Fluminense x São Paulo (por Mauro Jácome)

90 - 25082013 - Fluminense x São Paulo

Hoje é dia de embalar. O Fluminense está patinando no Campeonato Brasileiro e precisa de um jogo assim para convencer a si de que é forte, de que tem condições de alcançar o topo da tabela. É um jogo perigoso, porque a fera está acuada. E o São Paulo é uma força, apesar de estar em baixa nos últimos anos.

Sem Fred, psicologicamente, o time sente. No entanto, o centroavante não vem jogando bem, mesmo marcando um golzinho aqui, outro acolá. Samuel vem de dois gols consecutivos, mas é um cara que não me deixa tranquilo. Em suma, no papel, pode-se pensar em grande perda, mas, na prática, nem tanto.

O 3-5-2 adotado pelo Luxemburgo contra o Goiás começou bem e terminou muito mal. Ainda bem que o Cavallieri voltou. No Morumbi, o time não pode depender da mesma sorte. Parece que o Professor vai continuar “inovando”. Ou inventando. Vamos de 3-6-1. Sai Leandro Euzébio e entra Anderson. Edinho continua fazendo companhia aos zagueiros. No meio, William dá a vaga para Diguinho. Wagner entra e Samuel ficará só no ataque. O meio de campo, que esteve muito aberto no jogo de quarta-feira passada, vai ser mais povoado. Sem Fred e Sóbis, é preferível mesmo escalar mais gente no meio do que colocar um atacante de ofício, mas que ainda não alcançou um estágio satisfatório. Kennedy, por exemplo. O problema é que Wagner e Diguinho penteiam muito a bola, dão muito corrupio e o jogo não evolui.

Autuori vai dar a escalação mais perto da hora do jogo, mas o time de três cores pode vir com Osvaldo e Aloísio na frente. Luís Fabiano está à disposição, mas treinou entre os reservas. Jadson ou Ademílson. Outro mistério do técnico. O garoto é muito rápido, desloca-se pelo lado direito, movimenta-se sempre e causa muitas dificuldades para a defesa. Jadson caiu em desgraça depois do pênalti perdido contra o Flamengo. Ainda tem Paulo Henrique Ganso. O ex-santista está sendo olhado com muita desconfiança. Com razão, porque vem apresentando um futebolzinho insosso. O miolo da defesa é inseguro com o improvisado Rodrigo Caio e Rafael Tolói. Os laterais marcam melhor do que apoiam. Rogério Ceni tem um marketing tão forte que está conseguindo enganar faz tempo.

O recente histórico do time paulista mostra que, ao tomar um gol, o desespero bate. A previsão é de um grande público, portanto, a arquibancada pode ser usada contra eles e o Luxemburgo tem que explorar isso. Como? O tricolor deve começar o jogo pressionando, marcando no campo do adversário. Primeiro, os homens de frente. Depois, os alas (ou laterais) com os homens de meio. Por falar nisso, o meio-campo deve se movimentar em bloco, algo que não aconteceu no meio de semana e o time tomou sufoco. Com o passar do tempo, a torcida vai pressionar o time, colocando novos ingredientes: a ansiedade e o nervosismo.

De posse da bola, Carlinhos terá papel fundamental. O lateral parece ter acordado nos últimos jogos. Contra o Goiás apoiou incessantemente no primeiro tempo. Alcançou com facilidade a linha de fundo. No gol de Samuel, a bola chegou à área por um cruzamento dele.

Outro fator determinante para um vitória é o passe. O Fluminense tem errado muito esse fundamento. E o principal motivo é que os jogadores que não têm a bola pouco se movimentam e o que a tem, carrega muito. Assim, a marcação adversária é facilitada.

Vamos torcer. O Morumbi será o nosso centro do mundo.

Um pouco de números

Acho um saco esse negócio de números. As tais estatísticas do futebol. “O time não ganha há x jogos”. “X não ganha de Y desde…”. Quantas vezes a gente ouve isso durante uma transmissão?

No caso deste clássico, não há como esquecer um período que me incomodou muito: de dezembro de 1988 a agosto de 2004. Foram quase dezesseis anos em que o tricolor não ganhou do time de três cores no Campeonato Brasileiro. Dez das 25 vitórias foram obtidas, pelos paulistas, nesses anos. Não foi fácil.

Os dois times já se enfrentaram, pelo Brasileiro, 51 vezes. O Fluminense conseguiu 14 vitórias. 12 jogos terminaram empatados.

