O Fluminense levou um nó.
Mas não é de hoje. Faz muito tempo.
Na verdade é uma repetição de nós.
O primeiro foi há quase onze anos, quando o modelo de “Novo Fluminense” foi eleito.
À época, ainda tínhamos a força financeira da Unimed e isso permitiu mais um título brasileiro, afora participações na Libertadores, credenciado não como oitavo ou quinto, mas terceiro colocado ou campeão.
A saída da patrocinadora decretou o fim das grandes contratações no Fluminense, salvo veteranos no apagar das luzes profissionais. Isso, contudo, não significou o fim de contratos de valor expressivo. Em resumo, a cada nova temporada houve decréscimo da qualidade técnica mas as despesas não diminuíram na mesma proporção.
Para alguns, mudou o patamar a partir de 2020: de recorrente candidato ao rebaixamento, o Tricolor passou a ser o “time bonzinho”, que até se classifica para a Libertadores mas não faz parte do rol de candidatos ao título. Chega às finais do Carioca, mas não ameaça. Avança na Copa do Brasil, mas tropeça na hora H. É um figurante, daqueles cujas letrinhas são desprezadas nos créditos de fim do filme.
Some-se a isso certo torpor coletivo, supervalorizando nomes incensados em manchetes de jornais e sites chapa-branca (ou que pretendam ser), desde jogadores medíocres a treinadores, e está pronta a receita de um time que, pela segunda vez em sua história profissional, se aproxima de uma década sem conquistas relevantes.
Outra maneira míope de ver a questão: os outros são todos iguais, temos a mesma chance que qualquer um. Ledo engano: se assim fosse, o Fluminense teria disputado/conquistado títulos assim como outras equipes brasileiras nos últimos anos, tais como Athletico, Bragantino ou Chapecoense, todas respeitáveis e também todas menores do que o Fluminense.
Há anos, somos ludibriados por discursos vazios, repetidos à exaustão por veículos corruptos e milicianos digitais, a ponto de acreditar – não todos, mas a maioria -, que temos uma super equipe, contas espetacularmente administradas e um futuro virtuoso à frente. A cada nova eleição, assume a maior gestão de todos os tempos e, quando ela termina, descobrimos o que sobrou do rombo.
Mas, afinal, o que os bastidores tricolores têm a ver com a derrota para o Fortaleza?
Tudo.
Foi a partir deste modelo de uma década que se tornou normal perder jogos para equipes mais modestas – planejadas a sério, elas evoluíram e agora nos superam. O Fluminense não perdeu ontem porque algum jogador fez ou não fez alguma coisa, mas sim porque esse modelo de erros estoura de tempos em tempos e aí nos assustamos, mais pelo passado glorioso do que pelo presente. Hoje, é absolutamente normal o Fortaleza dominar o Fluminense e vencê-lo até com facilidade: está à nossa frente no Brasileirão e nos ultrapassou na Copa do Brasil.
Aí num dia é o Marcos Felipe, noutro é algum jogador do Uram, noutro é qualquer um e, de vilão em vilão, ficamos a nos enganar a cada rodada, campeonato e temporada.
Somente em 2021 já tomamos um sufoco da Portuguesa nas semifinais do Carioca, fomos amassados feito paçoca na final e, de quebra, fomos ridiculamente eliminados da Libertadores e da Copa do Brasil. Em cada uma dessas ocasiões, procuramos culpados, vilões e bodes expiatórios, mas vem a semana seguinte, o gol cagado, as pessoas vibram e ninguém se lembra de nada quinze dias depois.
Hoje a gente xinga o Bobadilla e o Lucca, mas já xingamos o Felippe Cardoso e o Júnior Dutra, o Robinho e o Romarinho – que nos venceu ontem. O Wellington é o Airton ontem. Se o Danilo Barcelos e o Egídio são horrores, o Giovanni e o Orinho também eram. Mais do mesmo, trópico das repetições.
Lembram do Artur? Esse ano foi o Rafael Ribeiro. Tem o David Braz também. As histórias se repetem, as fórmulas são as mesmas e só duas instituições sofrem prejuízos evidentes: o Fluminense e sua torcida. Os calotes do passado viram acordos a cada semana, isso sem sabermos o que virá pela frente.
Poderíamos falar de desastres diante do America de Natal e da Chapecoense. De eliminações esdrúxulas para o Avaí e o Atlético Goianiense. De vergonhas internacionais como Unión La Calera e Barcelona de Guayaquil. Tudo isso tem sido disfarçado por “campanhas dignas”. Comemorar que o Fluminense foi à Libertadores depois de oito anos. Ok, para ser figurante? Porque candidato ao título nunca foi.
É hora de encarar a realidade.
Mas será mesmo que todos os treinadores que passaram pelo Fluminense são medíocres por completo e não enxergam nada em campo? Ou aceitam um jogo sujo de concessões que explica determinadas escalações extraterrestres? Longe de pretender aqui uma sentença caluniosa, o que se espera é reflexão. Que tal pensarmos?
Estamos assim por falta de dinheiro? Ou na verdade o dinheiro é mal gasto? Transparência, ahahaha.
A derrota para o Fortaleza é apenas mais uma nessa tragédia de quase uma década. Perto de tudo que temos perdido, ela é pouco.
Onde foi parar o nosso senso crítico?
Até quando vamos comemorar meio de tabela como se fosse título?
Até quando seremos marionetes de fake news caça-likes de manipuladores de opinião?
Vamos insistir em rasgar o passado, os cento e dez anos de histórias maravilhosas no saldo, em troca de dez anos de mentira?
Em que outro clube é normal um agente de futebol dar esporro na torcida pelo jornal?
E um abestado que diz que a torcida não assina cheques, sem dizer quem paga a conta?
Num futuro próximo, está em jogo a sobrevivência do Fluminense. Ou se rompe com essa farsa de vez, ou assumiremos a condição de ex-grande clube. O bonitinho, o inofensivo, o que está satisfeito com a campanha digna a vinte pontos do campeão. O figurante.
Idiotas da objetividade já fizeram piadas de minhas comparações com o America. Eu entendo: um autêntico idiota precisa zombar para ocultar sua suprema ignorância. Há 40 anos, o America dividia o Maracanã com os outros grandes e disputava títulos. Hoje, não consegue chegar às semifinais da segunda divisão carioca.
Mais do que as análises macarrônicas de “intensidade”, “agudez” e “marcação alta”, a derrota para o Fortaleza é um soco na cara que, de tempos em tempos, deveria servir para despertar os brios tricolores, até que não aceitemos mais que o Fluminense seja, no fundo, apenas um escritório de aluguel de camisas. Devemos isso, em memória de nossos jogadores, torcedores e (alguns) dirigentes antepassados.
O problema é o modelo.
Uma análise digna de um torcedor … do Fluminense. Acompanho o site e, claro, não me surpreendo. Mas acho importante que fique o registro.
ST****
O cancêr FluSócio infiltrado há década.
Nunca votaria num Pequeno Príncipe dessa época.
Sobre o futuro, visto que o Andel retratou praticamente tudo, vou de Pedro Antônio.
Bom dia. Qual dos pré candidatos não faz parte dessa ciranda eleitoral que vive o Fluminense?
É difícil até saber, mas tomara que surja uma luz em 2022.
O CABIDEIRO…
O CABIDEIRO;;;