Fôrça Flu, 50 anos (por Paulo-Roberto Andel)

Neste 25 de novembro a Fôrça Flu completa 50 anos.

No modesto espaço que me cabe, vi de perto, de lado e um pouco de longe uns 40 deles.

Certamente todo mundo que vai às arquibancadas se lembra das grandes festas das torcidas organizadas, e com a TFF não é diferente. Mas o que mais me lembro da velha Fôrça é justamente o contrário: a presença nas horas de arquibancadas esvaziadas, onde o efêmero não resiste. A presença nas horas difíceis, quando muito desistiam. E também na hora da cobrança de ações por parte de dirigentes e elenco.

O fim dos anos 1970 não foi fácil. O Flu perdeu a Máquina, ficou dois anos como coadjuvante, conselheiros queriam o fim do futebol (nenhuma novidade). Mas surgiu uma luz temporária no fim do túnel: o maravilhoso título de 1980, com nove titulares formados na base, em cima do poderoso Vasco de então. Depois do triunfo, mais dois anos e meio de amargar, com contratações vulgares, baixas expectativas e a desfeita daquele time que poderia ter durado meia década. O Flu tinha virado circo. O futuro era ameaçador.

Porém, aí entra a participação decisiva da Fôrça Flu na história do Fluminense. Dirigida por jovens audazes, instruídos e destemidos, ela passou a ser uma porta-voz da sofrida torcida tricolor. Protestos ruidosos, declarações em jornais, até mesmo um velório na geral (do qual saí correndo por medo do caixão, ficando do lado contrário ao que a turba caminhava) e uma greve da torcida em pleno Maracanã foram alguns mecanismos utilizados para mudar a ação dos dirigentes. Foram dois anos de muita luta mas o resultado deu certo: no meio de 1983, o Fluminense contratou Assis e Washington, devidamente vestidos pela Fôrça antes que desse alguma zebra na hora do contrato, e o Casal 20 somado a outras contratações, mais uma turma que já estava no clube, deu início a uma grande era gloriosa que até hoje é louvada, quatro décadas depois.

Não haveria o vitorioso Fluminense de 1983-1984-1985, que ainda brigaria por títulos até o final da década, se não fossem a persistência e a reivindicação permanentes da Fôrça Flu, vislumbrando o Flu do tamanho que ele tem que ter, e não o que alguns querem lhe impor. Somente por esse feito, a TFF já teria garantido lugar cativo na história tricolor, mas fez muito mais e aí está, viva, atuante, já pensando nos próximos 50 anos.

Quem esteve no Maracanã tricolor dos anos 1980 sabe o que era a nuvem espessa, colossal, de pó de arroz na arquibancada. E viu o ritual marcial da entrada das bandeiras das torcidas, a dez minutos do início das partidas. E ouviu o coro incessante de apoio e de crítica, sempre que necessário. Amar não significa fazer vista grossa para os erros. A liderança da Fôrça Flu contagiou a arquibancada do Fluminense, encantando todos os garotos daquele tempo. Mais tarde, na Era Laranjeiras a partir de 1986, lá estava como uma potência em qualquer partida que fosse, nos chamados tempos sem título até 1994.

Há 38 anos, Zezé era uma liderança poderosa da arquibancada tricolor e da Fôrça Flu, ao lado de Antonio Carlos (Gonzalez). A torcida liderou uma greve da arquibancada contra a campanha do time e a incompetência dos dirigentes. Um garotinho de 13 anos, desavisado, entrou cedo na geral deserta. Mais dois ou três caras também. Logo depois, Zezé também entrou no setor e foi conversar com cada torcedor, explicando a importância do movimento (em plena ditadura) e pedindo apoio para as próximas manifestações. Mais do que um torcedor, ele era um militante. Tempos depois, o Flu recuperou seu destino natural. O garotinho daquele dia continua seguindo o Fluminense e acabou de escrever os parágrafos acima.

Zezé, Antonio, Toninho (que alguns chamavam de “Biquinho”), Montanaro, Heitor, Pagaio e tantos outros personagens notórios ou anônimos, numa enorme linha de sucessões aí estão para a história das arquibancadas do Fluminense, num tempo em que o apoio e o senso crítico eram irmãos siameses, quando não havia patrulheiros da opinião e se fazia o melhor para o Fluminense, mesmo que fosse vaiar muito, no mínimo. Os tempos mudaram, o Fluminense também mudou, a Fôrça perdeu seu acento circunflexo mas manteve seu lugar.

Parabéns, Força Flu. Obrigado por povoar os sonhos e as lembranças dos melhores anos de torcedor da minha vida. Até hoje eu persigo aquele sonho de te ver passar com as coirmãs. Até antes da pandemia, da Leste, eu olhava o presente e procurava o passado, as bandeiras, a atitude, num Maracanã que não existe exceto dentro de mim. Saudações tricolores a todos, felicidades e um grande viva! Há muito a ser feito. Por favor, não parem de fazer.

Mesmo quando eu não estiver mais aqui, meu sonho continuará.

Panorama Tricolor

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