A história é antiga e costuma causar confusão. A mais famosa delas é a de que o Fluminense derrubou os matemáticos em 2009. Na verdade, os derrubados foram os jornalistas que, em busca de manchetes sensacionalistas, abusaram da manipulação de informações. Nenhum estatístico cravou o Flu como rebaixado e o final, bem, todos sabem.
Não vou entrar no mérito das bobajadas que se costuma praticar por aí em nome da Estatística, ciência nobre que merece respeito. Vamos à simples prática.
Pense num sorteio da Mega Sena, com seis dezenas. Se o sorteio apontar as dezenas 01, 02, 03, 04, 05 e 06, do ponto de vista da Probabilidade é um resultado como outro qualquer. E do ponto de vista estatístico? Improvável, pois jamais aconteceu.
A Estatística tem a Probabilidade como fonte de alimentação para suas séries históricas, análises e previsões.
Vamos ao Fluminense, com suas atuações sofríveis que têm significado pontuação e boas colocações nas competições que disputa até aqui.
Do ponto de vista probabilístico, conseguir pontos tem sido natural mesmo com performances constrangedoras. Tinha a chance de pontuar, conseguiu. Agora, por exemplo, que time na Copa Libertadores, na Copa do Brasil ou no Campeonato Brasileiro conseguiu o título com sucessivas atuações medíocres até o final, sendo permanentemente encurralado por adversários em seu próprio campo?
Nenhum.
Voltamos a 2009. Ah, daquela vez a Probabilidade superou a Estatística. Sim. Num caso. Desde então, todas as equipes que ficaram na zona de rebaixamento e tentaram uma reação alla Fluminense, fracassaram. É que a exceção não se transforma em regra com facilidade.
Brasileirão: o Fluminense tem nove pontos em cinco jogos disputados, média de 1,8 por jogo. Poderia ser menor, tanto pelo jogo contra o Fortaleza como contra o São Paulo, quando escapamos de um pênalti no fim do jogo, mas ok: estamos bem na fita dos números temporários. Então por que parte da torcida reclama tanto da performance? É simples: cinco jogos não constituem uma amostra suficiente para representar um semestre inteiro de disputa, com quase 40 partidas apenas na competição nacional de pontos corridos.
Média de 1,8 ponto por jogo. Numa projeção média simplória, 68 pontos ao término da competição. Sinceramente, alguém consegue acreditar que com o futebol atual que joga, absolutamente mequetrefe, sendo repetido nas 33 partidas restantes, o Fluminense chegue perto de 70 pontos no Brasileirão? Difícil, exceto para os que têm muita vontade de acreditar, mas essa é uma análise do hoje, do agora. E só.
Já nas outras duas Copas, o erro é proibido. Errou, sai. E são muito menos jogos para o título, oito na Copa do Brasil e sete na Libertadores.
Parece razoável imaginar que, para ser campeão, o Fluminense precisa de uma evolução que, até agora, Roger Machado só ofereceu em bravatas. Os números lá estão, neste momento, como uma fotografia instantânea, mas o que lhes garante consistência é a regularidade de atuações acompanhada, aí sim, de resultados.
Não existe time campeão que sirva de permanente sparring dos adversários, tomando porrada o tempo inteiro, sonhando com um golpe salvador que garantirá tudo subitamente. Pode acontecer uma, duas, quatro ou cinco vezes. Quinze, muito difícil. Trinta e oito, praticamente impossível.
Tudo isso faz convite a uma sincera reflexão: o Fluminense está nestas competições para valer ou apenas para figurar? Se for pelo que tem pontuado, é possível ter esperanças na primeira opção. Agora, se é o caso do que tem jogado, fica difícil desprezar a segunda alternativa.
Torcer é necessário, mas sem deixar que a torcida pelo time se transforme num verdadeiro entorpecente, sugerindo que a imaginação seja a realidade. Se os números nesta pequena amostra são fatos, as péssimas atuações não ficam para trás.
As probabilidades existem, mas no futebol a Estatística Descritiva sempre aponta aos campeões uma característica: a boa qualidade. Não há paixão que supere isso.
AFINAL NADA COBIÇA ESSE ROGER DESPIDO DE CRIATIVIDADE, IMAGINAÇÃO, CAPACIDADE DE PERCEPÇÃO, INADEQUADO USO DO TEMPO CERTO A ALTERAR E, PIOR, A MEXER EQUIVOCADAMENTE A MANTER RECUADO UM ELENCO A INTROJETAR O HÁBITO E O RECEIO DE PERDER EXPRESSO COM CLAREZA NO TÍMIDO ATAQUE QUE SEMPRE SERÁ A MELHOR DEFESA. ATÉ QUANDO?..