José Hora, um velho senhor de princípios e premissas, relegado ao ostracismo devido a atitudes do passado – este, nem um pouco pomposo, mas corajoso devido aos acontecimentos que encarou de frente.
José fez parte da escola política que muitos gostam, a do “rouba mas faz”, consagrada por Adhemar de Barros e eternizada por Paulo Maluf: políticos que são eleitos e se reelegem, mesmo com os votantes conhecendo bem seus currículos.
Responsável por transformar o futebol em um espetáculo mundial e padrinho da linhagem de diretores corruptos da Fifa, que obtiveram imensa vantagem deste lucrativo negócio, completou 100 anos de idade sem festas nem homenagens por parte do mundo da bola.
Sob seu longevo mandato fez algumas coisas boas; a Copa do Mundo passou de 16 para 32 seleções e deu um maior protagonismo para continentes como América, África e Ásia, estendendo a febre pelo futebol a todos os cantos do planeta. Além disso, introduziu novos torneios como os mundiais Sub-17 e Sub-20, o feminino e a Copa das Confederações e se empenhou em que o futebol fosse um espetáculo que consegue atrair milhões de pessoas – que não cabem nos estádios e então se amontoam em frente à televisão.
Criou natural polêmica sua proximidade com as ditaduras que governaram vários países sul-americanos, especialmente a brasileira, com os quais conviveu por uma década quando dirigiu a Confederação Brasileira de Esportes (CBD) – e, depois, na Fifa. Para o Chile de Augusto Pinochet, concedeu a Copa do Mundo Sub-20 de 1987 e, antes, ratificou à Argentina o direito de organizar a Copa de 1978, apenas dois anos depois do golpe militar no país. Em certa ocasião, reconheceu que usou suas boas relações com o ditador argentino Jorge Rafael Videla para conseguir que libertasse um preso político brasileiro.
É….esse é José Hora, pseudônimo anônimo oculto de Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange, esquecido e renegado por muitos.
Totalmente lúcido. Com a ajuda apenas de um cuidador para se locomover. Sozinho, ele dá poucos passos, normalmente em casa. Recebe poucas visitas, geralmente de familiares. Os poucos amigos não o procuram mais, muito menos os jornalistas.
Esse é o velho JH, que de inocente não tem nada, mas que deixou um certo legado para o esporte que ainda é uma paixão nacional, embora não saibamos até quando.
Panorama Tricolor
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Imagem: thimu