Sempre assinei o programa de torcedor do Fluminense. Assinei o tal do Passaporte Tricolor em 2008 e de lá para cá tive todos eles. Isso significa que paguei por mês, religiosamente, uma quantia ao Fluminense durante cerca de 8 anos, até agora. No meio do caminho, para consagrar minha relação com o Flu, decidi tornar-me sócio proprietário do clube. Não me arrependo, mas muitas vezes lamento.
Lamentei, por exemplo, todas as vezes que tive dificuldade para entrar nos estádios, mesmo sendo um daqueles a quem se havia prometido conforto. Veja: nosso programa de sócio futebol, não importa o nome ou a gestão, nunca ofereceu nada além de entrada nos estádios e preços de ingressos com desconto. Não me venham falar de comprar cerveja Brahma com desconto, porque cerveja Brahma há muito tempo não é brinde, é penalidade. Pois bem, tenho descontos no ingresso, mas penei como Jó para exercer meu direito por diversas vezes. Já enfrentei filas quilométricas, já fui esmagado em entradas precárias, já frequentei estádios em obra, dentro e fora, já tive que viajar três horas para outro estado.
Agora, o Fluminense inventou uma nova, que considero insuperável. No ano de 2016, o Flu praticamente me impediu de exercer o direito de usar aquilo que me vendeu. Primeiro, impediu porque, passados sete anos, não conseguiu preparar um estádio para o time jogar quando houvesse as Olimpíadas. Sete anos depois de o Rio de Janeiro ter sido declarado sede das Olimpíadas, o clube não tinha um plano B para a ausência dos estádios principais da cidade. Meio no improviso, o clube começou a mandar jogos numa cidade que fica a duas horas, mais ou menos, da sede do clube, isso sem trânsito. Uma coisa ridícula.
Mas o pior veio depois. O Fluminense simplesmente vendeu mandos de campo. Vendeu mandos de campo. Vendeu mandos de campo. CLIQUE AQUI. Porra, isso é um absurdo. O Fluminense já havia vendido todos os seus mandos de campo para os sócios torcedores. O Fluminense vendeu o mando para mim e para muitos dos que leem essa coluna quando nos fez pagar por mês para ter acesso aos jogos em casa com direito preferencial e algum conforto (suposto, é claro). Isso significa, obviamente, que o Fluminense não poderia vender o que já vendeu.
Mas o Fluminense vendeu. E foi jogar contra o Corinthians em Brasília, na oitava rodada. Eu queria ver o jogo, paguei para ver o jogo, mas não pude ver. Eu queria ver o Fluminense jogar contra o Santos, pela décima rodada. Paguei para ver o jogo, queria ver o jogo, mas não pude ver. Eu queria ver o Fluminense ganhar o América de Minas. Paguei para ver o jogo, queria ver o jogo, mas não pude ver o jogo.
Finalmente, eu paguei para ver o jogo deste último domingo. Era o jogo contra um time interessante, o Palmeiras, líder justificado do campeonato, mas também valia muito para o Fluminense. Ao contrário do que disse a cretina nota oficial do clube, o mando dessa partida já estava vendido antes da proibição da polícia de haver jogos na região metropolitana do Rio. Ademais, se o Fluminense conseguiu o adiamento da partida contra o Figueirense, podia pedir adiamento da partida contra o Palmeiras. Esse pedido não foi feito. Eu queria que o Fluminense jogasse no grande Rio, nem que fosse no estádio pequenino de Edson Passos, um estádio sem o tamanho adequado para fazer jus a um jogo desse porte, mas ao menos relativamente acessível e agradável ao torcedor. O Fluminense perderia em Edson Passos? Pode ser, porque o time do adversário é bem melhor. Mas eu queria ver, queria torcer, queria acreditar que poderia fazer a diferença.
Que fique claro: o Fluminense está lesando o sócio torcedor esse ano. Está cobrando mensalmente dinheiro por um produto inexistente que, ademais, é vendido para outro. Esse outro quer ganhar dinheiro fácil, cobra um valor absurdo pelo ingresso e esvazia o estádio para não ter trabalho. Prefere ganhar 120 mil vendendo 12 mil ingressos a 100 reais cada do que ganhar 120 mil vendendo 40 mil ingressos a 30 reais, lucrando ainda muito mais no restante (comida, bebida e publicidade). O Fluminense está sacaneando seu torcedor para beneficiar um espertalhão que nem trabalhar quer.
Quanto se ganhou com essas vendas? Um pouco menos do que se pagou, cash, para ter o possante Henrique Dourado. Quanto se perdeu? Além de credibilidade, pontos na tabela, dinheiro com vendas de produto e publicidade, perdeu-se a moral, a decência, a honestidade. O que esperamos é que o clube identifique o idiota ou o espertalhão que teve a ideia de vender os jogos e o demita sumariamente, com um pedido de desculpas ao sócio que paga o pacote futebol. Como ressarcimento, o sócio que paga o pacote futebol deveria ficar isento do pagamento da mensalidade enquanto houver jogos a serem vendidos. Acalentar a paixão é uma coisa, aproveitar da paixão é outra. Honestamente, é sorte do clube eu e outros não termos o ímpeto de cobrarmos nosso direito na justiça.
Panorama Tricolor
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Imagem: jle