Atravessando a rua a caminho do trabalho, passo em frente ao prédio da Polícia Civil na esquina de Rua da Relação com Gomes Freire. Lugar de poucos carros, mas resolvo esperar a abertura do sinal. O que são dez ou vinte segundos a mais? Não custava nada.
Ganho o asfalto. Do outro lado da rua, bem em frente ao Bar Massapê, um restaurante favorito dos policiais, vem um senhor no caminho contrário. Calmo, baixinho, carregava um pequeno vaso de plantas, talvez para entrega. Um homem humilde deste povo tão massacrado 24 horas por dia. Contudo, um detalhe o distinguia de todos os outros transeuntes naquele momento: uma linda camisa grená do Fluminense.
Antiga. Suponho que por volta de 2004. Não oficial, para o desespero de alguns. Mas bonita. Bonita.
As camisas marcam o tempo. O ano de 2004 não foi lá essas coisas, mas é impossível não lembrar do que poderia ter sido – mas não foi – com os talentos de Edmundo, Romário, Roger e Ramon. Ninguém se falava, era uma bagunça, mas é claro que se tratava de nomes de peso. Não disputamos finais, também não corremos o risco de queda. Um ano medíocre, podemos dizer.
O Maracanã ainda era o Maracanã e no ano seguinte ganharíamos um belo Carioca. A Copa do Brasil e a vaga na Libertadores bateriam na trave, mas não por muito tempo.
Era bom demais depois do jogo comemorar a vitória do Flu em casa com a família. Se não ganhasse, a gente se resignava e esperava o próximo jogo. A próxima parada. Na quarta eu sorri sozinho. É duro demais ser adulto a caminho do fim, mas é o que resta. Felizmente veio a classificação.
O senhor passando, atravessando a rua lentamente e aquela camisa antiga, surrada, alijada do mundo oficial mas tão representativa do meu time, mesmo lembrando uma época de pouco brilho.
Tanta coisa para pensar em vinte segundos, respirar e constatar: por mais que os ventos soprem contra ou a favor, por mais que os maus homens controlem poderes efêmeros, por mais que os anos em campo não sejam os que se espera, em alguma rua uma camisa do Fluminense há de brotar como uma página viva do coração de muitos tricolores.
Foi-se embora o senhor com seu vasinho de plantas e sua camisa inconfundível, descendo a calçada do antigo – e maldito – DOPS. Sem medo nem esperança, eu sigo para o outro lado, esperando escapar do inferno e da dor, procurando esmolas de solidariedade tão raras, olhando as ruas tristes e vazias numa cidade desempregada, até que chego ao trabalho, coloco um CD para tocar, bebo um copo d’água, sento e aguardo algum cliente.
Toca a campainha. Pai e filho, o garotinho com uma camisa do Botafogo. Se não é a do meu coração, merece todo o respeito da mesma forma. Enquanto as crianças se encantarem com o futebol, a esperança permanece.
Panorama Tricolor
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#credibilidade
A grande imprensa matou o futebol. Hoje, o que vemos, é um arremedo do q um dia chamamos futebol. A deificação de pernas de pau, q em um jogo, quase sem querer, fazem um gol sensacional, é um dos motivos. Outro motivo é a torcida descarara, para um clube, q por ter a maior torcida, vende mais jornais, cliques, etc. Para completar, crianças, muito mais influenciáveis q adultos, a perdurar a situação atual, em quase sua totalidade, aqui no Rio, vestirão a camisa do “mais querido”.