Mais uma eliminação ridícula, mais desculpas, oito anos de vergonha (por Paulo-Roberto Andel)

Depois de uma atuação patética, o Fluminense foi justamente eliminado pelo Atlético-GO na Copa do Brasil, confirmando o que se publica há meses: que nos encaminhávamos para oito anos sem conquistas, de figuração ou pior – lutas sucessivas contra o rebaixamento.

É mais cômodo jogar a culpa nas costas de Muriel, que falhou sim e sempre foi um goleiro mediano. Ou de qualquer outro: o Ganso, o Odair, o Narumbleiguer, qualquer um. Particularmente, Odair tem cumprido uma jornada desastrosa, substituindo Fernando Diniz e aí poderemos fazer uma lista de desastres à beira do campo.

Mas será que é só isso?

Não, amigos, não é.

Nenhum time grande fica oito anos cumprindo jornadas medíocres apenas porque uma vez o goleiro frangou – sim -, ou porque em cinco jogos o treinador fez substituições extraterrestres – sim.

Neste ano, salvo Nenê, o Fluminense tem um mar de jogadores veteranos, lentos, brochados e pior: alguns que pensam que jogam mais do que realmente já fizeram um dia, acompanhados pela passionalidade de alguns torcedores, que acabam também acreditando nisso.

Noutros anos, em todos esses oito, o problema não foi de uma base envelhecida, mas fraca, claudicante, a ponto de nenhum, repetindo, NENHUM dos inúmeros desconhecidos que passaram pelo Fluminense tornaram-se destaques em outros clubes no Brasil – são dezenas de nomes, talvez mais do que uma centena. Enquanto isso, para pagar este mar de mediocridade, rifamos o que tínhamos de melhor: os jogadores da base que foram surgindo. Uma outra exceção é Richarlisson, hoje arrebentando na Inglaterra.

E quando não pagou, o Fluminense virou refém de uma tonelada de ações na Justiça, com muito dinheiro a pagar nas derrotas e acordos. Mas isso não serve de desculpa para a atual gestão, até porque o atual presidente conhece como poucos tudo o que se passou em termos jurídicos no clube, já que prestou serviços dessa natureza por muitos anos ao Fluminense. E todos sabem que o Flu deve demais. Ninguém assumiu nenhum cargo enganado. Quem assume as dívidas também assume um clube com milhões de torcedores, com uma história vitoriosa e secular, com imensa capacidade midiática a ser explorada.

Há anos, parte da torcida acredita piamente nas patetices dos gabinetes de ódio alimentados nas redes sociais, na superestimação de vitórias comuns e jogadores medianos, no discurso vazio de sites chapa branca, quinta coluna ou ex-aliados de candidaturas. Acredita em coletivas de verborragia oca e chinfrim. Acredita num modelo que comprovadamente não deu certo em nenhum clube do Brasil, e que só não afundou o Fluminense antes porque havia a Unimed – o que não nos livrou de Márcio Rosário, Marcelinho das Arábias e companhia ilimitada.

Por tudo isso e muito mais, a derrota desta quinta-feira não pode ser limitada a dois frangaços, uma atuação ridícula e substituições trash. Vai muito além disso.

É a derrota de um modelo que traz o fracasso para o Fluminense há anos. Basta comparar o período atual com outro em que ficamos na seca: 1986-1994. Mesmo dirigidos por gente que queria acabar com o futebol, mesmo tendo destruído o time tricampeão e rifados duas dezenas de juniores, mesmo sem um tostão, o Fluminense disputou títulos nacionais, chegou a finais do Carioca e só não foi campeão porque foi garfado. Nos últimos oito anos, afora a efêmera Primeira Liga, o que restou ao Fluminense foi lutar para não cair e dois vices cariocas “com honra”.

Torcer, a gente torce o tempo todo. Eu torço até em reprises em que o Fluminense perdeu. Só que torcer tem um limite de passionalidade para que não se transforme em irracionalidade. Sinceramente, se o Fluminense não cair até 2022, será uma grande vitória capaz de permitir que os sócios se livrem do mais do mesmo, que assombra o clube há quase uma década. Porque se não fizer isso, o eleitorado pode ter certeza de que não terá mais o Fluminense para torcer, mas sim um America tricolor, com toda a tristeza que essa comparação permite, e também com todo respeito ao time rubro.

Não dei dois treinos, mas minhas quatro décadas de futebol me poupam de achar que essa eliminação foi um azar, ou que somos superiores ao Atlético (em que? Basta olhar os confrontos e a tabela do Brasileiro) mas foi um dia ruim. É hora de encarar a realidade. O time do Fluminense é fraco porque tem um elenco fraco e mal montado. No mais, mal escalado e mal alterado. Tudo isso é fruto de um clube mal dirigido, mal gerido e mal presidido.

Agora foi o Goianiense. Ontem foi o Unión La Calera. Outro dia foi o Goiás, o Athletico, o Bambala.

O problema é o Odair. Antes era o Diniz, o Abel, o Enderson, o Eduardo Baptista e até o Ricardo Drubsky.

Passa Peter, passa Abad, passa Mário, passam as gestões, passam as dezenas e dezenas de perebas em campo, passam as dezenas e dezenas de ações judiciais, passa o abandono do Estádio das Laranjeiras. Passa coisa demais, só que o modelo é o mesmo e ele torce o pescoço do Fluminense. Enquanto isso não mudar, a cada nova eliminação procuraremos os vilões para trocá-los em vão e, a cada seis meses, ninguém se lembra mais do que aconteceu nos seis meses anteriores.

Mais uma eliminação ridícula, mais desculpas, oito anos de vergonha.

Panorama Tricolor

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