Amigos, amigas, fui surpreendido no último sábado com a saída de Marcelo do Fluminense. Parece-me evidente que ninguém esperava ou desejava tal desfecho, envolto em fofocas, ilações e o sempre tão provável linchamento desse ou daquele personagem.
Houve um tempo em que a relação entre torcedor e jogador de futebol, ídolo ou pereba, artista ou vilão, começava no momento que o time entrava em campo e terminava no apito final.
Foram raras as vezes em minha vida em que interagi com jogadores. Nem mesmo quando tive acesso livre a treinos e sala de imprensa das Laranjeiras. Uma vez, em visita às Laranjeiras, fui praticamente obrigado pela assessoria de imprensa a fazer uma pergunta a Gum, embora houvesse dois repórteres do O´Tricolor.com atuando.
Foi um deleite, em determinados momentos, entrevistar e interagir com Romerito, primeiramente em uma festa da Flunitor em Niterói. Entrevistei Deley quando candidato a presidente do Fluminense em 2013. Houve ocasião em que pude estar frente a frente com Búfalo Gil em festa em homenagem à Máquina, por ocasião da comemoração do aniversário do Maior Clube do Brasil no salão nobre de Álvaro Chaves. Pude, naquele dia, apresentar ao meu filho alguém que fez parte da minha história no Maracanã, lá no começo, época em que eu tinha carteirinha de menor e embarcava nas tardes de domingo no 232 rumo ao Maracanã, carregado por meu pai.
Naquela época, ninguém ficava sabendo da vida pessoal dos atletas. Raramente se ouvia coisas relativas a bastidores, mas isso mudou. E mudou muito. Vivemos a era da globalização da vida pessoal. Quanto mais você está em evidência, mais todo mundo quer saber o que você come no almoço e com quem você faz amor numa noite furtiva de sexta-feira.
De minha parte, essas coisas não interessam. Eu quero saber do que acontece dentro das quatro linhas, o que talvez possa parecer extravagante para os mais jovens. Nunca me empolguei com a contratação de Marcelo, até por se tratar de um processo preocupante de envelhecimento do nosso elenco.
O problema com a idade não é necessariamente o ponto fulcral. No entanto, contratamos um atleta que já vinha em baixa na carreira, ainda que fosse essa descomunal. Como foi, aliás, sua estreia em uma final de Flamengão, na qual goleamos a Dissidência com o placar sedo inaugurado com gol espetacular do cracaço da lateral esquerda.
Minha história como analista nunca teve submissão a afetos. Quem me conhece sabe que eu, o quanto me permita a paixão pelo Fluminense, sou frio e despojado. Em 2022, por ocasião da despedida de Fred, vivi momentos de constrangimento no Maracanã. Toda vez que tentava pisar na arquibancada a emoção vinha tão violenta que eu tinha que sair de novo com a cara lavada.
Passava todo aquele filme, desde a trajetória do Time de Guerreiros em 2009, que me trouxe para o jornalismo. A chegada de Fred naquele ano veio como música boa assaltar meus ouvidos. Nem por isso, deixei de ser um dos mais severos críticos de suas atitudes, mas o que eu levo em meu coração são as coisas incríveis, os títulos brasileiros, que é o que vai ficar na história do Fluminense e da vida de todos nós.
Então, o que eu quero dizer, que parece óbvio, é que lamento o desfecho dessa passagem de Marcelo pelo Fluminense.
Critiquei muito os erros, mas nunca me poupei de me deleitar nos acertos. Se revisitarmos as páginas dessa história, veremos muitas passagens de puro encantamento.
A minha opinião é a de que Marcelo deveria ter se reinventado, se adaptando ao meio de campo. Como fez Júnior, no início da década de 90 na Dissidência. Mas parece que ele não gostou da ideia. Cada um com seu cada um e vida que segue.
Eu prefiro só relatar minha gratidão pelo que Marcelo fez nesses quase dois anos, porque a prerrogativa de julgar esse ou aquele personagem não cabe a mim, ainda mais sem saber da missa nem a metade. O que eu faço é analisar jogos, decisões, políticas e diretrizes, jamais pessoas, exceto estejamos falando de algo que faça mal ao Fluminense.
Obrigado, Marcelo, por tudo! Sem ressalvas.
Saudações Tricolores!