Involuindo (por Zeh Augusto Catalano)

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Estamos em 2015.

É inadmissível que pessoas de bem, torcedoras de Fluminense ou Vasco, tenham temores de ir ao jogo de domingo por medo.

É inadmissível que eu não possa sentar-me com Andel, Rods, Ernesto, Renato Hahn, Professor Walace e outros e assistir o jogo, cada um torcendo pelo seu time, sem que trogloditas de um lado ou de outro nos incomodem.

É inadmissível que um dos responsáveis pelo espetáculo tente me alijar do meu direito de ir ao estádio ver meu time. E o faça repetidas vezes, com o claro intuito de reduzir o número de testemunhas da contratação do Fluminense, vergonha (dele) e raiva (da situação) pela qual os vascaínos presentes terão de passar graças à Sua Excelência, o déspota.

É inadmissível que um torcedor comum, sócio ou não, tenha de passar pela provação de quarar por três, quatro, cinco horas para comprar um ingresso para um espetáculo. O futebol (brasileiro!) é a única atração que conheço que, num espaço construído para 70 mil pessoas, vende ingresso para 50 mil e tortura os que desejam lá estar. É preciso querer muito. Vencer horários ridículos. Encarar violência. Estar preparado para pagar fortunas por um refrigerante, um pão com salsicha, batata-frita. Semana passada cobravam oito reais por um saco de 50 gramas de ar com batatas no Mané Garrincha.

Claro, me recusei a pagar.

A toda-poderosa quer que você desista. Pay-per-view. É esse o objetivo. Mas você, teimoso, burro, persiste. Quer ir ao jogo.

É inadmissível o tratamento que os clubes dão hoje em dia ao torcedor comum. Caras como meu pai. Aposentado do trabalho e do Maracanã. Com 60 anos de arquibancada. Em sua cabeça, ele não tem de gastar o dinheiro dele para alimentar os desmandos do comandante do clube e pagar 100, 200 mil para muquiranas desonrarem a camisa que vestem. E ele tem esse direito. Tem o direito de pensar assim. Outros, desempregados, sub-empregados, grana apertadíssima, devem ser respeitados em seu direito também.

Ser sócio deveria ser uma relação de troca. Você ajuda o seu clube a crescer e recebe algo – no mais das vezes intangível – em troca. Hoje, da forma como as coisas estão sendo colocadas, está se tornando uma imposição. E pelo lado do clube, é tratado como uma forma de caridade. O torcedor de verdade tem de botar o seu suado dinheiro pra ajudar o clube porque o outro clube tem X mil torcedores a mais e vai se tornar uma potência. Então somos quase que obrigados a nos tornar sócios de uma instituição que, na verdade, caga pra gente (caso genérico). E criticados por aqueles que são sócios e pensam assim.

O que recebemos em troca?

A facilidade ao adquirir um ingresso para um jogo é o mínimo e não deveria sequer entrar nessa conta, pois deveria ser um direito de todos os que se interessassem pelo evento.

Prioridade para os sócios? Perfeito. Mas não pode ser só isso.

Espero que o jogo de domingo seja maravilhoso. Que transcorra em paz, sem que obnubilados de qualquer lado transformem a diversão de milhares num aborrecimento.

O Vasco tem 90% de chance de ganhar do Fluminense.

O melhor a fazer nessas horas é rir de si mesmo.

Obrigado por mais essa, Eurico…

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: zac

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1 Comments

  1. prezado catalano,
    muito obrigado pelo texto.
    espero que possamos evoluir, sem arrogância e charutos. que consigamos nos unir contra o informal conluio entre os velhos picaretas e os novos ‘gestores de Playstation e simcity’ – abençoados pelo rede maldita.
    que meus amigos tricolores, e um grande amigo vascaíno, possam assistir no ex maraca um bom jogo de futebol,
    abraços fraternos, do ‘alemao’

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