Nossa essência (por Mauro Jácome)

179 - 02072014 - A nossa essênciaOs deuses do futebol escolheram o Brasil a dedo.

“Faremos lá uma Copa em que o mundo se renderá ao principal ingrediente de seu povo e desse esporte: a emoção”.

Não à toa, o futebol já vem na certidão de nascimento do brasileiro. A emoção está na nossa alma. O futebol, idem. Impossível ver um jogo, mesmo aquele na beira da rua pela qual passamos, sem escolher um lado, antes ou durante o rolar da bola. Ninguém fica imune. Até quem não é gente é convidado a participar dessa reunião: o boné, a zebra, a meia-lua, a banheira, o foguete, o frango, o troféu.

E os deuses capricharam: jogos e mais jogos que, além de disputados com farta técnica, reservam aos torcedores, natos ou alienígenas, momentos de extrema emoção. Vários jogos, ao final, deixam-nos cansados. Principalmente, a partir da fase mata-mata. A tensão vai aumentando a partir da metade do segundo tempo. Isso acontece porque, ao contrário do que diria uma lógica maltratada e sem credibilidade, os grandes favoritos estão tendo que suar sangue para seguir em frente.

Quem gostaria de ver uma chuva de gols e massacres, deve estar decepcionado. No entanto, quem gosta de ver competição, de sonhar com a possibilidade do mais fraco vencer ou, ainda, quem se sente, emocionalmente, recompensado em dedicar mais de duas horas ao espetáculo, está em êxtase.

O futebol aqui está mesclado de emoção e de genialidades de Messi que, com um ou dois toques, desmorona a fortaleza inimiga; do talento de James Rodríguez, que, ou entra costurando e dá um toquinho por cima do desmoralizado goleiro ou, de costas, para o gol o vê mais do que qualquer um, bastando amortecer a bola no peito, virar e fuzilar no ângulo; da elegância de Pogba, que aniquila os adversários, um a um, numa implacável defesa de seus domínios, que arranca com passadas largas e dribles tão largos quanto, que voleia, que toca, sutilmente, por cima do, até então, intransponível adversário; da velocidade estonteante de Robben, que estrela uma geração em busca de um lugar no seleto clube dos campeões; da agilidade singular de Navas, que, com seus milagres não canonizados e doses de heroísmo, orgulha sua humilde nação; da inteligência fina de Hazard que, ante a multidão de olhos, busca a afirmação de uma geração promissora; do faro artilheiro de Müller, desengonçado, espichado, incansável, óbvio, goleador; e, é claro, da coragem de Neymar, um menino ainda, que, com seus dribles, ousadia, vai tentando suportar o peso de implacáveis 200 milhões de marcadores que aceitam um só fim.

De repente, tudo aquilo que era feio, que não era espelho de falsos Narcisos e que nos envergonharia, transformou-se no maior espetáculo da Terra. Cantado, escrito, falado, por todos, em versos e prosas, em crônicas, resenhas, mesas e, por que não, em poesias visuais nas coloridas arquibancadas dos palcos desse grande teatro, épico ou trágico, que é o futebol. A César o que é de César e ao Brasil o que lhe é de direito.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @MauroJacome

Revisão preliminar: Rosa Jácome

Foto: zetrusk.blogspot.com.br