O caminho (por Paulo-Roberto Andel)

flu bandeira listra

O MEDO?

Hoje vivemos momentos de luta e dor.

Não sabemos o que vem pelas próximas horas, precisamos desesperadamente de uma vitória salvadora, uma digna e salvadora vitória capaz de nos resgatar do inferno.

Não temos mais o time de outrora.

O grande tetracampeão agora é outro: navega em busca de uma outra estação.

Não temos tempo para soluções mágicas e longo prazo: são apenas dois jogos. Parece 2003, quando éramos o time limitado de um craque só: Romário. Ou seria feito 2009? Muitos dirão com razão que aquele time era bem melhor do que esse. No entanto, a tarefa de agora parece um pouco menos difícil por um simples detalhe: não estamos na zona do descenso tal como daquela vez.

Acontece que o Fluminense é o desafiador de lógicas, o nocauteador de paradigmas. Tudo o que dizem é que estamos mortos. Falidos.

Exigem que paguemos o que nunca foi devido, em nome da “ética” e da “moral” num país que ainda carrega diariamente a hipocrisia em suas veias.

Estamos gravemente feridos. Mas isso está longe da morte. Muito longe.

Há um jogo contra o rival Atlético. E tudo aponta para Pituaçu como um novo Couto Pereira. São batalhas para gigantes. Amadores não cabem nessa disputa.

O Fluminense errou demais em campo. Mas ainda há tempo de salvar o ano.

Desde cedo, impuseram-nos a pecha de timinho; com ela, temos vivido décadas fantásticas.

Não cabe a leviandade de chantagear o Tricolor por conta dos anos de chumbo ao final do século XX.

O verdadeiro tom das Laranjeiras é o da superação: 2003, 2006, 2008, 2009 e, oxalá, 2013. O tetracampeonato nasceu destas dores, assim como o penta um dia nascerá.

Não é hora de medo mas sim de coragem. Dentro e fora das quatro linhas.

O CAMINHO

O maior patrimônio de um clube de futebol é sua torcida. Ela pode ser capaz de retorcer o impossível para beneficiar ao seu amor.

Pois bem, o nosso amor neste Maracanã é o Fluminense.

Deixemos a má campanha de lado.

Deixemos as mágoas da eleição do lado.

Vamos oferecer o dar de ombros a vaidades inúteis. Da vida nada se leva.

Tudo passa: jogadores, treinadores, dirigentes. A torcida não: ela é uma joia perene.

Somos todos uma só torcida.

Não é hora de pavões desfraldando penas, pombos parlapatões de peito estufado, vociferadores de meia-tigela mas sim das formiguinhas proletárias e vencedoras.

A dor de um descenso não tem palavras que lhe descrevam adequadamente.

Não, não podemos entrar em campo e fazer os gols que o time precisa. É fato.

Entretanto, nossas vozes podem escrever o coro da vitória, o mesmo que faz jogadores medíocres jogarem como craques geniais por uma hora e meia. Ou leões ensandecidos fazendo do gramado uma selva. Tudo em prol do que é mais importante: a salvação tricolor. O resto é secundário até o fim da 38ª rodada.

Há um time em campo. Medíocre? Limitado? Sim, mas um time, o que temos por ora.

A torcida do Fluminense precisa gritar, cantar e empurrar os jogadores como nunca, de modo a contagiar em esteja em campo para dar tudo de si pela nossa salvação. Quando o descenso tiver sido aniquilado, aí sim faz-se a autocrítica, discute-se os erros de planejamento, todas as mudanças para 2014.

Agora, no entanto, estamos em 2013.

São todos contra o Fluminense fora da nossa torcida; por uma hora e meia, sejamos a favor dele, tentando evitar o caos que nenhum de nós merece passar.

O time vai mal? Claro! Então vamos empurrá-lo, ora! A apatia e a omissão só podem custar caro a nós mesmos. Tudo passa, mas a torcida permanece e paga os prejuízos.

