Tudo começou na quarta-feira anterior. Levamos um golaço do Figueirense a menos de quinze minutos no fim. Uma patada no ângulo direito, a ponto de absolver Fernando Henrique – justiça seja feita, no auge da carreira. Mas o Fluminense é o time do último segundo e, no finzinho, lá foi o heroico Adriano Magrão a empatar o jogo com 70 mil tricolores gritando, chorando e pulsando. No entanto, depois do fim do jogo a nossa torcida começou a sair do estádio em certo silêncio, dado o regulamento da competição. Eu não: achei que, se o Flu tinha conseguido superar aquela adversidade dentro de casa, tinha renovado forças para decidir fora.
Domingo, de manhã, resolvi ver o treino nas Laranjeiras. A arquibancada superior ainda permitia acesso, voltei a ser um garoto de dez anos quando via Edinho cobrar 5.684 faltas até escurecer. Renato chamou o time e falou. Em seguida, tirou a camisa e a amarrou na cabeça. Golzinho montado, o velho herói de 1995 fez alguns gols, correu para a torcida, teve seu nome gritado. É, não era um treino, mas me deu confiança, não perguntem a razão porque ela não existiu.
Caminhei mais para o lado da Pinheiro Machado. Na trave paralela à lateral, aí sim Fernando Henrique treinava mesmo. Dez, vinte, cinquenta, cento e vinte chutes. Pegou tudo. Fiquei atônito: “Será que vai dar certo?”. Ia, sim.
Marquei com o Tiba de vermos a decisão na Estrela do Sul da Praia de Botafogo. Casa cheia, praticamente uma sucursal da nossa arquibancada. Tinha até pó de arroz. Tudo foi diferente: desta vez marcamos o gol cedo, muito cedo, com o imortal Roger. Depois, aguentamos uma pressão danada e também perdemos a chance de ampliar o marcador. Fernando Henrique pegou tudo.
Num momento do segundo tempo, Deley, o craque, sorvia um drinque. Na TV, alguém do Flu simulou um lançamento. Gritei: “ACERTA ESSA, DELEY!”. Cinco segundos de risos, a fera respondeu: “Essa não deu pra mim”. Estávamos tensos e confiantes. Deu tudo certo: o Fluminense voltou a conquistar um título nacional. A churrascaria virou uma processão a pé até Laranjeiras. Encontrei minha amiga Luisa Sussekind. O Tiba vibrava por todos os cantos. A rua foi interditada.
No dia seguinte lotamos o Santos Dumont. Eu mesmo tirei uma foto. Renato, fanfarrão que ele só, com seu indefectível par de óculos escuros, a multidão de três cores varrendo o aeroporto, o Rio em festa. Tivemos o grande chope em Laranjeiras numa festa que varou a tarde e noite. Jorge Pinto era felicidade plena, o Leo também. Depois, ainda viveríamos infernos e céus como somente nós somos capazes de navegar. Cinco ou seis anos épicos do Fluminense começaram com aquele toque do Magrão no Maracanã, avançaram com o passe fantástico que ele deu para Roger sacramentar o título de 2007 e estão por aí até hoje. Estarão.
O futebol é um segundo entre a fé, a glória, o drama e a história.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: rap
Estava de plantão e entre a emissão de um certificado internacional e outro, eu dava uma olhadinha no jogo. Quando o Helder Roberto Lopes apitou o final do jogo, saí pulando e gritando feito uma louca. Os colegas plantonistas riam de mim, mas sabiam da minha felicidade naquele momento.
Gente, esse Helder não sei de onde veio, eu digitei Eder. Rsrsrsr
Andel: ahahaha.