Nos tempos modernos, a moda é lacrar. É ser o fodaço, o cara que sabe tudo, presente e onisciente. É assim no mundo, no Brasil, no combalido Rio de Janeiro e, por fim, no Fluminense. Infelizmente, porque no fim das contas este ser lacrador, fodaço e onisciente simplesmente não existe.
No fim das contas, quem tem lacre mesmo?
No caso do nosso Tricolor, difícil dizer. Mas uma coisa é certa: há anos e anos, seja pelo modelo eleitoral, pela physys tricolor e congêneres, o fato é que de lideranças no clube andamos mal pacas há muito tempo. Nunca me perdoarei por ter apoiado criaturas como Peter Siemsen e Pedro Abad, mas como estou longe de ser uma besta, aprendi a lição a tempo. Menos mal que quando os apoiei, o fiz pelas minhas próprias convicções à época, sem conchavos, acordos e empreguinhos com salários gordões, prática nefasta do futebol brasileiro e da qual o Fluminense não se exime.
Aos fatos: estimulados pelos escritórios do ódio tricolor há anos na internet, verdadeiros cânceres do clube que se locupletam disso – e ninguém precisa encher o saco aqui cobrando nomes porque todos são deveras conhecidos, notórios aliás, vide grupos políticos e sites de clipping -, muitos torcedores passaram a desenvolver uma espécie de bipolaridade constante quando se trata de Fluminense, ora transformando um arremedo de time numa supermáquina multicampeã a cada três vitórias, ora dizimando tudo a cada ponto perdido. Só que o Fluminense não é uma coisa nem outra. Discute-se o ponto da curva e não a estrada errada. O casuísmo toma o lugar da profundidade. Sem contar, por exemplo, a destruição das arquibancadas bem antes da pandemia, onde, em nome de um jeito “certo” de torcer (nada pode ser tão ridículo quanto querer regular como se deve torcer), o senso crítico foi alijado por uma falsa fidelidade patética, transformando parte da torcida numa claque.
Que tal um breve choque de realidade, que não deve tirar nada da nossa vontade de torcer? Temos um clube falido por gestões temerárias, cujas contas públicas oferecem muito mais desconfianças do que certezas. Há quase dez anos somos figurantes de todas as competições. Nos últimos sete anos, lutamos cinco vezes para não cair. Não conseguimos revelar um único ídolo da base que tenha permanecido duas temporadas consecutivas com rendimento esportivo. Ah, e qualquer jogador da base é “joia de Xerém” – que tal olharmos para trás nos últimos dez anos, pegando uma amostra consistente de quem realmente foi joia?
Perdemos as duas únicas decisões relevantes que fizemos, ambas contra nosso maior rival. Temos vivido de lampejos, de momentos, bem diferente do que foi o Fluminense na maior parte da sua história até aqui. Bom, dado este cenário, de onde alguém tirou que o Fluminense ia virar campeão brasileiro vencendo todos os seus jogos de uma hora para outra? Até um dia desses a gente não tinha vencido um jogo sequer depois da paralisação do futebol. Aí você junta um cata-cata de empresários e vira campeão? Se assim fosse, não estaríamos na seca de quase uma década.
Ok, somos torcedores e ao torcedor cabe a paixão, por mais que ela chegue às raias da indesejável irracionalidade. Agora, para quem pretende ter credibilidade oferecendo informação, até formando opinião, e dirigindo o clube, não dá.
Hudson foi muito mal? Claro, já estava. Veio mal do São Paulo. Pode ser útil? Claro, só que é lento, então o treinador precisa ter isso em mente para armar o time. Se foi anunciado como grande reforço, a responsabilidade é de quem anunciou.
Marcos Felipe é bom goleiro. Foi importantíssimo ano passado. Entrou contra o Vasco, deu uma bobeira e já tinha gente querendo o enforcamento do cara. Fez um partidaço contra o Atlético Goianiense.
