Tudo no mundo evolui. O que não significa melhora. Os conceitos mudam, as tecnologias avançam, a ética varia, a cultura se mistura, o conhecimento aumenta. Ao passo que o mundo gira, nós homens, traçamos novos rumos em direção ao futuro. O que antes achávamos normal, hoje vemos como absurdo.
Usar cinto de segurança? Homem fazer sobrancelha? Mulher usar calças? Sim, senhores.
Esquemas táticos evoluem. O Santos de Pelé jogava com mais de 5 jogadores dedicados exclusivamente ao ataque. Lateral não podia avançar e por aí vai. Foram criados o cartão amarelo e a substituição. Tentaram o cartão azul, o pênalti com bola rolando, dois árbitros dentro de campo. Hoje temos o recurso eletrônico para dizer se a bola entrou ou não e o auxiliar atrás do gol.
No Brasil, com as novas arenas feitas para a Copa do Mundo, aboliram as “gerais”, todos sentam em cadeiras (inclusive os arquibaldos), cerveja é proibida em vários estádios, acabaram com os fossos e alambrados que separavam torcedores e campo. Aprendemos a respeitar o espaço do jogador, salvo algumas exceções. A cultura do torcedor está se moldando aos novos tempos.
Como disse anteriormente, nem toda evolução é para melhor. Dentro de campo vejo mudanças que me incomodam profundamente. Em alguns casos pode ser saudosismo, em outros é medo.
O jogador faz o gol e a primeira coisa que ele faz não é abraçar os companheiros, dar um soco no ar, fazer uma coreografia… Ele aponta os dois dedos indicadores para o céu e grita “glória a Deus”. Junta com outros jogadores que se ajoelham em rodinha e repetem o gesto. Todos podem ter e manifestar sua fé, mas me parece muito com os times de países muçulmanos, que se ajoelham em direção à Meca após cada gol. A fé que tem sido levada para dentro de campo beira o fanatismo. Já vi jogador repreendendo o companheiro que fez o gol e esqueceu de ajoelhar com os coleguinhas. Deixem isso para fora de campo. Julguem-me.
Brincar com o time rival virou ofensa. Sou do tempo em que Túlio Maravilha, Renato Gaúcho, Romário, Viola, Edmundo, Djalminha e tantos outros dividiam as pautas jornalísticas com suas provocações, declarações sarcásticas, apostas. As entrevistas eram interessantes. O futebol não era tão carrancudo. O clima de animosidade não chegava às arquibancadas por conta disso, pois era um gesto normal. Hoje não importa quem é escalado para a entrevista coletiva (outro mal do futebol “moderno”), pois todos darão a mesma declaração: “Nós respeitamos o adversário. Vamos jogar pra ganhar, mas com humildade. O time deles é perigoso (mesmo que seja o pior do campeonato). Vamos fazer o que o professor pediu, blá, blá, blá…”.
Onde foi parar o drible? Está proibido pelo novo código de ética dos boleiros. Quem o pratica é tido como moleque, infantil, provocador e mau-caráter. Está liberado o linchamento de jogadores que utilizarem o drible como recurso de jogo.
O futebol “moderno” me entristece em vários aspectos. A formalidade excessivamente britânica não combina com o nosso futebol. Devemos copiar o que tiver de melhor no mundo e adaptar ao nosso jeito de ser. Replicar o que existe de pior só fará valer ainda mais o 7 a 1.
Vamos deixar o futebol brasileiro ser leve.
Panorama Tricolor
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