Antes de qualquer coisa: qualquer pessoa que acompanhe meu trabalho nestes 15 anos sabe que não faço média com dirigentes, comissão técnica e jogadores. Passo longe disso e não faço questão alguma de contato ou bajulação. Por acaso e somente isso, tive amigos pessoais que acabaram sendo dirigentes do Flu. Outros poderão vir a ser.
O Fluminense venceu o São Paulo, o resultado foi importante, os erros de sempre aconteceram e, no fim, o acerto de um jogador impediu que a vitória tricolor escapasse: o goleiro Marcos Felipe.
Não chega a constituir novidade. As boas intervenções de Marcos se repetem desde o momento em que se tornou – com justiça – titular do Fluminense. Em mais de 70 jogos pelo clube, Marcos ganhou mais do que o dobro das partidas que perdeu, e estas somam pouco mais de 20%. E em várias situações impediu derrotas e goleadas. Várias. Basta pesquisar ou, para quem acompanha os jogos do Flu regularmente, não sofrer de amnésia.
Desde a final do Carioca 2021, o goleiro tem sido sistematicamente alvejado a cada eventual falha que cometa, como se isso não acontecesse com todos os goleiros. É certo que Marcos não foi bem na segunda partida daquela decisão; agora, culpá-lo por aquela derrota chega a ser ridículo, diante de uma atuação patética de todo o time, considerada por muitos torcedores decanos como a pior apresentação tricolor numa final em toda a história. Nem que Marcos jogasse junto com Félix e Castilho iria impedir o título do rival, o terceiro em três disputas contra nós nos últimos quatro anos, fato inédito nos primeiros 115 anos do Fla x Flu. Mas a culpa é só do goleiro…
Antes disso, no empate no Maracanã com o River Plate, a turma da má vontade botou as garras para fora no gol portenho. Na mesma partida, o goleiro se recuperou e fez várias defesas difíceis, fato que se repetiu em todo o restante da Libertadores e neste primeiro turno do Brasileirão. Aí, contra o Barcelona, em duas apresentações coletivas pífias, adivinha quem foi o culpado de novo… Ora, se não fosse ele contra os colombianos, era bem capaz do Flu ter caído na primeira fase.
Os mais exaltados querem imediatamente um outro goleiro, como se o Fluminense ainda vivesse na Era Unimed e fosse trazer algum grande nome internacional. Nos últimos anos, com exceção do lateral Samuel Xavier e do meia Arias, o Flu não contratou jogadores titulares em seus clubes. Trouxe refugos.
Que goleiro do futebol brasileiro hoje barraria imediatamente Marcos Felipe se fosse contratado? O do Palmeiras, o do Atlético, talvez, quem mais? Só. O resto se equivale, isso se equivaler. Ontem mesmo vimos Thiago Volpi, titular absoluto do São Paulo e (mais um) com passagem na base do Flu, claudicante em nossa vitória.
Honestamente, creio que o melhor que temos a fazer é dar força ao nosso goleiro, único jogador da base que chegou aos 25 anos ainda no clube. Que tolerou pacientemente cinco anos sem espaço, vendo outros goleiros claramente inferiores à sua frente. Seguro, sem gestos espalhafatosos, sem carnavalização midiática ou declarações estrambóticas, ele fez a sua parte e mereceu a titularidade. Porém, precisa de tempo.
Quantos goleiros o Fluminense não queimou nas últimas décadas por conta da impaciência do torcedor? A lista é imensa. Até campeões saíram injustamente pela porta dos fundos. Num tempo em que joias de Xerém não duram dez ou quinze partidas no clube, ter um jogador vindo da base com dez anos de casa merece no mínimo atenção.
Não devemos jogar na conta do goleiro todos os erros de montagem do elenco, o besteirol da diretoria e nem o mundo extraterrestre dos treinadores – aliás, Marcos Felipe tomou muitos gols por ser um sobrevivente da Era Roger, é bom que se diga.
Enfim, não cabe aqui a pretensão de transformar o jovem goleiro num novo Castilho, Félix ou Paulo Victor, todos esses com muito tempo de casa até a grande consagração. É apenas um alerta para que o imediatismo e a ânsia pela propriedade da razão não queimem um de nossos melhores goleiros da base nas últimas décadas. Uma revelação melhor do que Fernando Henrique, que conseguiu grandes resultados e ficou uma década no clube. Pode falhar amanhã contra o Atlético, pode acontecer qualquer coisa, mas seus resultados até aqui são dignos da confiança da torcida. O saldo é positivo.
Há quem diga que não reconhecer as falhas de Marcos Felipe é ficar falando sozinho na torcida, mas também há quem prefira fazê-lo do que praticar o papel de Maria vai com as outras. É uma questão de pontos de vista. Agora, como já dito, fatos são fatos: o goleiro tricolor tem mais do que o dobro de vitórias do que derrotas com a camisa titular, e não somente garantiu triunfos como impediu várias derrotas nestes quase 80 jogos.
No mínimo, deveria causar uma reflexão profunda a respeito, antes de jogarmos fora a chance de ter um bom goleiro com carreira duradora no clube e, finalmente, honrando a maior escola de goleiros do futebol brasileiro.
Já são trinta e três anos de impaciência.
UM GOLEIRO A QUEM SE DEVA ATENÇÃO NO TREINAMENTO OBSEQUIOSO…
Precisa aprender a jogar bem com os pés nas saídas de bola…no restante quase perfeito.
Querido Andel , vc está certíssimo em sua análise , Marcos Felipe falha sim , como outros tantos bons goleiros , mas é indiscutivelmente o melhor goleiro que temos no momento e arrisco a dizer que o melhor depois de Paulo Victor década de 80 e Cavalieri (11/12) . Um abraço