Não seria justo. Justiça não existe no dicionário do futebol, mas não seria justo. O time do Fluminense tem inúmeros problemas técnicos e táticos, mas é lutador. Ontem, quando tudo se encaminhava para mais uma derrota, um gol inusitado de Rafael Sóbis mudou o humor do torcedor que foi a campo. O time saiu de campo ovacionado pela entrega e porque evitou uma situação complicada que se desenhava. Foi o terceiro jogo consecutivo em que o gol acontece numa bola alçada sobre a zaga.
O ponto negativo do jogo foi a catastrófica arbitragem de Alício Pena Júnior. Para fazer uma arbitragem liberal, que deixa o jogo correr, é preciso saber. Há um erro de interpretação que provoca o caos. Mesmo sinalizando que não apitará qualquer falta, as evidentes, claras, devem ser marcadas, senão, os jogadores ficam confusos e nervosos. Estraga o espetáculo. Foi o que aconteceu. Desagradou a todos. Cometeu graves erros de lado a lado.
Primeiro Tempo
Luxemburgo, o Alquimista, abusou das invenções. Entrou com um 3-5-2. Gum, Edinho e Anderson formavam a última linha. Diguinho, o surfista onipresente, fazia a cabeça-de-área, Jean era o responsável pela ligação da defesa com o ataque. Wagner flutuava por todas as posições de meio e de ataque. Sóbis puxava a marcação para os lados e Biro Biro atacava o lateral direito Pará. Bruno e Rafinha, os alas, corriam de uma intermediária a outra.
Essa formação não deu muita mobilidade ao time. Os jogadores tricolores tocavam, mas o goleiro Marcelo Grohe era, somente, um expectador. Rafael Sóbis e Biro Biro estavam isolados no meio de um mar azul e preto. O Grêmio aguardava e observava as intenções do Fluminense.
As primeiras investidas foram com Bruno. Percebendo a incompetência do lateral direito, o Fluminense inverteu o lado e procurou o jogo com Rafinha e Biro Biro. Dos 20’ até os 30’ do primeiro tempo, os gaúchos adiantaram-se e forçaram a defesa tricolor. Um chute no travessão de Kléver e outro perigoso foi o saldo. Depois dos sustos, o Fluminense trocou passes e reequilibrou o jogo e, aos 32’, perdeu uma excelente oportunidade, ou três no mesmo lance: Wagner tentou o gol por duas vezes; em seguida, foi a vez de Jean, mas o goleiro gremista salvou.
Aos 37 e meio, num escanteio, Bressan subiu, cabeceou na trave, pegou o rebote e fez 1 x 0. Sempre a bola aérea na zaga tricolor. O goleiro Kléver saiu pessimamente e facilitou conclusão do zagueiro do Grêmio.
Com vantagem no placar, o Grêmio entrincheirou-se. A partir daí até o final do primeiro tempo, o que se viu foi um bombardeio tricolor: uma cobrança de falta de Jean; um chute da marca de pênalti e outro, que passou raspando, de Rafael Sóbis; três defesas de Marcelo Grohe e o desvio salvador de um zagueiro em finalizações de Wagner e Jean. O primeiro tempo é inimigo do Fluminense. Não adianta, a bola não entra.
Segundo Tempo
Previsível, Luxemburgo sempre volta do intervalo com ideias revolucionárias: dessa vez, recompôs o bom e velho 4-4-2. Tirou o terrível Anderson e colocou Felipe, o Maestro das Viradas. Edinho ficou como zagueiro pela esquerda e Gum, pela direita.
Ao contrário da primeira etapa, o Grêmio voltou marcando bem adiantado e afastou o Fluminense da intermediária adversária. Tome chutão. Gum abusava da ligação direta. A bola batia e voltava. Para complicar, Felipe não entrava no jogo. Tentava passes, carregava, mas nada. A intranquilidade tomava conta. Gum se estranhava com o tinhoso Kléber, Diguinho gesticulava, Rafael Sóbis se irritava. Biro Biro travava um luta inglória com a defesa gremista. Tapas, cotoveladas, mas foi uma simulação que o tirou de campo.
Um a menos, placar adverso, cansaço. O Fluminense não tinha mais forças pra buscar qualquer coisa. O Grêmio sentiu que a vitória viria se tocasse a bola e fizesse o tempo passar. Assim o fez. Inteligência na aparência, equívoco na realidade.
A torcida era um misto de desespero e esperança. Uma nova derrota colocaria o Fluminense com um pé na zona de rebaixamento. Mas era preciso acreditar. Quem espera sempre alcança. Rafael Sóbis arrancou, passou por três, bateu, a bola resvalou no calcanhar de um zagueiro, subiu, encobriu o iluminado goleiro gaúcho e morreu na rede, perto da trave direita. Estava reestabelecida a verdade e os tricolores comemoraram o empate como uma vitória, afinal, quem joga com amor e com vigor, faz a torcida querida vibrar com emoção, o tetracampeão.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @MauroJacome
Revisão: Rosa Jácome
Imagem: Globoesporte.com