Era um sábado de manhã, quente. Começo de 2013.
Fui encontrar Max em Bangu para jogar botão.
Peguei o trem gelado na Central e fiz uma viagem tranquila.
Uma hora depois, o amigo me encontrou na Estação. Fomos juntos para Vila Aliança, onde seria o campeonato. Lugar de respeito, com muita gente boa, mas refém das mazelas que o crime impõe ao Rio de Janeiro, portanto exigindo cautela na entrada e na saída.
Caminhamos uns quinze minutos e chegamos à entrada. Duas quadras depois, havia uma birosca fechada onde o escudo do Fluzão sobressaía. Como sempre acontece, eu queria tirar fotos, mas em lugares como a Vila Aliança você não tira simplesmente o celular do bolso e clica.
A uns 20 metros de nós, um sentinela do tráfico estava a postos controlando o trânsito e o movimento. Então fomos até ele e pedimos a autorização para a foto:
– Já é, Fluzão! É nóis!
Tirei, agradeci e o traficante tricolor pareceu gostar também. Claro que foi uma situação tensa, mas imediatamente tranquila. Então fomos para o campeonato. Depois o Edgard apareceu também. Vivemos uma manhã/tarde de diversão: muitas jogadas, gols e risos. A volta no trem também foi muito legal.
Lá se foram onze anos e continuo gostando dessa foto.
Ela me faz pensar que o Fluminense também é o time dos humildes. Dos proletários. De milhões de pessoas que, às vezes, nunca puderam ir ao Maracanã, mas torcem ardorosamente pela TV ou pelo velho radinho de pilha.
Que o Fluminense não é propriedade de enfadonhos anônimos pernósticos querendo ditar o que é verdade ou mentira, quem é verdadeiro ou falso tricolor, num ridículo difícil de ser definido. Homens estúpidos querendo ser muito mais importantes do que realmente são.
É uma foto libertadora, sem trocadilhos. Ela mostra que o Fluminense está em todos os lugares, muito além dos balneários da elite econômica. Quem conhece os caminhos da avenida Brasil, da SuperVia e da Martin Luther King sabe muito bem como o escudo tricolor reluz por todo o Rio.
Amo essa foto. Ela me lembra o quanto o Fluminense é também povo, favela, subúrbio, terra batida, assim como é asfalto, jardim e orla.
Quantas vezes essa birosca reuniu tricolores na alegria e na tristeza, em vitórias retumbantes e derrotas pesadas? Independentemente do resultado, quando o povo tricolor se junta, a vitória do ser humano é plena e garantida.
Vejo essa foto e penso que ser Fluminense é muito mais do que torcer para um time de futebol.
Foi outro dia. Tem onze anos. Muitos outros virão.
Amigo, que texto! Sensibilidade ímpar! Curiosamente, a última vez que pisei dentro da Vila Aliança foi em janeiro de 2012, um ano antes dessa foto. Mas tenho outro relato. Por muitos anos, pela janela das minhas viagens diárias de trem, numa outra “vila” não muito distante dali (a Vila Vintém), eu via uma grande bandeira tricolor. E todo dia, quando meu olhar cruzava com aquela bandeira no meio de uma favela em Padre Miguel, um sorriso surgia no meu rosto. Era a alegria do repetido (mas com sensação de inédito) reforço da convicção que refutava a pecha do nosso Fluminense como time exclusivo de uma elite da qual eu nunca fiz parte. Pecha essa atribuída por rivais e tolamente abraçada por uma parte da torcida que nutria um orgulho carona de ser “de elite”, mesmo não sendo. Felizmente, vindo de onde eu venho, nunca caí nesse papo. Saudações Tricolores!