Nino. Tem crédito, muito crédito. Deu bobeira na quarta, deu. E Evanílson,que perdeu gols feitos nos outros jogos mas fez um golaço agora? E Fred, que não havia jogado nada até fazer o golão contra o Vasco e depois se apagar de novo, mas sendo a esperança deste domingo? Enfim, são três, quatro, cinco nomes, mas dava para falar do elenco inteiro registrando prós e contras, até finalmente se chegar à conclusão de que o principal problema até aqui foi de montagem – e por isso ainda temos um time oscilante.
Marcos Paulo é enganador? É? Desaprendeu a jogar? Não, né? Então por que a queda no rendimento? Seria bom investigar.
Ah, o time do Fluminense pode dar liga, arrancar e conseguir uma boa classificação no Brasileirão? Talvez. Tudo está nivelado por baixo, o mando de campo está desimportante sem torcida, as preparações físicas foram abalroadas. Agora, a chance de não dar liga é a mesma, porque quando se monta um time de supetão pode acontecer qualquer coisa, até porque temos um problema sério em relação a outros potenciais pontuadores: um excesso de jogadores veteranos, que implica no revezamento de escalações, na eventual perda de velocidade, na necessidade de substituições planejadas etc. De uma vez por todas: não é qualquer jogador que consegue manter alto rendimento a partir de trinta e poucos ou trinta e muitos anos. Se assim fosse, como a experiência é fundamental, todos os times só escalariam veteranos. De uma vez por todas, Nenê é exceção e não regra. Isso significa torcer contra? Só para os raciocínios rudimentares.
A prevalecer a belicosa bipolaridade da internet, é fácil prever as grandes cruzadas do próximo domingo à noite: Odair é uma porcaria (se o Flu perder), Diniz é uma farsa (se o Flu ganhar); Fred é eterno (se fizer gol), silêncio (se não jogar nada). E tal como temos feito nos últimos anos, a cada nova rodada o Fluminense é herói ou vilão porque só se avalia o ponto e não a conjuntura inteira, o histórico, o que realmente precisamos para voltar a disputar títulos, em vez de celebrarmos migalhas no domingo para desperdiçá-las na quarta-feira.
O Fluminense não ganha do Vasco e entrega a paçoca para o Goianiense por acaso. É fruto de uma longa trajetória de erros que tem se repetido desde o incrível tetracampeonato brasileiro antecipado de 2012, tão incrível que é muito raro um título antecipado na história do clube. Aliás, é bom que se diga: mesmo naquela época – e muitíssimo antes – já havia erros crassos. Afinal, onde Peter Siemsen e sua curriola pisam, não nasce grama. Mas se pensarmos bem, quando foi que vimos o Fluminense dos nossos sonhos, dentro e fora do gramado, desde os anos 1980?
Por fim, um desejo sincero aos que acompanham estas linhas: fujam dos lacradores tricolores como o Diabo foge da cruz. Fujam de tudo, até mesmo daqui do PANORAMA e de qualquer lugar onde o lacrador tricolor possa ameaçar a paciência dos outros com sua presença inútil e mesquinha. Todos os lacradores tricolores em nada servem para o engrandecimento do Fluminense. Alguns inclusive chegam longe dentro do clube, mas é um dever lutar para retirá-los de lá.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
#credibilidade
SE A PERFEIÇÃO É UMA META E DEFENDIDA PELO GOLEIRO QUE TAMBÉM JOGA NO CLUBE E NÃO É MESMO GILBERTO PASSOS GIL MOREIRA?, RECUPEREMOS A SENSATEZ OPORTUNA E INTUITIVA DO ELBA DE PÁDUA LIMA, ACOMPANHADA DA CERTEZA DE APROXIMAR – MO – NOS DA META CASO AS PEÇAS AVALIADAS EM SUAS VOCAÇÕES OBTENHAM PERFORMANCE NO CONJUNTO MAIS PRÓXIMO DO ÓTIMO, GUARDADAS AS EFÊMERAS E FUGAZES MANIFESTAÇÕES ONDE SOBRESSAIA – SE A INSIDIOSA SOBERBA..