Nessa corrida ao topo do mundo, as duas equipes que vieram o inferno nos idos dos anos 1990, City e Flu, chegaram à Final desse novo Mundial da FIFA, inaugurado em 2005 com vitória de um outro tricolor, o paulista.
Há oito anos no comando dos Citizens, Pep Guardiola, aclamado como o melhor treinador do futebol na atualidade, bebeu em fontes muito perspicazes, tais como Michels e Cruyff, a chamada escola holandesa do Futebol Total, enquanto Diniz, que está na periferia do Capitalismo e, por consequência, do futebol global, emula reverenciar grandes mestres que comandaram o futebol brasileiro, como Telê Santana, que sempre impôs aos seus comandados, respeitar muito bem a bola.
Não é exagero algum dizer que o mundo inteiro parou para ver esta decisão, cheia de significados e valores que transcendem as quatro linhas, revela uma epopeia e deflagra um contraste importante entre o amor – com relativo poder – e o poder (mesmo este tendo muito amor envolvido também).
No campo, através de erros já conhecidos, residiu o temor. Em pressão alta dos Azuis Celestes, Marcelo livrou-se da bola, como quem entrega-se ao carrasco, Aké deu tratos à bola, finalizou com extrema categoria, no que Fábio desviou com a unha a bola de entrar, mas tocar a trave. No rebote, Julián Álvarez, de peito, abriu o marcador em um a zero para os ingleses.
Não tem como sustentar nada com um revés antes de começar uma disputa. Esse gol na aurora do confronto, deu à equipe da cidade da Revolução Industrial, o direito de assistir de camarote o que seu adversário, o valente, corajoso e teimoso Fluminense, tentaria ou indicaria a partir daí.
Houve um bom momento de posse e proposição de jogo pelo Tricolor, chegando a iludir a torcida que já vivia o sonho, não queria acordar. O VAR invalidou um pênalti sofrido pelo Cano, o que talvez pudesse modificar as coisas, mas logo tivemos de acordar.
Após retomar o protagonismo e ficar mais com a bola, o Manchester teve paciência para rodar e ficar com a bola até encontrar Foden livre nas costas de Samuel. Ele tentou cruzar a bola, Nino tentou cortar, mas seu toque desviou para dentro do gol, impedindo qualquer atitude do Fábio.
Já na primeira etapa, alguns conceitos, já bem constituídos por aqui durante a temporada, mostraram sua face, desta vez da pior forma possível: não teria como competir contra uma equipe da Premier League do mesmo modo como competimos contra equipes sul-americanas.
Sobre este tema, após bastante tempo de domínio dos clubes europeus nesse tipo de torneio, deflagra uma constante, a qual podemos seguir chorando por ela e a cultivando ou buscando a rebeldia produtiva, algo que tem feito falta também à política na América Latina.
Na volta do intervalo, apenas uma mexida por parte da equipe que precisava correr atrás, e foi no terço final, talvez o setor que menos precisasse, Jota Ká substituiu Keno, que pouco viu a bola.
Com apenas esta troca, o Fluminense não mexeu no âmago da questão: a lentidão e pouca cobertura defensiva do nosso fatídico lado esquerdo, aliado à pouca intensidade nas transições a partir do meio de campo.
Em ritmo quase de amistoso, a equipe azul continuou especulando até estocar algumas jogadas, pontualmente, sempre mantendo o controle do jogo, com e sem a bola, sobretudo o territorial, um dos principais aspectos de seu jogo posicional, brilhantemente adequado, treinado, pensado e exigido por Pep.
Os demais gols que compuseram o filme triste e indesejável de quatro a zero, que vieram após pequenos movimentos de intensidade, ao perceberem as falhas do Fluminense, as chamadas janelas de oportunidade. Foden e Álvarez completaram a acachapante vitória do Man City, erguendo pela primeira vez a Copa do Mudo de Clubes da FIFA.
O jogo de associação, aproximação e troca de passes rápidos em busca da construção, ensaiados por Fernando Diniz, não foi capaz de sobrepor ao futebol de pressão e estacas de posição em busca do afunilamento ao gol, concebido e ensinado por Guardiola.
Eis aqui uma enorme diferença, embora delicioso o confronto. Diniz está para o pensamento sobre o futebol sul-americano o que Guardiola representa para o europeu. As distâncias são oceanográficas.
Quem sabe (mesmo eu não acreditando) que um resultado como esse sirva para que pessoas estudem e aprendam algumas coisas, como: não há como propor o jogo o tempo inteiro, com tanta intensidade, com tantos jogadores com idade avançada e sem envolver mais membros da equipe em torno do mesmo tipo de jogo.
O ano já está marcado para sempre em nossos corações, pela conquista da Glória Eterna. Isso não será apagado, mas as lições deste vinte e dois de dezembro precisam ser digeridas, tal qual os sete a um não foram.
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MANCHESTER CITY 4 x 0 FLUMINENSE
Copa do Mundial de Clubes (FIFA) – Final
King Abdullah Sports City – Jeddah, Arábia Saudita
Sexta-feira, 22/12/2023 – 15:00 (Brasília)
Arbitragem: Árbitro: Szymon Marciniak (Polônia), A1: Tomasz Listkiewicz (Polônia), A2: Adam Kupsik (Polônia), VAR: Tomasz Kwiatkowski (Polônia)
Público: 52.601 pessoas
Renda: não divulgada
Cartões amarelos: Marcelo 57’, Alexsander 68’, John Kennedy 84’ (FLUMINENSE)
Gols: Julián Álvarez 1’, Nino (contra) 26’, Phil Foden, 72’, Julián Álvarez 88’ (MANCHESTER CITY)
MANCHESTER CITY: Ederson; Kyle Walker©, John Stones (Joško Gvardiol 75’), Rúben Dias e Nathan Aké (Oscar Bobb 81’); Rodri (Manuel Akanji 75’), Rico Lewis (Mateo Kovačić 61’) e Bernardo Silva, Jack Grealish, Phil Foden (Matheus Nunes 81’) e Julián Álvarez. Téc.: Pep Guardiola. 4-3-3
FLUMINENSE: Fábio; Samuel Xavier, Nino© (Marlon 74’), Felipe Melo (Alexsander 61’) e Marcelo (Diogo Barbosa 61’); André, Martinelli e Ganso (Lima 61’); Jhon Arias, Keno (John Kennedy 46’) e Germán Cano. Téc.: Fernando Diniz. 4-3-3