Um pouco de história

Com números ou sem eles, dois jogos entre os dois times me marcaram muito: o de 1986 e o de 2008. O primeiro foi uma guerra no Morumbi. O São Paulo sempre foi acusado de se utilizar de forte “esquema de segurança” para intimidar os adversários. Naqueles tempos, era fácil, pois uma multidão entrava em campo, inclusive, quem não tinha nada a ver com o jogo. Quando a bola saía pela linha de fundo, era muita pressão contra o adversário. Isso aconteceu muito naquele jogo, mas o São Paulo tinha um bom time e um cracaço: Careca. Aliás, o primeiro gol (o resultado final foi 2 x 0) dos paulistas foi do centroavante. Um golaço. Recebeu quase na linha lateral, ao lado da grande área de Paulo Vítor, virou e bateu por cobertura, quase no ângulo oposto. Não é para qualquer um.

Em 2008, pela Libertadores, o jogo do Maracanã será inesquecível para qualquer tricolor. O Fluminense tinha perdido o jogo de ida, no Morumbi, por 1 x 0. Precisava ganhar de dois gols de diferença ou, pelo menos, fazer o mesmo placar para levar a decisão para os pênaltis.

Aos 12’ do primeiro tempo, Junior César chuta forte para a área, a bola bate num jogador são-paulino, sobe e desce na entrada da pequena área, na direção da trave direita de Rogério Ceni. O goleiro dá dois passos em direção à bola, fica indeciso e volta ao gol. Cícero corre e se antecipa a um jogador adversário e dá um toque, de cabeça, para trás. Washington, o Coração Valente, que estava atrás de dois adversários, percebe a intenção do jogador do Fluminense, antecipa-se e toca com o lado externo do pé, no canto esquerdo. Goooool. Washington vibra muito. Não se cansa de mostrar a camisa à torcida. Quase a arranca do corpo.

Na metade do segundo tempo, veio o empate. Aloísio recebe ao lado da área do Fluminense, engana de corpo o Ygor e parte em direção à linha de fundo. O jogador tricolor acompanha e tenta impedir o cruzamento. O jogador do São Paulo, em vez de cruzar, corta para dentro, o cabeça-de-área (ou de bagre?) cai sentado e, então, Aloísio manda a bola na cabeça de Adriano. 1 x 1.

Tudo perdido. Mesmo? Nada. Na saída de bola depois do gol de empate, o Fluminense passou à frente. Conca arrancou, ganhou na corrida de dois adversários, tocou para Thiago Neves, recebeu de volta quase na meia-lua, matou no peito e tocou por cobertura para Dodô na risca da grande área. O artilheiro dos gols bonitos acompanhou a bola e bateu cruzado, meio sem jeito, na saída de Rogério Ceni. O goleiro esperava uma bomba e se enrolou quando a bola veio fraca, traiçoeira, passando por baixo de suas pernas. O Fluminense continuava precisando do gol salvador, do milagre.

Milagre? Gol no apagar das luzes? Vitórias cardíacas? Isso é com o Fluminense. O São Paulo achava que já estava na semifinal, que enfrentaria o Boca Juniores, mas num ataque desesperado, Maurício tentou, a bola bateu na defesa e foi para escanteio. Último ataque e o árbitro, logo, encerraria o jogo. Ninguém acreditava em mais nada, exceto nós. Nós e eles que estavam em campo, suando a camisa, honrando a nossa armadura guerreira. Se não acreditava não era tricolor.

46’05”, Thiago Neves ajeitou a bola no quarto de círculo. 46’06”, Thiago Neves deu dois passos para trás. 46’07”, Thiago Neves olhou para a bola. 46’08”, Thiago Neves olhou para a área. 46’09”, Thiago Neves correu para a bola. 46’10”, Thiago Neves bateu na bola, de curva, procurando uma cabeça, um ombro, uma perna, uma barriga que fosse. Dois segundos. Exatos dois segundos de trajetória. Aos 46’12”, Washington, o eterno Coração Valente, subiu mais do que qualquer um que estivesse ali e cabeceou forte para o gol. Aos 46’13”, a bola estufou as redes do Maracanã. Aos 46’14”, a torcida tricolor presente no estádio, nos sofás, nas ruas, nos carros, nas macas, nas tumbas, nos céus, gritou gol, pulou, vibrou, chorou. Nós nunca mais paramos de comemorar aquele gol, que se juntou a vários outros que caracterizaram o Fluminense como o time que sempre alcança.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Pré-revisão: Rosa Jácome

Imagem: www.terra.com.br

http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=1184&idProduto=1216

1 Comments

  1. 2008 tb foi inesquecivel pra nos do outro lado, pelo menos pra mim, acho q foi uma das vezes q chorei por esse time das 3 cores como vc diz… 3 cores 1 torcida………….. e hj é nois…………… sai inhaca…………….kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Comments are closed.