preferido. Admirador do 4-3-3/4-1-4-1, Abel se rendeu ao esquema com três zagueiros para encaixar Felipe Melo e André no time titular.

Outra necessidade era a vinda de um camisa dez, aquele jogador cerebral que pensa o jogo. Mesmo tendo Ganso eternamente no banco, atleta de grife e salário alto, subutilizado até a presente data, foi prometido pela corte e seu rei tal contratação. Para tanto, veio Nathan, reserva no Atlético/MG. O jogador é um meio campista de alto valor, o que se observa em seu vultoso salário. Ocorre que o time titular do Abelão não tem essa função. Sabemos de sua predileção por três volantes, basta lembrar que barrou Arrascaeta quando treinava o time de remo. Atualmente, Nathan é reserva do reserva. Ganso ganhou a titularidade no time alternativo que joga o Estadual, visto que esta equipe atua no 4-3-1-2 e conta com um enganche na ligação. Já Nathan, quando entra no time reserva, é alocado na ponta esquerda, posição que não exerce há tempos. Por qual motivo Abelão não interferiu nessa contratação? Se não usa o camisa 10 e no elenco já tem o Ganso como reserva de luxo, qual o motivo dessa contratação que não seja um pleito midiático? Não há.

No ataque, John Kennedy foi mandado para a Copinha e não para a pré temporada do time principal. Ficou nítido no comportamento do jogador, ainda no torneio de jovens, que isso não fez bem ao seu psicológico. Depois de desabrochar ano passado, inclusive brilhando em um Fla-Flu, esse seria o ano da consolidação. Mas, meio que jogado às traças, o jogador acabou quebrando o pé em um acidente caseiro e sua temporada foi para o ralo. Não estou eximindo o atleta de sua conduta totalmente anti profissional, mas que teve um incentivo institucional eu não tenho dúvida. Mais uma vez a corte preferiu trazer medalhões de grife com altos salários. Desembarcou no Fluzão o Bigode em final de carreira e Germán Cano, jogador com quase trinta e cinco anos que brilhou na Série B. Isso sem contar a contratação milionária de Caio Paulista e as renovações de Matheus Ferraz, Samuel Xavier e Wellington.

A discussão aqui nunca passou pela técnica do Fábio, do Felipe Melo ou do Bigode. A intenção foi analisar as necessidades do elenco e o custo/benefício das contratações realizadas. Se não existe dinheiro para pagar salário e, para tanto, tivemos que vender o craque do time, prata pura da casa, por alguns trocados, qual o motivo de contratar medalhões em fim de carreira com altos salários? Criar uma necessidade financeira para rifar as jóias do clube nesse balcão de negócios? Não existe qualquer explicação plausível para essa política autodestrutiva. Ser Fluminense é muito mais do que essa corte possa imaginar. Viver o Flu envolve amor, paixão e sonhos. Talvez por isso vemos muitos iludidos, literalmente caindo no conto do vigário proposto por essa corte e seu rei. Cabe ressaltar que no conto de fadas exposto no início da temporada, esse era o ano do time saneado financeiramente voltar a ganhar um título grande. Não é vendendo seu melhor jogador que marcharemos nesta direção.

A venda de Luiz Henrique caiu como um meteoro na cabeça do tricolor. Doeu, tirou do trilho, aumentou a pressão arterial de muitos. Estávamos embebidos por aqueles sonhos vendidos de forma convincente pela corte e seu rei E não feriu somente pelo valor ridículo atribuído ao menino craque, rei do drible imprevisível, mas por todo o enredo que se criou até a fatídica notícia. Na quarta, um gol antológico na Libertadores e a décima segunda vitória seguida. Teríamos, finalmente, uma mescla de jogadores experientes com jovens craques e o Flu campeão de algo relevante? Não. Os craques da base serão vendidos a preço de banana para que os salários altos dos medalhões em final de carreira sejam pagos em dia. Essa fórmula nunca vai terminar em títulos, conhecemos essa história há anos. A entrevista patética do rei só reiterou sua política equivocada. Ficou bem claro que a intenção é vender mais pratas da casa para quitação de dívidas salariais.

Restou para o torcedor juntar os cacos e se fortalecer para a batalha contra o Olimpia. Alguns entendem que foi apenas mais um craque que se foi por cinco mariolas, mas o que assusta é a política econômica e administrativa dessa gestão. Uma análise abrangente revela um quadro endêmico de dilapidação do patrimônio, de contratações milionárias escusas e de carência de títulos. É preciso avisar ao rei que a torcida não quer só participar da Libertadores e ficar na parte de cima da tabela no Brasileirão. Muito menos se contentar com a Taça Guanabara. A torcida do Flu quer e está acostumada com títulos. Infelizmente o projeto do rei não coaduna com a realidade fática, o que desespera o torcedor que tenha algum senso crítico mais apurado. Entre o conto de fadas vendido como verdade e o que realmente está acontecendo, existe um abismo. Nesta corte, o bobo somos todos nós, a torcida. Felizmente, o maior patrimônio do clube, o nosso amor incondicional pelo Flu, jamais poderá ser negociado. Vamos sacudir a poeira e torcer por uma volta por cima nas quatro linhas, mesmo vivendo o caos imperfeito. Salve o Tricolor!