Moacy Cirne, gênio tricolor (por Paulo-Roberto Andel)

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Ele foi um grande poeta, teórico da poesia, artista visual e professor do Departamento de Comunicação Social da UFF, sendo considerado o maior estudioso brasileiro de histórias em quadrinhos, tendo escrito vários livros sobre o assunto.

Na poesia, um dos fundadores do poema/processo, expressão de vanguarda nos anos 60.

Editor de uma revista cultural, escreveu na Tribuna da Imprensa e no Jornal do Brasil.

Na UFF, lecionava disciplinas sobre Histórias em Quadrinhos e Ficção Científica. Famoso no Instituto de Artes e Comunicação Social, editava e distribuía um fanzine de uma única página, gratuito e independente, chamado Balaio Porreta.

De 2007 a 2014, o fanzine, que unia textos provocativos, listagens de filmes, pensamentos e poesias, se transferiu para a internet sob a forma de um blog, o Balaio Vermelho.

Em sua versão impressa de outrora, o Balaio foi um dos principais meios de divulgação no Rio de Janeiro das poesias eróticas do polêmico Chico Doido de Caicó, durante muito tempo considerado um personagem fictício e alter ego do próprio autor do fanzine.

O genial Moacy Cirne. Até aqui, uma potência intelectual.

Gran finale: um tricolorzaço de mão cheia, mais uma estrela da nossa constelação de talentos intelectuais e artísticos.

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Em 2013, o talento de Cirne brindou as nossas cores como nunca: lançou o livro “Maraca Maracanã que te quero Fluminense”. Para descrever a obra, nada melhor do que as próprias palavras do escritor:

Uma paixão é uma paixão é uma paixão. O Fluminense é o Fluminense é o Fluminense. Este livro é a história de uma paixão: uma paixão nas cores grená, verde e branco. A história de uma paixão iniciada em 1954 no sertão seridoense de Caicó.

Este livro é uma homenagem, ora delirante, ora libertinária, mas sempre afetiva, a um clube de futebol marcado por glórias e conquistas inesquecíveis. É também uma homenagem a todos os tricolores: tricolores do céu, da terra, Rio, Natal e Júpiter.

Este livro é o Fluminense campeão brasileiro de 1970, 1984, 2010 e 2012. É o campeão da Copa Brasil de 2007. É o campeão do Rio-São Paulo de 1957 e 1960. É o campeão de 32 Cariocas. É o clube iluminado por Nelson Rodrigues e o goleiro Castilho.

Por um Nelson Rodrigues que dizia: “O Fla-Flu começou quarenta minutos antes do nada. E aí então as multidões despertaram”. Ou que escrevia: “O torcedor que foge dos campos não foge da derrota e sim da vitória que faz o sangue subir à cabeça”.

Este livro, enfim, sem maiores pretensões literárias ou históricas sou eu, um certo Moacy Cirne, expoeta e cangaceiro tricolor da anticultura: cabeça, corpo e coração. Aqui e agora, sempre tricolor. Aqui e agora, ontem e hoje, ontem e amanhã, sempre Fluminense.

Com seus delírios literários, com seus arrebatamentos verbais. Com seu amor, eterno amor, a partir da magia embriagadora do Maraca Maracanã. Repetir é preciso, sonhar é necessário, ousar é possível: aqui e agora, sempre e sempre Fluminense. Sempre.”

Em janeiro de 2014, Moacy Cirne faleceu no Rio Grande do Norte, sua terra natal. Deixou um legado intelectual fantástico.

Há muitos anos, em torno de 1997, eu era frequentador diário da Livraria Berinjela, uma das referências culturais do Rio, sala de estar de acadêmicos e intelectuais. Volta e meia, lá vinha o Cirne distribuir o Balaio, sempre muito solícito, uma espécie de estafeta da informação, roupa branca simples, mensageiro da paz. Ele não tinha a menor ideia, mas o seu fanzine foi uma das minhas inspirações para ter coragem de publicar meus primeiros escritos, que não tratavam de futebol. Espiava ele e outros gênios do ambiente, escutava, aprendia. Treze anos depois daquelas noites na livraria, publiquei o meu primeiro livro.

Nunca falei com Cirne sobre futebol. Eu tinha vergonha. Uma pena. Mas aproveito esse modesto espaço para recordá-lo. E dizer que os tricolores merecem redescobri-lo. Trata-se de uma jazida de ouro das nossas três cores. Um dos mais brilhantes intelectuais brasileiros apaixonou-se pelo Fluminense ainda menino no sertão e nunca mais se desgrudou.

Do clube, nada a esperar. É duro imaginar que Cirne faleceu poucos meses depois daquela que foi a primeira – e provavelmente última – participação do Flu na Bienal do Livro. Mas a nossa torcida precisa conhecer, aprender e reaprender sobre o legado mágico do poeta, escritor e professor. Se quiser começar pelo Tricolor, já tem um livro “não oficial” de mão cheia facilmente comprável via internet.

Ah, esse Fluminense que não se cansa de colecionar talentos, daqueles em que tropeçamos a cada degrau da arquibancada. Ave Cirne!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: balaio/guis saint-martin

voleio guis saint martin 27 04 2015

2 Comments

  1. Ele sempre foi muito solícito e receptivo com aqueles que, assim como ele, eram apaixonados pelo futebol. Devia era ter trocado várias ideias com ele! Gostei muito de ler sua coluna. Bateu uma saudade tremenda dele e ir com ele ver o Fluzão no Maracanã. Esse livro é o meu pai todinho! Beijos!

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