O ano era 2010. Naquela época eu achava a vida mais bela. Meus pais tinham muita saúde e, disciplinados, comedidos e adeptos da atividade física, parecia que viveriam 90, 100 anos.
O Brasileirão começava num 8 de maio e o Fluzão estreava com derrota para o Ceará. Recém saído do milagre de 2009, quando, segundo os matemáticos, o Flu tinha 99% de chance de cair para a segunda divisão, fazer uma estreia no Brasileirão de 2010 já era uma dádiva.
Naquele ano o Fluminense havia contratado Muricy Ramalho, em substituição à Cuca, o mago da recuperação tricolor em 2009.
As rodadas seguintes do campeonato foram animadoras e, a partir da quarta, o Flu só ganhava ou empatava seus jogos, ficando 16 partidas invicto. Dava a dica do que seria aquele campeonato e começava a construir sua superioridade na tabela.
O campeonato protagonizava jogos memoráveis, como aquele Flu 5 x Atlético Mineiro 1, pela 24ª rodada. Na ocasião, Mariano era nosso lateral direito. O mesmo Mariano que havia sido recuperado pelo Cuca em 2009. De um lateral direito mediano e apático, Mariano virou uma das maiores referências do time entre 2009 e 2010. Na verdade, até hoje tenho vontade de perguntar ao Cuca o que ele fez para conseguir extrair todo o potencial que Mariano possuía. O cara foi essencial ao Fluzão naquela época e até hoje tenho vontade de vê-lo voltando ao clube.
Carlinhos era nosso lateral esquerdo. Por vezes criticado pela torcida, sobretudo pela dificuldade que tinha de erguer a cabeça durante os cruzamentos, foi também peça essencial àquele esquema.
Nossa equipe era regida por um craque: Conca. Único jogador a estar presente em todos os jogos do Flu no Brasileirão daquele ano, foi rei, majestade, imponente e decisivo. Foi eleito o craque do campeonato!
Na 36ª rodada, por acaso num 21 de novembro, enquanto eu aniversariava o Flu presenteava o São Paulo com um 4 a 1 memorável. Com atuação mágica de Conca, que fez fez dois gols e deu passe para outro gol, o Fluzão encaminhou ali, em definitivo, a conquista que a torcida esperava há 26 anos.
O ano era tão especial que Yan, meu primo amado, santista, então com 14 anos, resolveu que assistiria ao último jogo ao meu lado. Ele prenunciava que seria um dia especial. Assistimos àquele Fluminense 1 x 0 Guarani, juntos. E ele vibrou com o choro extravasado por essa alma tricolor. Eu não vibrava tanto desde o gol do Coração Valente, no Flu 3 x 1 São Paulo, pela Libertadores de 2008.
Ele me olhava como quem dizia: pode comemorar, Cá. O Brasileirão é seu, é do seu Flu!
O ano agora é 2021. Meus pais não viveram até os 90 anos, infelizmente estão em outra dimensão, como quero crer. Não acho mais a vida assim tão bela. Mas se há algo que não mudou, foi minha ansiedade pelo início de mais um campeonato nacional.
Estreia nesse 29 de maio, o time do Roger Machado. Guarda de similaridade com o time de 2010 apenas a presença de Fred.
Nesse ano o maestro da batuta é ele. Frederico.
Anseio por um time aguerrido, corajoso, sem medo de ganhar e inteligente o suficiente para saber que a estratégia dos pontos corridos requer elenco coeso e disponível.
Torço que os meninos de Xerém tenham mais e merecidas chances. Torço que o patrimônio material e imaterial do Flu seja respeitado pelos seus gestores. Torço que em dezembro estejam no time do campeonato nomes como Gabriel Teixeira, Nino, Samuel Xavier e Fred.
E assim, a gente começa mais um ano! A paixão continua.
Placar: Flu 2 x 1 São Paulo
Saudações tricolores!