Millonarios 1 x 2 Fluminense – Flu desenha sua própria evolução em um jogo (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, é forçoso começar essa análise evidenciando que não gostei da escalação inicial do Fluminense. E não gostei por razões que me parecem óbvias. Aliás, tudo pode ser sintetizado em uma razão que é a mãe de todos os erros. Abel Braga não levou a campo o seu melhor time, tampouco o estruturou de forma apropriada para enfrentar um misto de altitude com um adversário com jogadores jovens e impetuosos.

A insistência com Fred é constrangedora, embora tenhamos que lamentar sua lesão, sobretudo em um lance em que saíra na cara do goleiro, mas até isso evidencia que a condição geral de Fred não justifica sua presença como titular em um time que se propõe grandes voos numa temporada.

Ao mesmo tempo, me parece de uma miopia futebolística inacreditável não perceber que Árias já fez tudo que tinha que fazer para merecer a condição de titular nesse time.

Começamos com um 4-3-3, com Felipe Melo saindo da zaga para compor o meio de campo, o que nos deixou com três volantes e pouquíssima condição de construir o jogo por dentro. Em plena altitude, nos fartamos de atuar com bolas longas no primeiro tempo, o que fazia com que nossos atacantes recebessem a bola sem ter com quem dialogar. Foi assim, inclusive, em pare da segunda etapa.

Sofremos um gol num lance que começou com um lançamento do goleiro deles que lhes permitiu chegar com quatro jogadores contra três defensores nossos. O drible que Cristiano da Moldávia levou do colombiano é algo que merece ser revisto, embora o lateral tenha alternado momentos esquisitos com boas aparições, deixando em aberto a análise de seu potencial para atuar nesse time do Fluminense com status de titular.

A sorte, ou a estupidez humana, estava do nosso lado. Com um a mais, o cidadão, que já tinha cartão amarelo, desfere uma cotovelada sem qualquer sentido em William. Segundo cartão amarelo, Milionários com menos um e o Fluminense incapaz de fazer valer a vantagem numérica.

Nesse aspecto, é preciso ressaltar, também, que estávamos atuando na altitude, e isso faz uma enorme diferença. O homem a mais talvez tenha, no máximo, equilibrado o jogo do ponto de vista físico. Mas o Fluminense criava em bolas longas, mesmo que sem aproveitar bem as oportunidades criadas por esse modelo de jogo. Numa delas, é Fred que sai na cara do gol e acaba se lesionando de modo a sequer conseguir o arremate.

Entra Cano, o Fluminense ganha um pouco mais de dinamismo, pressiona o Milionários e faz o gol de empate numa falha do goleiro, que sobrou para Luís Henrique, que, de costas para o gol, tentou o arremate de virada. O goleiro chegaria na bola mas Cano dá um leve toque, tirando essa possibilidade. David Brás, que vinha chegando, só escorou para o gol vazio.

Terminamos o primeiro tempo com o empate e voltamos para o segundo com John Árias no lugar de William. E é aí que vale registrar a evolução do Fluminense dentro do jogo, que reflete as questões que estão patentes ao longo da temporada.

O Fluminense começa melhor e rapidamente cria duas oportunidades de gol, com Luís Henrique e Cris da Moldávia, mas Yago, que não foi bem na noite de hoje, comete um pênalti infantil em um jogador que estava cercado de tricolores. Só que no nosso gol tinha o Fábio, que tem como marca registrada defender pênaltis. E assim o fez.

Abro aspas para dizer que não concordo, apesar desse lance vital na partida, com a entrada de Fábio no lugar de Marcos Felipe. Era preciso que Marcos Felipe, titular do Fluminense há mais de um ano, fizesse muito por onde perder a vaga. Ao contrário disso, Marcos Felipe, que, na minha opinião, foi o grande nome do Fluminense em 2021, vinha fazendo excelente temporada. Então, se estamos falando em gestão de grupo e gestão técnica, a escolha não faz nenhum sentido. É injusta e inapropriada, mas temos que conceder a Fábio, que não tem nada com isso, os devidos méritos.

O Milionário decidiu, então, pressionar nossa saída de bola e mesmo com um jogador a mais, perdemos completamente o controle do jogo. Engessados, não conseguíamos construir nada e ainda éramos ameaçados, com o time concedendo espaços, sem conseguir se aproximar e articular jogo.

É aquela situação em que o nome de Paulo Henrique Ganso surge como solução óbvia. E Abel tirou Felipe Melo e colocou Ganso. Ainda demorou para que o Fluminense ganhasse volume ofensivo, mas o time foi aos poucos tomando o controle da partida, com mais aproximação entre as peças e capacidade de envolver a defesa do Milionários, com grande atuação de Árias.

A cereja do bolo viria, no entanto, com a troca de Yago, que, além de não jogar bem, estava extenuado, já incapaz até de raciocinar, por Martinelli. A troca era o começo do fim para o Milionários. O Fluminense começa a exibir o futebol do último sábado, contra o Volta Redonda. Árias e Ganso começam boa jogada pela direita e o colombiano tricolor encontra Martinelli livre pelo meio. Ele mete bola espetacular para Luís Henrique, que sai diante do goleiro e percebe a penetração de Cano. O passe deixa Cano sem goleiro na marca do pênalti. Gol do Flu, virada merecida e mais um monte de oportunidades desperdiçadas.

Tanto melhor que tenhamos desperdiçado oportunidades, o que indica que as criamos. Mesmo na altitude, um time que passou a jogar com aproximação e jogadores com alta capacidade técnica, envolveu os meninos do Milionários. Poderíamos ter decidido a classificação nesse jogo, mas a boa notícia é que temos grandes oportunidades que só Abel pode explorar, se tiver autonomia para isso.

John Árias, Cano, Martinelli, Ganso e Calegari precisam ser titulares. São cinco nomes para que o Fluminense desenvolva seu melhor futebol. Como fazer? Que Abel resolva, pois recebe muito bem para isso. Já que abriu mão do 3-4-3, tem meio caminho andado.

Seguimos na expectativa de ver o melhor Fluminense em campo desde o princípio, com os jogadores mais produtivos atuando como titulares, o que é justo e apropriado para quem quer evoluir, melhorar e encantar.

Saudações Tricolores!

2 Comments

  1. Acho que fomos prejudicados pela arbitragem. Em alguns lances a lei da vantagem foi ignorada e teriamos construído bons ataques. Os auxiliares erraram em varios lances de impedimento, onde o certo ao meu ver seria ter deixado a jogada seguir e deixar pro VAR a responsabilidade de anular um possivel gol.

  2. Concordo com você que o M. Felipe não cometeu nenhum erro para ser barrado e nem considero que ele foi. Antes de ser justo com um jogador em particular, o técnico precisa ser justo com a equipe, pois é um esporte coletivo. É sabido que se o Marcos tem uma deficiência é justamente a sua pouca eficiência ou sorte em defender penaltis e os times latinos abusam de simular o recebimento de faltas, especialmente dentro da grande área. Foi uma decisão como a daquele técnico de copa do mundo que um pouco antes de terminar a prorrogação de um jogo substitui o goleiro.

    Ontem queimei a minha língua…

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