Um dia eu sonhei ser jogador de futebol. Treinava futsal em um clube perto de casa, em Sepetiba. Comecei aos 10 anos. Era goleiro, mais novo do grupo e jogava com garotos de todas as idades. Gostava daquela sensação de competição constante.
Um dia meu treinador saiu do clube e foi para o Flamengo. Tempos depois ele me chamou para fazer um treino e quem sabe entrar para o grupo. Fui. Joguei um amistoso, mas logo na saída avisei que não voltaria mais. Aos 14 anos, dividir os estudos com o futebol não era uma pretensão. Meus planos tinham mudado. Já pensava em ser jornalista e escritor.
Meu pai jogou profissionalmente. Começou nas divisões de base do América e depois foi jogar em Belém-PA. Zagueiro habilidoso, encerrou a carreira para voltar ao Rio e ter a família, estudar, crescer. Foi daí que nasci.
Fomos jovens que sonharam com o futebol, mas que viram nos estudos um caminho a se seguir. Seríamos felizes também no futebol, mas nosso destino era outro.
Toco neste assunto ao ver os garotos da nossa base passando por situações que nos levam a crer que há algo de errado na formação deles.
As divisões de base dos clubes no Brasil são um reflexo da realidade do jovem no país hoje. A educação está em crise. A relação familiar praticamente não existe. Os jovens acabam sendo presas fáceis para o crime, para a indisciplina, para a irresponsabilidade.
Casos como o de Michael e Robert continuarão a acontecer, pois o futebol que dá fama e dinheiro a meninos que vieram de origens pobres, não dá orientação correta para saberem que tudo na vida é efêmero, que o atleta profissional tem obrigações e não só direitos, que o poder não deve subir à cabeça e que para crescer são necessários conhecimento e humildade.
De Xerém, nos últimos anos, saíram Marcelo, os gêmeos do Manchester, Thiago Silva, Wellington Ném e Maicon Bolt. No passado tivemos Telê, Edinho, Branco, Preguinho e tantos outros. Além de craques, eram homens íntegros e serviram de exemplo para os demais.
Michael hoje dá palestras para garotos que sonham com o mundo do futebol e que estão à disposição das drogas e más influências. Robert talvez aprenda com o que aconteceu e poderá vira ser o grande jogador que todos esperam.
O que acontece no Fluminense é só um pequeno pedaço do que ocorre no Brasil. Antes do jogador de futebol, deve ser formado o homem. Xerém deve ter boas condições esportivas, mas também estrutura psicológica para dar suporte ao futuro do nosso clube.
Panorama Tricolor
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Imagem: RAP