Precisamos ir a campo com onze jogadores e um coral de trinta mil vozes. Cinquenta mil vozes. Urge sermos torcedores e não meros expectadores, há uma evidente diferença. Um jogo à base de urros. A parte que nos cabe.

E que no campo suceda o melhor possível para os nossos corações.

A ESPERANÇA

Nenhum time do futebol brasileiro tem a dramaturgia tão intensa em suas próprias vísceras como o Fluminense – não à toa, o maior dramaturgo do Brasil é também para sempre o nosso mais apaixonado torcedor: Nelson Rodrigues.

Aos que duvidavam da capacidade dos tricolores em vencer obstáculos diante de circunstâncias muito desfavoráveis, Nelson oferecia sua verve impiedosa e objetiva: eram os idiotas da objetividade. Idiotas.

Que estes dias, tais como tantos outros de um passado brilhante, signifiquem também o triunfo dos esperançosos sobre os idiotas. A vitória das lágrimas de alegria da humildade contra o sorriso mofado da sapiência.  A vitória santa do Fluminense: humílima, descalça, quase pedinte, mas com o coração mergulhado nos mares mais profundos da simplicidade e da fé.

Não chegamos aqui à toa. São cento e onze anos. Precisamos de quatro pontos. Quatro estrelas a conduzir-nos do inferno ao céu.

Não precisamos de lógicas ocas dos especialistas das ciências curtas e apagadas. O que nos basta é um esquelético 1 x 0 no Maracanã e, possivelmente, qualquer empate na Bahia.

Com trinta e cinco anos de arquibancada, não vim até aqui para ser um covarde, um frouxo: eu acredito.

Todos contra nós e eu acredito. O mundo querendo nossa cabeça na guilhotina e eu acredito. A tabela ingrata, os cálculos que não ajudam e eu acredito. A morte à nossa porta e eu confio no Fluminense mais do que nunca.

Não estou vestido com as armas da racionalidade opaca, mas sim com as nuvens do amor verdadeiro – o Fluminense é o céu.

Nelson Rodrigues está em algum lugar deste estádio. Na tribuna. Na arquibancada. Numa cabine. Ao lado de um baleiro.

Por isso, o Fluminense tem as cores da esperança a seu lado.

Por isso, eu acredito e não desisto.

EXTRA:

1) Ao final desta coluna, recebi a notícia da passagem de Nilton Santos. Não cabe aqui tentar resumir a importância deste homem para o futebol brasileiro e, obviamente, o mundial. Mais do que um dos maiores heróis da história do Botafogo, Nilton fez parte de um grupo de homens muito raros nos dias de hoje: juntava em si a firmeza e a doçura, a bravura e a elegância – nas poucas vezes em que saiu dela, foi por motivos justos. Nilton trazia até hoje a imagem de um Brasil que não existe mais, de ética, coragem, fineza, bravura e talento, muito talento. Craque em todas as partidas que disputou na vida, fez dos destroços de 1950 o combustível para os dois maravilhosos títulos do Brasil nas Copas de 1958 e 1962. Um gigante que nenhuma morte fará desaparecer. Um monstro. Que Garrincha finalmente reencontre o seu melhor amigo, a quem eu tanto quis entrevistar mas, por conta da doença, não consegui. Meu pai dizia para mim em assuntos de futebol: “Esse era craque demais”.

2) Pêsames por tudo o que aconteceu no estádio corinthiano. O Brasil não merecia isso.

NILTON SANTOS  1925

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

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fiel 38 anos festa

1995 PEQUENO

DR PEQUENO

1 Comments

  1. Que beleza de crônica Andel, que bela forma de começar mais um dia respirando o nosso Tricolor. Vou estar em viagem por conta do meu trabalho, no sábado já reservei uma suite no hotel com tv a cabo. Lá na minha trincheira assistirei solitariamente nossa vitória. Vou chorar sozinho num quarto de hotel, mas meu coração estará irmanado aos 30 mil co-irmãos tricolores que assistirão a batalha ao vivo no Maraca. VENCEREMOS !!!!!

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