O caderno (por Lennon Pereira)

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Estava eu com meus botões pensando e buscando inspiração para escrever minha querida crônica semanal, pois sei que ela é ansiosamente aguardada pelos meus fiéis e incansáveis leitores: meu pai e minha dinda (já que mamãe não está mais no plano que permite acesso aos computadores). Confesso que estava sem o menor tesão ou inspiração, devido ao medíocre nível técnico do futebol apresentado no último fim de semana pelos times do Campeonato Brasileiro. Foi quando, num determinado momento, me dei conta da música que tocava no rádio do meu carro. Era o corinthiano Toquinho, entoando, acompanhado de seu fino e inconfundível violão, os versos da música “O Caderno” de autoria do genial tricolor Chico Buarque:

“Sou eu que vou seguir você do primeiro rabisco até o bê-a-bá…”

Parei para pensar naquela dupla e em suas composições ou suas tabelinhas. Imediatamente me lembrei de diversas outras duplas, que fizeram semelhante sucesso de raro talento e beleza. Vieram-me à mente, imediatamente, Tom Jobim (também tricolor) e Vinicius, Carlos Lyra e Baden Powel, Caetano e Gil, Roberto e Erasmo, Lennon e McCartney, Simon e Garfunkel, Elis e Jair Rodrigues, João Bosco e Aldir Blanc e os comparei com os talentos contemporâneos na esfera futebolística.

Nessa hora listei rapidamente: Pelé e Coutinho, Tostão e Dirceu, Rivelino e Gil, Didi e Garrincha, Assis e Washington, Zico e Nunes, Sócrates e Zenon, Falcão e Carpegiani, Tato e Branco e, já na década de noventa, Bebeto e Romário.

Comparei mentalmente as listas e comecei a pensar no que elas representavam para seus tempos e estilos de arte. Sim, futebol é uma arte, muito mais do que uma competição ou um simples jogo.

Comecei, a partir desse momento, a entender minha falta de vontade em escrever sobre a última rodada. Nada de arte havia ali. Muito pouco de arte se vê no futebol de hoje, no mundo de hoje.

O Futebol atual é brindado com pequenos lampejos de genialidade e beleza. Basta analisar os destaques do campeonato: Seedorf, Alex, Zé Roberto, Juninho, Deco (o de 2012)… Todos beirando a casa dos quarenta anos de idade. Entre os jovens, muito ímpeto, correria e pouco talento, pouca inspiração.

A vida imita a arte e a arte imita o futebol. Temos na música também um show de lixo e mediocridade. É sertanejo universitário, Anita, Naldo e seus genéricos, até o tão preservado Samba, de mestres como Cartola, Silas e Didi, hoje desfila pelas avenidas com sambas patrocinados que chegam ao cúmulo de falar do trânsito, de raça de cavalo e da importância da imigração dos Guiné Bissauenses para a formação do Samba no Brasil. Até mesmo Vercilo já tem seu genérico.

As crianças da minha geração assistiam na TV a especiais compostos por Tom Jobim e Vinicius (Arca de Noé), Chico, Toquinho (Casa de Brinquedo), entre outros. As de hoje imitam o show das poderosas e dançam as Empreguetes.

Os craques de setenta viram Zizinho, Nilton Santos, Garrincha e Didi. Os de 80 e 90 viram Pelé, Gerson, Rivelino, Zico, Sócrates, Falcão… E aí fica minha pergunta: Onde nos perdemos? Em que momento nós perdemos a mão? Como esse processo de bundalização e de democratização da mediocridade se instaurou? Como não percebemos? Por que não fizemos nada para evitar? E depois dessas perguntas, vem a pior e mais assustadora de todas: o que será do futuro das crianças de hoje? Que artistas serão? Que craques surgirão? Que cidadãos estamos formando para o futuro?

Preferi parar por aqui, pois estava ficando mais deprimido com meus pensamentos do que com a rodada do fim de semana.

Despeço-me daqueles que conseguiram chegar até aqui e peço que a providência divina nos afaste de tão sombrio destino.

Uma vitrola, por favor, que preciso ouvir meus vinís!!

Que Deus abençoe!

Até a próxima!

 

Lennon Pereira

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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