Na quarta, contra o Junior pela Sula, o Fluminense levou uma goleada em Barranquilla jogando muito mal. Pelo futebol apresentado, saiu até barato. Abel Braga insistiu com os três zagueiros e Manoel na saída de bola. O Tricolor, sem conseguir jogar, foi presa fácil para o sexto colocado do campeonato colombiano. Após a desclassificação vergonhosa na pré Libertadores, o Flu começou a se complicar na Copa Sul-Americana, sem necessidade. Pressionado, Abel, como sempre, busca em suas explanações justificativas que nunca esbarram nas necessidades táticas do time. A bola da vez foi o desgaste. Com aquele tom de soberba que lhe é peculiar, colocou a culpa total do fracasso no desgaste físico e ainda anunciou que havia errado em não poupar. Também afirmou que não erraria mais e que o time ia passar por modificações durante os próximos jogos. Não que o desgaste não seja uma triste realidade do calendário pátrio, mas creditar ao cansaço toda a culpa pela goleada sofrida é uma forma descarada de tirar o foco da realidade.
No sábado, contra o Cuiabá pelo Brasileirão, o técnico tricolor prometeu mudanças e indicou nos treinamentos o abandono do esquema com três zagueiros. Seria o fim do futebol sofrível esculpido com Manoel na saída de bola e uma série de bicões? Abel maquiou, mas não enganou. Em tese, o Fluminense retornava ao 4-3-3 com algumas alterações. Se na teoria tínhamos o fim dos três zagueiros, na prática o que se via era Wellington enfiado entre a dupla de zaga e mais uma vez o Flu jogando mal. Taticamente, o time replicava na fase ofensiva o 3-4-3 sem meia de ligação que nunca teve volume de jogo. Defensivamente, a marcação em duas linhas não sofreu pelo fato do Cuiabá abdicar do ataque, ficando todo atrás da linha da bola. O adversário fez uma marcação forte na saída do Flu e o Tricolor, sem inspiração, aceitou e não conseguiu transpor esse primeiro combate. Pouco criou. A vitória veio com o gol contra de Paulão no apagar das luzes. Abaixo, o 3-4-3 disfarçado de Abel contra o Cuiabá.
Na terça, contra o Vila Nova pela Copa do Brasil, mais uma vez Abel prometeu mudanças técnicas e táticas. Os nomes anunciados pela imprensa como prováveis indicavam o possível e esperado retorno do 4-4-2 losango que tanto encantou no Estadual. Mas a esperança se transformou em perplexidade às 20:30, momento da divulgação oficial da escalação. A opção pelo 4-2-3-1 com Bigode de ponta esquerda e Árias de meia central acenava para um cenário conhecido pela torcida tricolor nesta temporada. O Vila montou uma arapuca tática e o Flu foi presa fácil. Postado no 4-1-4-1, o time goiano encaixava na saída do Tricolor e o impedia de jogar. Enlatado no campo de defesa e sem conexão entre os setores, o Fluminense, mais uma vez na temporada, jogou o primeiro tempo fora e foi para o intervalo perdendo. Bigode não é ponta, Árias é jogador de beirada e Luiz Henrique perdeu o foco. Abel escalou mal e por pouco não foi para o intervalo perdendo por mais gols. Abaixo, o 4-2-3-1 que tentava sair com André e tinha inferioridade numérica no setor de meio campo.
Na volta do intervalo, Abel sacou Luiz Henrique e Árias, colocando Ganso e Caio Paulista. Não alterou o 4-2-3-1, porém a atitude mudou. O time intensificou a retomada mais veloz da bola no campo de ataque ao subir suas linhas e contou com a inteligência de Ganso, mais uma vez demonstrado que o Flu não pode jogar sem o meia de ligação. Aos poucos, Ganso foi reorganizando a meiuca tricolor e o time começou a jogar, mas levou o segundo gol em um contragolpe rápido, com falhas defensivas sucessivas. Felizmente, logo após o gol do rival, o Tricolor conseguiu fazer seu primeiro gol após Bigode sofrer pênalti e Ganso converter. A partir desse momento, foi com o coração na ponta da chuteira e na base do abafa. Com a entrada de Fred e Marlon, o Flu partiu para cima com dois centroavantes e, pela primeira vez na temporada, contou com um lateral esquerdo de qualidade e com peso corporal adequado. Acabou fazendo dois gols com Cano e Fred e conseguiu vencer o Vila Nova por 3 a 2.
O que não pode acontecer é a vitória mascarar as feridas expostas em mais uma atuação fraca e com desempenho muito abaixo do possível. Estamos nos complicando em todas as competições. Abel Braga precisa parar de inventar e fazer o famoso feijão com arroz. Estamos vivendo uma temporada enxuta, desgastante, não há tempo para invenções de Professor Pardal. Mais uma vez sofremos sem necessidade. Ele precisa entender que faz toda a diferença ter um meia talentoso pelo corredor central para agrupar o time em torno da posse. Em resumo, o problema do Fluminense é a falta de propósito estratégico e consequentemente de padrão tático. Abel transita pelos esquemas sem uma linha de raciocínio visível e poupa jogadores sem critério. O time é reativo? É propositivo? Qual é a estratégia? Ninguém sabe. O que sabemos é que assistir o time de Abel continua sendo um desafio para a paciência e para a tolerância do tricolor. Continuamos sem rumo e contando com o peso de nossa camisa. Salve o Tricolor!
Mais um excelente texto! ST4.