Há cinquenta anos eu persigo o Fluminense, desde que era uma criança decorando seu nome. Certo mesmo é que cinquenta anos passam rápido demais, o tempo não espera. A Máquina vai fazer cinquenta anos daqui a pouco, os golaços do Assis vão fazer quarenta, o gol de barriga trinta.
Se pudesse, queria achar a bandeira que minha mãe fez para mim e desfraldá-la na geral. Não dá mais e nem o jogo é aqui, mas em Volta Redonda – palco da partida mais bonita que o Fluminense fez ano passado, ganhando a Taça Guanabara.
Onde está minha mãe além de mim?
Tudo recomeça. A paixão incessante, a maratona de jogos até o começo de dezembro e algo infelizmente raro no cenário tricolor: já perceberam que há muito tempo o Flu não luta por um bicampeonato como agora? E que nosso último bicampeonato foi há 39 anos? Logo é importante.
O Carioca está muito longe de ser o que foi um dia, mas o Fluminense o dominou no século XX e precisa buscar o domínio no século XXI, até porque a missão tricolor é jogar sério em todos os campeonatos e ganhar títulos. Outro barato dessa competição é enfrentar times de outrora e estádios de antigamente – por favor, me poupem da ladainha sobre Libertadores porque todos sabemos da importância da competição, mesmo contando com timecos de quinta categoria.
Sábado à tarde, em condições normais meu pai chegaria mais cedo do trabalho para ouvirmos o jogo. Mas onde está meu pai além de mim?
De resto, não sei muito o que dizer. O Fluminense está há muitos anos comigo, tantos que tento deixar de lado o fato de ter virado uma agência de aluguel de camisas, cercada de transações duvidosas. Depois de cinquenta anos, não é nem um vício mas o próprio oxigênio necessário para viver nessa terra injusta e cheia de ingratidão pelas esquinas.
Tudo mudou, exceto o sentimento. Então o que nos resta é torcer, torcer, o que não significa alienação. Um amor simples, tranquilo, dos tempos em que pai e mãe eram dois jovens ensinando o caminho tricolor ao pequeno filho.
O time é bom, mas tem pontos fracos. Vamos ver no que dá esse ano. Se conseguir atravessar a temporada sem desmanche, facilita muito a busca por títulos que tanto precisamos.
Bom, são dez da manhã e mistura tudo dentro da cabeça: Edinho, Deley, Paulo Goulart, Ézio, Renatos (Gaúcho e Moleza), Djair, Rubens Galaxe, Nelsinho, Muricy, Deco, Romário. O Magno Alves acabou de fazer aniversário, assim como Gerson. Seu Pinheiro fez 91. E Stanislaw Ponte Preta, 100.
O meio de semana e o final voltam a ter algum sentido.