Fluminense, o trópico das repetições (por Paulo-Roberto Andel)

O ideal era falar do jogo de logo mais, importante, mas é preciso analisar o entorno tricolor ou, pelo menos, chamar a atenção para situações que se repetem no clube, afetando diretamente o campo e os bastidores.

O Jorge e a turma de ontem fizeram muito bem no outro post, cliquem lá e confiram.

O que vai ser daqui a seis meses, ninguém sabe ou pode cravar, mas hoje o Fluminense é um clube com uma dívida provavelmente bilionária e perto dos nove anos sem títulos relevantes, a sua maior seca desde os tempos do amadorismo.

Acontece que, por amor, em 99% dos casos, e por outros motivos, em 1% dos casos, o torcedor tricolor passou a levar em consideração outros fatores, além de torcer pelo Fluminense. Por exemplo, o culto à personalidade de dirigentes, que se acentuou desde a eleição no clube em 2010. Para alguns, os presidentes são gênios das finanças, executivos capazes de ocupar postos de chairmen em multinacionais, verdadeiras sumidades do mundo corporativo. Honestamente, isso é uma piada: basta olhar os nomes, suas carreiras e como foram construídas.

O senso crítico, ou melhor, a falta dele, associado a uma tremenda máquina midiática, leva muitos tricolores a ver ouro em latão. Assim, jogadores medianos ou medíocres, geralmente de idade mais avançada, são tratados como super craques mas os resultados, é claro, ficam sempre abaixo das expectativas. Não é coincidência. Para muitos, o Fluminense já entra como favorito a títulos que jamais conquistou, tudo é belo e perfeito, os adversários não são grande coisa, vamos passar o trator e até o Bragantino, força emergente do futebol brasileiro com capital transnacional, depois de décadas no ostracismo, vira um Real Madrid a ser batido. Em tempo: nos dois jogos lá, eles nos amassaram mesmo.

Ao primeiro grande resultado, a torcida naturalmente carente enlouquece e vive de migalhas: oh, nós vencemos o River Plate, também já vencemos o Penarol, o Boca Juniors e outros. Pergunta-se: e daí? Isso deu um sonhado título continental ao Fluminense? Não. Pode ser que dê neste 2021? Tomara, ainda que as escalações e substituições extraterrestres de um treinador que, a cada dia que passa, parece decepcionante como profissional e como pessoa, sejam a dura realidade.

O mais estranho dessa história toda é que a função da crítica, do cronista, do jornalista, do comentarista, fica deturpada. Os que apontam problemas e até sugerem soluções “não são tricolores”, “são traidores”, “querem boquinha”, “nunca deram dois treinos”, não leram direito o que foi escrito ou dito, como se fosse obrigação servir de claque para a repetição de mentiras e sandices, baseando informação na cópia da cópia dos clippings – patético. Enquanto isso, o panfletarismo chapa-branca come solto por sites, blogs e perfis que, do nada, compram likes, tornam-se “campeões de audiência” e passam a formar um cinturão de apoio ao maior presidente de clubes na história do futebol brasileiro, bem como sua troupe, algo que pode ser útil a esse cast mas não ao clube.

Quem é a verdadeira boquinha?

Jornalismo que merece começar com letra maiúscula exige retidão, isenção e distância regulamentar do comando tricolor. Quem não é capaz disso, que seja chamado de puxa-saco, lambe-botas ou sparring do presidente, mas não de jornalista. Não basta ter diploma. O que se vê é bajulação, sabe-se lá a troco de que, mas que prejudica muito a opinião pública a respeito do Fluminense.

O Caso Metinho é a mera repetição de um modelo que assola o Fluminense há anos, embora pareça mais robusto nos últimos tempos. Para manter os Wellingtons, Luccas e Hudsons (nada contra as pessoas físicas, mas contra as jurídicas), é preciso girar os Evanilsons, os Metinhos e os Marcos Paulos, dentre outros. O clube fica sem retorno esportivo algum, o retorno financeiro nada mais é do que cobrir rombos e acertar folhas de pagamento que, a seguir, são comemoradas nas redes sociais como uma Taça Guanabara e, se for necessário, você pega um pacotão de cinco jogadores em cima do laço e chama de “reforços”, mesmo que não se veja isso 100% na prática.

A indústria dos pais. Todos os clubes brasileiros sofrem com agentes e pais de jogadores, mas parece que o Fluminense foi o escolhido para representar o que há de pior nessa situação: você pode fazer uma lista de garotos perversos e pais safados, que querem prejudicar intensamente o clube e seus dirigentes. Já que em breve teremos até livro de propaganda sobre Xerém, já está na hora do Fluminense cuidar dos pais nas divisões de base… São tão malvados…

[Para quem não sabe, a formação da base tricolor veio de décadas antes de Xerém. É só pesquisar os títulos e jogadores revelados.

Sobre a entrevista do presidente, foi longa e até redundante em alguns trechos que pude acompanhar. Contudo, seria leviano dissecá-la sem a leitura profunda que merece. Mas um ponto realmente chama a atenção: o de se resolver as pendências financeiras do clube em nove anos. A se manter o atual modelo extrativista de Xerém, é difícil crer que o Fluminense aguente tanto tempo com as contas na lona. Aqui, o escritor troca brevemente de lugar com o profissional calculista que, por 26 anos, habituou-se com a responsabilidade de cálculos e projeções que superaram algumas centenas de milhões de reais, atendendo a dezenas de milhares de moradores do Estado do Rio de Janeiro. Não é o caso de copy paste em sites de clipping, vai além disso.

Torcer por um clube de futebol deveria ser algo mais divertido e leve, sinceramente.

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Que venha um bom resultado logo mais. Pelo menos o campo pode amenizar o verdadeiro Febeapá tricolor, revestido com empáfia e pedantismo por quem tem muita pose mas nenhuma conquista.

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No próximo domingo, às 15 horas, na TV Alerj, comento o jogo entre Belford Roxo e Império Serrano. Estejam convidados.