Diniz tinha um plano e ele deu certo. O treinador compactou seu time com setores e jogadores próximos e se fartou com o espaço cedido pela descompactação do adversário.
Com campo, movimentação, proximidade e superioridade numérica, o Tricolor amassou o rival. A movimentação dos homens de frente no terço inicial da partida, literalmente enlouqueceu a marcação do adversário.
Após uma progressão inteligente em torno da posse, Ganso apareceu como ponta esquerda e seu cruzamento propiciou a tabela entre Árias e Luiz Henrique que resultou no primeiro gol. Abaixo, o desenho tático mostra Ganso mergulhando pela ponta e o Flu atacando a área com espaço e superioridade numérica.
Após marcar o primeiro, o Fluminense não saiu para abafar lá em cima, como faria o Diniz de 2019. O Flu compactou o bloco de forma mediana, dando certo espaço para o Atlético progredir. Foi proposital, afinal era sabido que teríamos um rival tentando se impor o tempo todo, como fizera com o Palmeiras em São Paulo, na rodada anterior. Mas a nova versão do nosso treinador não exige voracidade e marcação alta o tempo todo.
Diniz modula o posicionamento das linhas de acordo com o momento e o adversário, agindo de forma mais estratégica. Não há necessidade de radicalizar em torno de seus propósitos e parece que o professor aprendeu essa lição.
O lance do segundo gol foi emblemático e teve a assinatura de Diniz. O Tricolor desceu um pouco as linhas e ficou compactado, o que atraiu o galo para o abate. Após uma troca de passes infrutífera do rival por falta de espaço, o Flu se concentrou pelo lado direito e, depois de uma troca de passes rápidos proporcionada pela aproximação, Luiz Henrique foi lançado com muito espaço para percorrer. A linha de meio do Atlético não voltou e o Fluminense chegou na entrada da área com mais jogadores contra uma linha defensiva totalmente fragilizada. O Turco caiu na arapuca do professor Diniz e acabou fervendo com o ensaboado Luiz Henrique.
O terceiro gol foi uma obra prima que teve quase trinta passes em cinquenta segundos, com a concentração subindo com toques rápidos pela beirada direita. Luiz Henrique, como lateral, cruzou para Samuel Xavier, como centroavante, marcar um belo gol de cabeça. Os laterais foram bem, assim como os meias e os atacantes. Todas essas atuações frutificaram na estratégia e, sobretudo, na compactação do time.
O Flu brigou pela imposição do espaço, mas também soube o momento exato de entregar campo para posteriormente esfacelar o adversário, se valendo do espaçamento que sua atração criou. Abaixo, o campo tático desenha essa aproximação e mostra as linhas do Atlético descoladas.
A promoção constante de linhas de passe para o homem da bola que existiu do campo de defesa ao ataque, matou a pressão do rival e abriu clareiras em seu campo. Quando jogou com as linhas altas, o Fluminense conseguiu envolver o adversário com aproximação e muita movimentação.
A cada jogo vamos conseguindo enxergar, de forma mais límpida, as digitais de Fernando Diniz no desempenho da equipe. O que precisa ser visto pelo treinador são as recorrentes desatenções no campo defensivo. Os três gols sofridos ontem não foram consequência da estratégia, mas tiveram como fonte falhas individuais inadmissíveis. Mas, no todo, o Fluminense teve uma atuação digna de seu tamanho.
Diniz tinha um plano, ele sempre tem. Seus preceitos de posse, aproximação, passes curtos e futebol ofensivo continuam em seu cardápio, porém com mais moderação, segurança e novas nuances. A compactação do Galo não estava no nível adequado, mas a compactação do Flu, com e sem a bola, escancarou ainda mais os defeitos defensivos do time mineiro, sendo determinante para o resultado e para o desempenho.
Na coletiva, Diniz falou que usou até o dia de recuperação dos atletas para treinar movimentações táticas no campo, além de ressaltar o resgate do espírito de luta da equipe. Que o trabalho continue evoluindo, afinal seus traços estão cada vez mais visíveis. Salve o Tricolor!