Não lhes queremos mal (por Walace Cestari)

Hell_Wheels

Como é difícil comemorar bodas! Passam-se os anos e tudo o que defendemos sobre qualidade, amor, dedicação e estabilidade é desdito nas ações cotidianas: futebol é planejamento. A continuidade do trabalho leva a resultados melhores. Manter o elenco é sair na frente dos outros. Chavões que a realidade teima em desmentir.

Temos um elenco qualificado tecnicamente, que já provou por diversas vezes seu valor. Chegou, ainda neste mesmo campeonato, a apresentar o futebol mais invejado do país. Domínio de bola, troca de passes, eficiência de arremates, enfim, fomos o futebol alemão no Brasil por um curto período de tempo. De repente, não mais que de repente, tudo mudou. Viramos abóbora e, em busca de nova carruagem, estacionamos na mediocridade.

O que acontece? Funcionários de empresas sonham em conseguir estabilidade no emprego, com condições de trabalho e boa remuneração. Quando conseguem, o resultado é acomodação? Somos motivados às conquistas, mas, depois que colecionamos algumas, simplesmente desanimamos a novas conquistas? Nem é o caso de que tenhamos conquistado tudo, nem longe disso, ainda que dois Brasileiros e um Carioca sejam bastante relevantes.

Parece que nossos funcionários acomodaram-se com seus gordos salários e não se mostram mais tão dispostos quanto em outras ocasiões a conquistas maiores. Será isso uma denotação de mau-caratismo? Eu me recuso a tomar essa acusação como verdadeira. Mas, não dá para negar que há um desânimo enorme, causado ou pela acomodação ou pela “chateação” dos problemas contratuais.

O fato é que tudo isso abala o psicológico dos jogadores. A mente não manda as mensagens de superação, as pernas não fazem questão de obedecer. Assim, há os que correm para não chegar. Não propositalmente, mas porque o contexto já lhes determina tal comportamento.

A presidência anda sempre às turras com o patrocinador. Uma relação comparável a de novela mexicana. O paradoxo tricolor reside na dependência financeira da parceira e da necessidade de independência administrativa. Os personagens revezam-se em atos de amor, loucura e ódio: ora nosso presidente mostra-se convicto do dever de fazer o Flu soberano; ora sucumbe ao argumento de que estamos sujeitos às vontades alheias por conta de alguns (muitos) vinténs.

Do outro lado, o presidente da patrocinadora confunde parceria com mecenato; patrocínio com gerência (ou ingerência). A empresa que preside passa por problemas sérios – talvez não tenha investido em uma infraestruura de atendimento que comportasse seu crescimento exponencial –, mas que passam longe do rentabilíssimo contrato com o Fluminense. O tricolor é o bode expiatório dos problemas do plano de saúde, pois é alvo da oposição interna da cooperativa e seu presidente já não manda mais dentro da sede de Álvaro Chaves como em outros tempos.

Nesse cabo de guerra, alguns ficam órfãos, em especial aqueles que já foram tratados como filé e que hoje amargam papel de carne de segunda. O clube não tem condições financeiras de negociar contratos no mesmo patamar que a Unimed oferecia. Ponto para Siemsen quando não entra no jogo de comprometer-se com o impagável, afastando-se das loucuras tão comuns aos dirigentes.

A patrocinadora sinaliza redução de valores ou, até mesmo, a rescisão do contrato. Ameaças que não podem tornar o clube refém. Até mesmo porque alguns contratos, ainda que com o fim da parceria, iriam se manter em vigor por mais alguns anos. O momento é de calma fora do campo, não de abandono: ou o Flu está costurando uma estratégia genial nos bastidores ou estamos parados assistindo ao bonde da história passar.

É hora de planejar um feliz 2015. As expectativas morreram para o ano atual. Queremos somar mais alguns pontinhos e terminar dignamente o campeonato 2014. Qualquer coisa acima disso é lucro dos grandes. E improvável.

Agir significa claramente já definir quem fica e quem sai, apostando na garotada que vai substituí-los. Nossa geração de 2012 envelheceu. Mal comparando, foi o que aconteceu com a geração da seleção espanhola. Não há de se brigar, somos gratos por tudo aquilo que nos deram, mas hoje vemos que não são mais capazes de render o que necessitamos.

Obrigado Cavalieri, obrigado Bruno, obrigado Gum, obrigado Carlinhos, obrigado Diguinho, obrigado Fred, obrigado Valencia, obrigado Wagner, obrigado Sóbis, obrigado Jean. Se o tempo de vocês passou – e vocês podem me provar o contrário – fica nossa gratidão pelo passado comum e os votos de um futuro de sucesso na caminhada por outras trilhas. Não queremos o mal, apenas não queremos mais.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: blogna.tv

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