O berço esplêndido de Assis e Washington (por Erica Matos)

Eu tenho saudade do que não vivi. Tenho saudade de lugares onde não fui e de pessoas que não conheci. Tenho saudade de uma época que não vivenciei, lembranças de um tempo que mesmo sem fazer parte do meu passado, marcou presença e deixou legado. Esse tempo, onde a palavra valia mais do que um contrato, onde a decência era reconhecida pelo olhar, onde as pessoas não tinham vergonha da honestidade, onde a justiça cega não se vendia nem esmolava, onde rir não era apenas um direito do rei…

Ruy Barbosa

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Era um domingo em que vivíamos a Copa do Mundo no Brasil. Seis de julho de 2014 – dois dias após as quartas de final e dois dias antes da semifinal.

O mundo só falava na contusão de Neymar, eu estava conectada em alguns sites lendo sobre o assunto, quando de repente, li que Assis havia morrido.

Saí do quarto, fui até a sala e falei para o meu pai: “O Assis morreu!”. Ele girou a cabeça rapidamente na minha direção e disse: “O Assis? Não, Erica, você deve ter lido sobre o Washington, que morreu há pouco mais de um mês. Trepliquei: “Não, pai, foi o parceiro de bola do Washington mesmo, o carrasco tricolor Assis”.

Meu pai ficou visivelmente triste e ligou a TV para ver se falavam alguma coisa. Eu peguei o computador, abri num portal que dava a noticia e levei até ele para mostrar. Abalado, disse: “Assis estava doente! Como assim? Até na partida ele acompanhou o Washington”.

Em minha casa, o assunto parou de ser a contusão de Neymar e o clima de êxtase da Copa esfriou pela noticia que tivemos.

Já tinha visto diversos gols do Casal 20 em vídeos, mas, naquele dia, fui ver gols dos dois ídolos no Youtube com muito mais atenção.

Tive saudade de um tempo em que não vivi. Pude ver comemorações que transbordavam alegria e companheirismo.

Nasci quando o Casal 20 fazia o Fluminense tricampeão carioca. Infelizmente, na minha geração, as comemorações são egoístas e voltadas para si, diferentemente daquele tempo.

Meus ídolos têm muita importância mas, ao pesquisar e ler um pouco sobre a historia de Assis e Washington, vejo que gerações anteriores às minhas tiveram ídolos que fizeram muito mais jus ao posto do que os da minha era.

A estada por aqui, na casa dos cronistas reunidos, me fez mergulhar ainda mais no universo do clube que faz meu coração pulsar mais forte.

A campanha do crowdfunding do Casal 20 foi assunto constante, e através dele, pude conhecer o Dhaniel Cohen e o Heitor D’Alincourt.

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Dias antes do evento, tive vontade de oferecer ajuda ao Dhaniel na área de comunicação visual e ele aceitou, no sentido de viabilizar e confeccionar dois banners para o dia do evento de inauguração dos bustos e do lançamento do livro “Recordar é viver”, que aconteceu na última terça-feira.

De verdade, não foi nada perto da iniciativa do Dhaniel e do Heitor, não foi nada perto do que o Casal 20 merece e merecerá sempre. Porém, confesso que tive um certo orgulho por estar ali no dia 24, bem antes do evento começar, ajudando no pouquinho que pude.

Quando estava colocando um dos banners perto dos bustos ainda cobertos com a bandeira tricolor, olhei várias pessoas fotografando e atentas ao que estávamos fazendo, então pensei em como estava sendo privilegiada, ganhando algo que dinheiro nenhum comprará – o fato de me sentir fazendo história para contar a história, pois estava ajudando um pouquinho no evento em homenagem aos ídolos do meu pai, que são meus também, tal qual cantou a maior cantora que este país já viu – Elis Regina – em “Como nossos pais”: Nossos ídolos ainda são os mesmos e aparências não enganam não. Registrei, fotografando um pouco do momento, que para mim, estava sendo eternizado.

Depois de ter tomado banho e me arrumado no vestiário do clube, encontrei com membros do PANORAMA para estarmos juntos na cerimonia de inauguração dos bustos. Vários amigos apaixonados pelo clube e juntos, nos emocionamos.

Foi uma cena tocante ver os filhos de Assis e Washington descobrirem a estatua com os bustos. Coloquei-me no lugar deles e fiquei com os olhos marejados. Os filhos choravam ao ver o rosto de seus pais eternizados na sede do clube que fizeram deles, o Casal 20, a dupla mais carismática da história do futebol carioca.

A torcida que lá estava começou a entoar o hino do Fluminense e, em seguida, as músicas que cantavam na arquibancada: Recordar é viver, Assis acabou com você e Ão ão ão, na cabeça do negão.

Lamentei por quem não estava lá, pois aqueles minutos foram de arrepiar. Felizmente, temos vídeos e tal como posso ver os inesquecíveis gols do Casal 20, quem não estava poderá ver as cenas por mim presenciadas.

O cerimonial no salão nobre foi lindo e, de fato, foi uma noite de gala tricolor.

Quero agradecer e parabenizar a Dhaniel Cohen e Heitor D’Alincourt, mais Carlos Santoro, por escreverem este livro lindo, pelo qual estou completamente apaixonada.

Obrigada pelo lindo projeto. Através dele, agora posso ver os ídolos Assis e Washington – o Casal 20, toda vez que entrar no clube e até tirar foto no meio deles.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @EricaMatos

Imagens: em/mf

#SejasóciodoFlu

capas o espirito da copa + cartas do tetra 02 2015

1 Comments

  1. que Deus tenha os dois , fazem falta. sou vasco mais admirava os dois.

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