Prezados amigos, saudações tricolores!
Eu era pequeno, bem pequeno. Aliás, eu nem “era” ainda, mas já era tricolor. E não havia alternativa possível, dado o envolvimento do meu pai com a causa. E com o velho não foi diferente…
Nasci em 1972, época em que conquistávamos campeonatos ano sim, ano não. Não raro, ano sim, ano também. Meu primeiro filho nasceu em 1996. Desnecessário dizer o que aconteceu ano sim, ano também, ano de novo… e menciono o período das trevas somente para permitir que se tenha uma dimensão dos níveis de desafio postos para o meu pai e para mim, no que diz respeito à perpetuação de nossa torcida.
Apesar dos enormes desafios, a carga genética deve ter falado mais alto. Deu certo. Como deu também com os demais. Todos tricolores. Assim como minha esposa e minha enteada. O futebol une. Reforça vínculos familiares e cria laços de amizade.
Posso afirmar de forma inequívoca que o Fluminense me trouxe muito ao longo da vida. Amigos que se tornaram mais próximos, a esposa que conheci em pleno estádio de futebol, momentos marcantes com o velho e com meus filhos. Momentos de êxtase e de uma felicidade intensa que só conhece quem é capaz de entender o futebol além do que se enxerga. Não foi pouco.
Assim como não foram poucas as vezes em que desejei poder abraçar Oscar Cox e apertar a mão de cada um dos fundadores do Fluminense. Eu queria ter ouvido os planos daquele grupo ilustre, reunido em torno da figura do nosso primeiro presidente. Eu queria ter testemunhado aquele momento. Da mesma forma, não foram poucas as vezes em que desejei trocar uma ideia com Arnaldo Guinle. Saber dele o que tinha em mente, conhecer os seus planos para um futuro que já nos alcançou.
Era isso?
Já fomos o clube do Stadium. O maior deles. Já tivemos mais títulos do que todos os rivais somados no extenso rol de esportes que disputávamos outrora. Sim. De clube de futebol, um dia nos transformamos em potência desportiva. Até que um dia viramos as costas para isso tudo e seguimos, passo acelerado, no caminho inverso.
Ainda que seja impossível ignorar que a estrutura do desporto nacional mudou, alguns de nossos rivais nos mostram o tempo todo que não era preciso ter abandonado tudo. As cifras explicam muita coisa, eu sei. Não precisava ser assim.
É legal saber que somos detentores da Taça Olímpica. Deve ter sido muito mais legal merecer a Taça Olímpica. Deve ter sido fantástico. Os mais novos não têm a menor ideia de que Fluminense era esse, capaz de se tornar digno de tal comenda. Tenho 44. Talvez tenha visto resquícios deste Fluminense. Não os vejo mais.
Foram fantásticos também os muitos títulos conquistados ao longo dos anos. As muitas Máquinas formadas em diferentes épocas. Os “Timinhos” briosos e valentes, cheios de caráter e carisma. Cheios de uma identidade que parece ter se perdido pelo caminho.
De potência desportiva, passamos a um clube de futebol não mais do que razoável. De vez em quando, ganhamos. De vez em quando, somos campeões. De vez em quando. Os intervalos entre as conquistas se tornaram maiores. Assim como eu, muitos nasceram em épocas de título ano sim, ano não. Não raro, ano sim, ano também. Já fomos bem mais do que somos hoje. Em qualidade e em quantidade. Em torcida, também.
“Nós somos a história!” e nos orgulhamos disso, mas o novo sempre vem.
E se você chegou até aqui, saiba que essa coluna não faz qualquer referência ao atual mandatário. Esse processo não começou agora. É imperativo, no entanto, interrompê-lo, sob pena de nos tornarmos apenas história.
A história precisa continuar a ser escrita, para que nossos filhos tenham mais a transmitir a nossos netos do que a simples repetição daquilo que ouviram um dia. É preciso que vivenciem a história. É preciso que a história se renove.
É preciso que o Fluminense volte a ser o Fluminense.
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“Ser leal a qualquer time esportivo é algo bem difícil de explicar. Os jogadores estão sempre mudando, o time pode mudar para outra cidade, e por isso você está na verdade torcendo para as roupas, no fim das contas. Você está de pé, torcendo e gritando para as suas roupas vencerem as roupas da outra cidade.
Os fãs adoram um jogador, mas se ele vai para outro time, eles vaiam o cara. É o mesmo ser humano, com uma camiseta diferente, e agora eles o odeiam. Uuu! Camiseta diferente!!! Uuuuu!”
A frase acima é do comediante americano Jerry Seinfeld. É uma piada, ok?
Na segunda-feira, tem que ser assim. Sem homenagens, sem placas, sem trégua. A gratidão e o reconhecimento de sua importância na história ficarão para sempre, mas o momento não é de homenagens. Ainda que o clube possa ter falhado na condução desse processo (e acho que falhou!), o jogador se esforçou bastante para trocar de camisa. Está claro que a história construída ao longo dos anos não foi suficiente para que o jogador quisesse continuar no clube.
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Saudações Tricolores!
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P.S.: Se você, assim como eu, tem o hábito de guardar os ingressos de partidas do Fluminense, entre em contato comigo. Possuo uma coleção de ingressos de mais de mil partidas do nosso Tricolor e tenho interesse em trocar ou adquirir aqueles que ainda não possuo.
Panorama Tricolor
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Imagem: trise
Concordo plenamente!