Nada como um futebol organizado. Desde antes de 2010 sabíamos quando a Copa das Confederações e a Copa do Mundo iriam acontecer. Mas queremos fazer valer a alcunha de ser o país do jeitinho. Grande parte dos estádios não está pronta, muito embora faça tempo que clube algum os frequente. Os que estão ainda sentem falta de acabamento, como água corrente ou outros “detalhes” que ficarão para depois.
O que falar do entorno dos estádios? Canteiros de obras a céu aberto, lugares em que nem tapumes escondem a vergonha de nossa desorganização. Ou corrupção. Quiçá as duas coisas. Não consigo nem sequer acreditar que essa gente seja competente para roubar tudo o que pensamos que roubam. Vão nos “entregar” ouro em forma de estádios. Daqueles que precisamos garimpar entre o barro, a lama e as poças para alcançar. O maior legado de mobilidade da Copa será o feriado.
E o feriado atinge em cheio também os clubes nacionais. Quatro anos para se descobrir que a Copa das Confederações cairia no meio do Campeonato Brasileiro? Muito pouco tempo para planejar um calendário que não estancasse a disputa na quinta rodada, muito menos um que não prejudicasse os clubes nestas mesmas partidas.
Dizemos ter o melhor futebol do mundo. Balela. Ninguém deprecia tanto o produto que quer vender como a CBF. Talvez porque queira que o teatro vire novela. No mundo ideal da cartolagem ordinária, haveria dois ou três roteiristas, uns dois diretores e alguém que retirasse todo o público da arquibancada para que o show pudesse ter seu ápice. E repleto de merchandising! Afinal, propaganda é a alma do negócio. E nada mais negociável que a própria alma quando o assunto é futebol.
Mas, na análise fria dos fatos, a pausa até nos favorece. O Flu precisa de uma sacudida e aposto ainda que Abel pode ser o cara a conduzi-la. Aliás, é quem tem moral para isso. Precisamos definir o que queremos com Thiago Neves e Felipe. Não podemos padecer de falta de criação de jogadas com esses dois no elenco. Não faz sentido. Nem para eles, nem para a comissão técnica, nem para o time, nem para a torcida, nem mesmo para o pipoqueiro que – por falta de pagamento – trocou a Gávea pela porta das Laranjeiras.
As mudanças não podem ser drásticas como querem alguns. Não queremos – como acontecia no passado – a chegada de um batalhão inteiro de jogadores. Sabemos que hoje a diretoria pensa sempre em contratações cirúrgicas e, daí, cabe o diagnóstico: a cirurgia do início do ano não deu certo, precisamos de novo procedimento.
Creio que mudar de ares fará bem e quem sabe a Disneylândia não desperte outra vez a criatividade do nosso comandante? Abel que bolou tantas boas jogadas ensaiadas esqueceu-se de que todos observaram nosso time, nossas jogadas e nosso esquema. As mudanças que promovemos para 2013 não funcionaram e precisamos reescrever nosso livro de táticas. Que seja bem aprendido e, sobretudo, genial, como espero que seja de nosso comandante.
Vamos catar uns dólares e ouvir o Tio Sam tocar pandeiro para nossos guerreiros. Caso alguns saiam – o mercado tende a ocupar as manchetes dos jornais durante esse período (veremos reforços estelares sendo anunciado por diversos clubes!) – não devemos nem nos desesperar, nem subestimar nossas perdas. Devemos avaliar seriamente o elenco e buscar jogadores que tenham o perfil guerreiro que nos caracteriza. Deixemos de mirar o paraíso europeu, onde ainda somos penetras em uma festa sem vestimenta adequada. Olhemos nossos vizinhos, repletos de bons zagueiros, meias habilidosos e atacantes rápidos. Todos com a cara da garra que buscamos.
Que não caia o espírito de férias sobre nós. É este o tempo de ganhar o campeonato: trabalhar, unir e montar um estilo sólido e vencedor. Algo que só possa ter seu antídoto descoberto quando já não houver mais tempo para impedir que a taça esteja em nossas mãos. E que tenhamos de volta o Maracanã. Já que não vão devolver o bilhão gasto, que pelo menos façamo-lo útil. Nossa casa. Como foi em 2008, na mais linda festa que o estádio já viu. Como foi em 2009, na mais improvável reação já presenciada. Como será em 2013, na histórica conquista que podemos alcançar. Está em nossas mãos. Que Mickey, que já foi campeão brasileiro pelo Flu, transforme nosso futebol em fantasia.