Tricolores de sangue grená, após duas rodadas bem intensas disputadas pelo Grupo D da Libertadores, o Fluminense, o patinho feio que entrou por acaso na Libertadores segundo os especialistas, é líder de seu grupo. Vou repetir em caixa alta, pra vocês poderem copiar e colar no Facebook, no Twitter ou onde quiserem antes de marcar a escumalha midiática de sua preferência: O FLUMINENSE É LÍDER DE SEU GRUPO NA LIBERTADORES. Eu poderia nem falar nada se não fôssemos os indicados como os primeiros brasileiros a serem eliminados da competição pelos entendedores de futebol do Brasil, já que ainda há mais quatro por jogar, mas o empate que deveria ser vitória contra um dos melhores – senão o melhor – time do continente hoje e a vitória fora de casa na “baixitude” que acabou sendo um teste para cardíaco me dão todo o direito de ser arrogante pra caralho e falar que é absolutamente normal o que está acontecendo. O que acontece, queridos próceres da comunicação futebolística, é que essa camisa tricolor entorta varal há mais de um século. Vocês não conhecem é porra nenhuma.
E vestindo esse uniforme nirvânico de três cores cuja combinação cabalística é a mais perfeita do universo estão, atualmente, jogadores que dispensam apresentações. Poderia falar de Fred, segundo maior artilheiro da história do clube, ídolo de toda uma geração (e possivelmente de outras) e certamente um dos mais vitoriosos que já atravessaram nossas fileiras, poderia falar de meninos como Kayky e Gabriel Teixeira, que já encantam por sua habilidade e ousadia, ou Martinelli e Calegari, que em pouco tempo já se tornaram imprescindíveis à equipe em suas posições, e poderia até mesmo falar de Luccas Clear, um dos zagueiros mais regulares e que, na temporada passada, certamente foi o melhor do Brasil, quiçá do continente. Mas hoje a coluna é dedicada a outro moleque de Xerém, mas que já não é mais um menino há algum tempo: Marcos Felipe. O promissor jovem goleiro, que teve que aturar ser reserva de nomes como Agenor e Rodolfo, só pra focar nos mais recentes, conquistou merecidamente seu espaço e vem subindo de produção a olhos vistos. E o que ele fez contra o Santa Fé foi sacanagem.
Marcos Felipe defendeu a meta do Fluminense de forma pornográfica no alto do morro. Estupendo, espetacular, inacreditável. Se um grande time começa por um grande goleiro, estamos muito bem servidos. Ainda comete falhas, é claro. Falta corrigir um pouco a afobação em alguns lances e sua colocação nos chutes de longa distância, que nem sempre é a ideal, mas ele possui muito mais predicados do que defeitos. Se antes sofríamos por não saber quando o goleiro iria entregar a paçoca (mais ou menos o que acontece hoje com Egídio em campo), agora temos a certeza que, se acontecer, será uma baita exceção. A segurança de nosso jovem arqueiro, que está em vias de renovar com o Fluminense, nos catapulta a outro nível. Com nossa defesa sendo cada vez menos vazada em condições normais, basta o ataque fazer o seu papel – como vem fazendo pelos pés de Frederico – para as vitórias chegarem e, mais importante, se multiplicarem. Em Barranquilla, não será o Junior o favorito. É o Fluminense.
O Fluminense talvez seja o time que menos participou da Libertadores entre os considerados como grandes adversários, e isso só implica dizer que não precisamos consolidar coisa nenhuma com seguidas participações. A mera presença do Fluminense na competição empresta-lhe peso e importância. Nós, tricolores, somos a fundação do esporte bretão no Brasil e, por conseguinte, em toda a América Latina. Todos sabem quem somos: o time de guerreiros, o time dos resultados improváveis, das classificações épicas, das vitórias dramáticas. Sabem que a qualquer momento podem virar presas de um gigante continental que se banha em glórias, que olha para a sua história e não vê quem o iguale. E ter Marcos Felipe, que pode vir a ser um grande goleiro como foi Cavalieri em seu tempo e até superá-lo, aproximando-se, porque não, de mitos como Paulo Victor, Félix e Castilho, é um sopro de ar fresco que nos mostra que o caminho para reclamar o título que nos foi negado em 2008 está aberto. Vamos devagar, jogo a jogo, mas sabendo muito bem qual é o nosso objetivo. Não viemos a passeio, mas a taça vai passear até Laranjeiras, com toda a certeza.
Curtas:
– Teremos um bom teste para os reservas (provavelmente) na primeira partida das semifinais do Carioca contra a Portuguesa. Alguns jogadores têm tido atuações aceitáveis para o nível do campeonato estadual, mas para outros, como Hudson e Lucca, talvez sejam as últimas participações de fato em jogos decisivos. Quero acreditar que Roger não seja cego.
– Roger precisa começar a consertar os problemas do time no intervalo dos jogos. Quando até torcedores comuns sabem exatamente quais serão as substituições que ele fará em todos os jogos, invariavelmente, é óbvio que os treinadores adversários também sabem. Contar só com o peso da camisa pra conseguir os resultados não é uma boa estratégia.
– Ganhando o jogo em Barranquilla, e considerando que o River Plate derrote o Santa Fé, a classificação estará muito bem encaminhada. É preciso fazer os pontos agora para não criarmos dilemas desnecessários quando (e se) formos jogar as finais do Carioca. É preciso ter inteligência!
– Palpites para os próximos jogos: Portuguesa 1 x 2 Fluminense, Junior Barranquilla 0 x 2 Fluminense.