Taí uma coluna que nenhum de nós queria ter escrito, mas que é necessária.
A morte de Jô Soares é o capítulo final de um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos. Muitos e muitos o conheceram por ser o maior apresentador de talk show do país mas, por incrível que pareça, esta era apenas uma das suas inúmeras personas artísticas.
Ator, diretor de teatro, humorista, apresentador, escritor, roteirista, músico.
Nos anos 1980, o Brasil parava nas noites de segunda-feira, horário nobre, para ver os personagens humorísticos de Jô Soares em ação, dezenas deles. Ao lado de Agildo Ribeiro, Chico Anysio e Ronald Golias, liderou o Big Four do humor brasileiro.
A genialidade de Jô Soares surgiu nos anos 1950, quando outro gênio lhe deu a primeira oportunidade na TV: o apresentador Silveira Sampaio. Jô fez parte de sua equipe de redatores e dali decolou para um longo voo. À época, Silveira era o principal showman do Brasil.
Por fim, a cereja do bolo que traz Jô Soares aqui: um tremendo, tremendo, tremendo tricolor declarado quando poucos artistas o faziam. A condição de humorista muitas vezes atrapalhou o entendimento de alguns tricolores sobre o artista, mas Jô foi um imenso torcedor do Fluminense. Com toda a elegância que foi sua marca, recusou duas solicitações de entrevistas comigo, pelo mais nobre dos motivos: morando em São Paulo, acompanhava o Flu à distância e não se sentia seguro para falar à altura do clube. Impecável para quem nasceu em 1938, em meio à campanha daquele que, para muitos, é o maior esquadrão da história do Fluminense – a poderosa academia de football da segunda metade dos anos 1930.
Graças a ele, no começo dos anos 1990, conheci o jazz e nunca mais larguei: no tempo dos walkmen, Jô apresentava um programa do gênero na JB FM. Curiosamente, não fui um discípulo ipsis literis: os heróis de Jô eram dos anos 1930, como Gene Krupa, enquanto sentei praça nos anos 1950 em diante. Foi um professor para mim, donde sou muito grato.
No fim dos anos 1980, Jô Soares liderava o principal programa de humor na TV brasileira, mas já ansiava por trocar de farda e trabalhar com entrevistas. Tentou fazer o programa na Globo e não conseguiu. Apostou sua carreira e foi para as madrugadas do SBT, com audiência dez vezes menor. Doze anos mais tarde, a Globo lhe ofereceu o tapete vermelho para a volta triunfal, onde seguiu até o fim da carreira. Era um desafiador nato, como se sabia desde os tempos da outra ditadura, quando criou uma técnica para liberar suas peças de teatro da censura: sempre que o texto possuía um parágrafo comprometedor para os ditadores, Jô inventava um parágrafo anterior completamente absurdo e cheio de palavrões. Coléricos, os censores avançavam vorazmente no parágrafo fake e acabavam deixando o verdadeiro passar…
Por seis décadas, Jô Soares foi uma força, uma presença e um furacão na arte brasileira. É impossível falar do sucesso na TV sem mencioná-lo. Criou centenas de personagens, depois inovou ao levar o homem comum e divertido para entrevistas. Fez rádio, teatro, cinema. Foi um artista completo, gigantesco. Em todas essas vertentes foi um cronista – e também crítico – do cotidiano. Mesmo involuntariamente, era um combatente da gordofobia. Com humor e ironia, criticou a homofobia. Denunciou a corrupção como poucos.
Viva o gordo com seu escudo tricolor navegando pela memória da arte do Brasil!
Eu já me sentia meio órfão quando o programa dele findou, agora estou meio desolado. Foi o maior entrevistador da história da TV brasileira. Talvez do mundo.
Hoje acordei e me deparei com a triste notícia um ilustre ❤️ Tricolor nos deixou.
Belíssimo texto #beijodogordo☺️
Saudações Tricolores!!!❤️
Sou Flamenguista! E quero externar os meus sinceros sentimentos! A grande torcida tricolor.
Jô Soares, grande homem, grande artista e grande tricolor!! Meus sentimentos a todos tricolores! E viva o gordo!
Grande abraço, Carlos. Obrigado.