Apesar da derrota no clássico, não se pode alegar falta de evolução, de treinamento, de propósito tático, de dedicação e, sobretudo, de coragem. Perdemos, mas convencemos.
Entre o resultado e o desempenho se enxerga a condução de um trabalho que, até agora, é satisfatório. Até mesmo pelo contexto ruim e turbulento do primeiro semestre. Podia ter sido melhor, entretanto nunca podemos esquecer que o trabalho está no início e pouco foi encontrado para se aproveitar… Entre erros e acertos, Fernando Diniz vai conseguindo evoluir a equipe coletivamente.
O Fluminense continua melhorando a compactação entre os setores, tanto nas transições quanto nas fases do jogo. O time procura estar sempre agrupado, seja saindo do campo de defesa, concentrado para progredir com a posse, ou na transição defensiva, ao perder a bola no campo de ataque.
Os maiores equívocos de Diniz não estão nos aspectos estratégicos, mas na escalação e insistência com alguns jogadores.
A estratégia para o clássico foi inteligente e efetiva. Se não fossem os milagres de Hugo Souza, goleiro que viveu sua noite de redenção, o resultado seria diferente.
Sabendo que o rival iria partir para cima subindo a marcação, Diniz montou sua arapuca na saída de bola lateral com concentração e evolução associativa, sempre com o objetivo de vencer essa primeira linha de pressão e achar espaço por trás de sua agressividade. Nos 20’ iniciais, foi assim que o Flu controlou essa volúpia do adversário e conseguiu ser agressivo. Jogando principalmente pelo lado direito, o Tricolor enfrentou a marcação alta com técnica e propósito de escape bem definido.
A saída, como demonstrado no campo tático abaixo, era feita pela lateral com a participação de Ganso, o elo desse domínio. Árias flutuava da ponta esquerda para o setor da bola, o que propiciava superioridade numérica e confundia a marcação do Flamengo. Faltou velocidade e objetividade para aproveitar melhor esses espaços criados no primeiro tempo.
Apesar de fazer um primeiro tempo melhor, o Flu levou o gol de empate pelo setor esquerdo, o que não foi novidade. A fragilidade não se deu somente por Yago estar improvisado na lateral, mas por outro dois fatores. David Braz está lento e visivelmente cansado. Já John Árias tinha que se deslocar do centro para recompor a linha de meio pela esquerda, o que por vezes deixou Yago exposto.
No segundo tempo, o Fluminense voltou impondo suas linhas e dominou completamente as ações. Até levar o segundo gol, o Tricolor tinha 63% de posse e muito mais finalizações. Faltou objetividade e menos preciosismo para fazer o segundo. Lembrando que o tento da virada do rival novamente saiu pelo flanco esquerdo. Houve um apagão coletivo envolvendo David Braz, Yago e Wellington. Bastaram alguns minutos de troca de passes para o Flamengo achar um buraco no lado mais frágil da defesa do Flu.
Abaixo, o 4-3-3 montado por Diniz depois de ter sofrido o gol da virada. Após a entrada de Matheus Martins e Caio Paulista, o Flu iniciou o abafa no campo de ataque e subiu a posse para quase 80%. Foram muitas finalizações, mas faltou capricho e sorte.
O Fluminense, como declarado por Diniz, foi dominante e atuou muito melhor que o rival. O time está compactado e busca o equilíbrio de suas ações sem perder o apreço pela posse e pela ofensividade.
A equipe equaciona com inteligência a transição defensiva, atacando o portador da bola e também se reorganizando com velocidade. Isso tem impedido a progressão dos rivais e maior proteção ao sistema defensivo.
Entretanto, nem tudo são flores. Diniz precisa repensar Yago na lateral esquerda e essa titularidade intocável de Wellington. Seus propósitos de dominância tática pedem outro homem de qualidade no centro para dialogar com André e Ganso. Este, aliás, ficou sobrecarregado no acompanhamento da posse e isolado nas ações pelo corredor central. Árias até flutuava da ponta para o meio, mas ficava mais à frente próximo de Cano e Luiz Henrique.
Outro fator a ser melhorado é o maior aproveitamento da base para oxigenar e qualificar o elenco. Quando a molecada entra, o Flu se impõe com petulância e mais intensidade. Salve o Tricolor!