Esforço. Disciplina. Privações. Uma vida de dificuldades estruturais e financeira. A juventude abandonada, vivida sob a cobrança que sofre um adulto. Tudo por um sonho: sonho de ser feliz. O arrepio e o êxtase que o futebol proporciona oferecem ao jogador essa realização. O mínimo bailar da bola já o felicita, mas o encanto é vislumbrar um dia ser imprescindível para centenas, milhares de pessoas.
Assim foram as lágrimas do sonho de Richarlison, que marcou seu primeiro gol num jogo oficial pelo Fluminense: o choro do sonho realizado, conquistado pelas gotas de suor que só ele sabe o valor que tem. A escolha dos deuses do futebol foi caprichosa: marcar um gol da vitória tricolor num Fla x Flu.
Genialidade. Fama. Fortuna. O melhor jogador do seu tempo e entre um dos melhores de todos os tempos. O maior protagonista da arte maravilhosa de jogar futebol, o artista que encanta o respeitável público do esporte mais popular do planeta, com gols de placa, jogadas espetaculares, conquistas constantes, comoveu esse mesmo público ao derramar as lágrimas da derrota, da perda, da falta, do amor não correspondido.
Messi, ainda menino, já radicado na Espanha, se recusou a jogar por outro país. Lionel Messi não precisava jogar na Argentina. Essa mesma Argentina que cobra dele feito carrasco: se jogar bem, não fez mais que o normal; se perder, não fez nada. Os gols perdidos por companheiros ou falhas defensivas não são levadas em conta. Messi é o escolhido para ser crucificado.
Os argentinos só se esquecem que Messi joga com a camisa azul e branca não para triunfar, mas para torná-la triunfante, do tamanho dele. Não conseguiu. Muito provavelmente porque o torcedor argentino nunca teve nem de perto o tamanho de Lionel, que até na derrota foi genial, gigante, encantador e nos arrebatou de emoções.
Na Eurocopa que tenho assistido com assiduidade de uma beata fanática, jogadores milionários, consagrados, que moram e jogam fora de seus países, igualmente vibram como um Richarlison, um menino que saboreia o primeiro grande momento dessa fábula estonteante que é o futebol.
Ver Gareth Bale emocionado com os feitos inéditos do País de Gales; ver um campeão mundial como Gianluigi Buffon, aos 38 anos de idade, vibrar com paixão mesmo próximo do fim de carreira; ver um time inteiro representar meros 350 mil compatriotas, islandeses que estreiam numa competição importante, eliminando uma Inglaterra, alcançando as quartas e batendo palmas simetricamente com seu torcedor na comemoração, transformando o campo num show de Rock and Roll, é o que é o futebol: esse elo que irradia luz, êxtase, triunfos e perdas, esse apaixonante elo que enlaça, envolve e enebria, essa tríplice inquebrantável: uma camisa, seu torcedor e o jogador.
O resto é frívolo. O resto é recheado de vampiros do suor, da privação, do sonho do atleta, chupadores da paixão leal, fiel e digna da torcida, sem nenhum interesse no que representa a camisa, nem ao menos na preservação da sua história e essência, porque essa tríplice que materializa o futebol só lhes serve como ponte e fonte de renda.
Mas não se engane: por mais que tenha se tornado um esporte bilionário, administrado pela superficialidade de dirigentes e empresários, o futebol nunca deixou nem deixará de pulsar vida, lágrimas de emoção, seja esta de torpor e louca alegria, seja de tristeza ou frustração.
São em momentos emocionantes porque puros como aquele que Richarlison nos proporcionou, Lionel Messi arrebatou e como tantos jogadores vêm nos banhando, lavando almas brasileiras tão descrentes e mal tratadas, que mantém nossa pulsação de torcedor rediviva em detrimento à frieza, à esquizofrenia mórbida daqueles que dirigem nossos clubes e daqueles que dirigem os jogadores.
Está sendo maravilhoso me impregnar de futebol nesses dias!
TOQUES RÁPIDOS:
– Não sai da minha cabeça um chute bizarro que Cícero deu num contra-ataque nosso, em momento crítico do jogo. Está passando da hora de descobrirem que ele disputa posição como segundo volante. Embora, ultimamente, pelo rendimento, dispute mais a posição no banco.
– Claro que vencer um Fla x Flu, embora normal, é sempre delicioso. Mas o time ainda é perneta. Falta-nos um lateral esquerdo (qualquer um!), um meia ofensivo (o 10) e mais um atacante, de preferência que não jogue fixo, porque só trava o ataque e precisa ser muito acima da média, como Fred era, para ajudar mais que atrapalhar.
– PROBLEMA NO GOL: Reluto sempre em mexer com jogadores com histórias lindas, que protagonizaram títulos importantes, como nosso camisa 12, em 2012.
Mas Cavalieri chega na metade de uma segunda temporada (rechaçando a tese de fase), com atuações ridículas. Pesado e lento para os saltos; preso e hesitante nas saídas de gol. Não pode. Não dá mais porque o gol é o único setor do time que depende somente de um jogador e este não tem cobertura. Tite não hesitou em barrar o heróico Cássio. No Fluminense, tudo é cheio de melindres e “Não me toques”. Nessas horas, eu acabo concordando quando os rivais nos chamam de “Florminense”…
– Não será um time dos sonhos, mas será um time mais encaixado quando no retorno do Marcos Jr, abrir-se mão de um dos dois volantes: Douglas ou Cícero.
– Nosso menino Richarlison viajará. Treinou ontem e vai para o jogo. No banco. Jogaria com ele com Maranhão, Scarpa e Magnata. Mas não sou eu quem escala. Uma pena porque faria a torcida mais bonita do mundo também a mais feliz do mundo, rá!
– Wellington Silva completará 100 jogos vestindo a camisa do Fluminense, na próxima quarta, diante do São Paulo, no Morumbi. Somos heróicos…
Abraços
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @CrysBrunoFlu
Imagem: bruc
Sem comentários.
Somente aplausos!!!!!
ST
“Brigadao”, Gaia. Vc manda aqui já. Rs
ST
Este mundo do futebol não há diferenças entre classes, etnias, etc.
Todos são iguais dentro deste globo.
Oi, Eduardo. Exatamente. Isso é o que encanta…
Muito obrigada pelo seu registro.
ST
Coluna espetacular como sempre. Continue! ST
Muito obrigada pela força, Fernando!
ST por aí tb!