Toda unanimidade é burra, assim dizia um dos maiores cronistas e mais importantes da história do futebol, não só do Fluminense, mas do Brasil, Nelson Rodrigues. Também muito lido por seus contos e textos teatrais. Ainda bem.
Nada é mais cansativo e gera mais desgaste quando somos obrigados por uma avalanche de pensamentos e gritarias, tanto nas redes como no dia-dia, no bar, na padaria, na espera do ônibus ou carro de aluguel por aplicativo a ter de ouvir as mesmas frases produzidas pelos famosos comentaristas e influenciadores de fácil acesso, sobre os temas dos quais, muitas das vezes, se quer se aprofundam ou acompanham.
O tema do momento – não vejo a hora dele acabar – é sobre um certo camisa 77, mas que também anda vestindo demais a 11 na Copa Libertadores da América, torneio cujo nome homenageia tantos libertadores, sendo o mais tenaz Símon Bolívar, que dedicou sua biografia a tornar o povo latino-americano livre das amarras, contratos, jugo e colonização europeia, mas que reproduz sem pestanejar modelos provindos do continente pequeno situado ao norte do gigante e poderoso continente africano.
Mas voltemos o foco ao jogador que, mesmo gozando de muito boa vontade e amizade de muitos da imprensa tradicional, por ser boleiro, boa praça e dar gritinhos de au, no vestiário, fazendo lembrar sem vontade de um ex-cantor, ex-deputado Frank Aguiar, que dizia em alto e bom som para todo o Brasil ouvir: “lavou tá nova” se referindo à idade de seu alvo em potencial. Nenê, como assim ficou conhecido, fez carreira inicialmente por equipes de São Paulo, incluindo participação no rebaixamento do Palmeiras à segunda divisão. Depois rodou por Espanha, França , Qatar, dando um pulinho de oito jogos na Inglaterra para então retornar ao Brasil, onde passou recentemente por Vasco, sendo campeão carioca em 2016, São Paulo e agora Fluminense.
Suas passagens recentes pelas equipes aqui do Brasil (há relatos de que já fora do país era assim) está marcada por insatisfações quando era preterido ou substituído, ou ainda quando perdia a escolha de número que fora vestir. No Fluminense mesmo, não é incomum termos visto fazendo beicinho quando é trocado por um companheiro. Quem não lembra do episódio recente quando ficou de fora da equipe titular contra o Flamengo pelo Brasileirão 2020? Quando acabamos vencendo por 2 a 1 com aquele gol do Yago, acelerando em seu flusquinha e antecipando as ações de Arão e do goleiro da equipe da Gávea?
Neste jogo, por ter ficado de fora, coincidentemente a assessoria de imprensa, a oficial e a extraoficial, noticiou um quadro de indisposição para dar conta do Nenê ter ficado fora do banco de reservas. Não colou. Principalmente após o jogo, ao acompanhar o famigerado vídeo dos bastidores postado pelo próprio clube, houve discurso efusivo do então treinador naquele dia, Aílton Ferraz, ressaltando que o que importava era o grupo e não os desejos individuais.
O tema que apresento aqui é simples: por que essa unanimidade em torno do Nenê? Por que ele pode jogar mal, ficar em campo mais tempo do que seus rodados músculos aguentam? Qual a necessidade de, a todo custo, fazer dele um ídolo que nunca será para a torcida do Fluminense?
Traçando um paralelo com um filme de que gosto tanto, Coach Carter – Treino para a Vida, em quando em dado momento do filme o treinador, interpretado brilhantemente por Samuel L. Jackson, exorta seus comandados (quando esses tripudiaram e zombaram do adversário em jogo anterior) com a seguinte fala: “desde quando vencer não é o bastante? Desde quando jogar duro não é o bastante? O que dá a vocês o direito de usar a camisa Richmond (equipe retratada no filme) no peito e agir como vagabundos?”
Tomando Carter como exemplo, não deveriam os jogadores honrar e jogar em prol do jogo e do clube que vestem a camisa? Não deveria importar mais o sucesso coletivo, que abarca milhões de pessoas do que os caprichos individuais, seja esse quem for?
Utilizando palavras do próprio treinador atual do Fluminense, Roger Machado, que vem dizendo em coletivas (cansativas) que seus jogadores de frente devem ser os primeiros a pressionar o adversário, cobrando dos jovens que interceptem, desarmem e deem combate no adversário, dificultando a linha de passe e desse modo justificando assim as saídas recorrentes de Kayky, Luiz Henrique, Gabriel, Caio e demais jogadores. Jamais esse lema vale para o vestidor da 11 na Libertadores, que de tão egoísta, em vez de ficar com outro número, na impossibilidade de vestir a 77 na competição continental, escolheu a 11 que é utilizada nas competições diversas pelo Cazares.
Esse chamado não quer discutir se o jogador é importante ou não, se pode ser utilizado ou não, mas sim o porquê de sustentar um esquema e time inteiro em função das fragilidades deste jogador.
Saudações Tricolores, Vitória Sempre e saudades eternas de Januário de Oliveira.
Dane-se o nenê! Jogador medíocre…
A realidade é clara, menos para quem dirigia o clube: quanto mais insistirem com Nenê, mais a torcida (ao menos a que pensa) ficará com nojo do jogador.
O processo de tentar fazer dele um ídolo poderá acabar virando um processo de queima da história dele no clube.