Tricolores de sangue grená, adentramos o segundo mês do ano de 2021 com a certeza quase plena de uma vaga para a Copa Libertadores da América, competição que não jogamos desde 2013, restando definir se entraremos na fase preliminar ou já diretamente na fase de grupos, assunto do qual tratarei mais adiante. Na minha última coluna, questionei quais seriam os objetivos do Fluminense na Libertadores, se iríamos jogá-la para fazer figuração ou, como nossa história nos cobra, para buscarmos o título. Desde 2008, a Libertadores tem uma dívida conosco, e já passou da hora de cobrá-la. Todavia, vejo algumas reações de tricolores satisfeitos com o simples fato de a disputarmos, como se fosse uma viagem ao Mundial de Clubes, e não algo que deveria ser corriqueiro em nossa história. Somando essas situações a outras que tenho observado, concluí que, hoje, realmente existem dois “Fluminenses” sediados na Rua Álvaro Chaves. Um é o Fluzão que amamos e conhecemos. O outro é o Fluham.
O torcedor do Fluham é defensor ferrenho da atual gestão, enxerga o quinto lugar no campeonato brasileiro como se fosse o ápice do que alcançamos no século XXI, já que o planejamento era ser décimo; aplaude um orçamento pífio para o futebol, mesmo com a previsão de gastos gerais sendo a maior da história, trata como normal o fato de Caios Paulistas da vida serem continuamente colocados para jogar e terem seus contratos renovados devido às dívidas do clube com os empresários deles, o que justifica o Fluham entubá-los de qualquer maneira, já que não tem dinheiro – e nem quer conseguir o dinheiro, aparentemente – para pagar estas dívidas. Para o torcedor do Fluham, ele não é o maior clube do mundo, e sim um clube grande do Brasil, mas que hoje está mediano e precisa de três décadas de trabalho abnegado e contínuo da atual gestão para se reerguer. Os gestores dizem que a dívida está sendo saneada, mas ela só aumenta com o passar dos anos, e a olhos vistos. Acho que já chega, né?
O problema maior é que o Fluham lentamente está tomando o lugar do Fluminense, seja no imaginário do torcedor mais jovem, não acostumado ao Fluminense glorioso, gigante e histórico do século XX, seja no comando do clube, que não só aceita a condição atual do clube, não tendo a menor intenção de devolvê-lo ao seu lugar de direito, como abraça o momento, querendo transformá-lo em perenidade. E isso obviamente é perigosíssimo. Erros são minimizados, quatro apresentações razoáveis em trinta e quatro rodadas são tratadas como algo natural e mesmo decisões patéticas são perdoadas, afinal, “até os clubes com grande orçamento erram e perdem jogos fáceis”. A tônica é comparar o Fluham com os outros para justificar as cagadas, já que não dá pra fazer isso com o Fluminense, que sempre foi exceção, sempre foi a pedra no sapato, sempre foi o pioneiro e sempre incomodou os outros. O Fluham, não. Ele é mais do mesmo. Outro time brasileiro médio, que não planeja títulos, e sim participações. Afinal, sempre dá pra chegar em décimo lugar. Se o sarrafo ficar baixo, é bem mais fácil saltar sobre ele.
E isso esbarra, obviamente, na nossa busca pela fase de grupos e, também, no treinador que desejam contratar. Fala-se de Roger Machado, que já conseguiu ganhar alguns estaduais, mas certamente não é o técnico que o Fluminense deveria trazer. Mas para o Fluham, provavelmente está bom. Nenhum torcedor do Fluham espera ou almeja vencer a Libertadores. Aliás, talvez o melhor seja cair fora dela na terceira fase da pré, ou até mesmo buscar o terceiro lugar na fase de grupos, para que possamos jogar a Copa Sul-Americana, esta sim do tamanho e da tradição do Fluham, para a qual o título também não foi planejado, diga-se. O Fluminense mesmo tentaria o Cuca, ou um técnico do mesmo quilate para que o anseio maior da torcida nos últimos trinta anos, pelo menos, comece a ganhar ares de realidade. A torcida do Fluminense precisa entender esse fenômeno e tentar revertê-lo. Mostrar aos torcedores do Fluham a grandeza do Fluminense talvez seja o suficiente para fazê-los repensar seus apoios. O certo é que não podemos ficar parados sem fazer nada enquanto nossa torcida mingua e se mediocriza. Vamos agir.
Curtas:
– As últimas rodadas têm sido generosas conosco, o que nos permitiu começar a almejar a fase de grupos da Libertadores. Seja tomando a vaga do São Paulo no G4, seja tentando se manter em quinto para poder torcer pelo Palmeiras em março na disputa da Copa do Brasil, fato é que as chances de não precisarmos passar por dois prováveis ordálios para nos garantirmos na principal competição continental aumentaram muito. Mas, é claro, depende de nós.
– O jogo contra o Galo, adiado para quarta-feira, tem ar mesmo de decisão. Vencendo-os, não apenas passamos temporariamente o São Paulo (em caso de tropeço deles diante do Ceará), como colamos no próprio Atlético, ficando a apenas um ponto deles. Ter mais de um alvo a ultrapassar no G4 é o cenário ideal, pois nos abre maiores possibilidades. Se o Goiás(!) conseguiu ganhar deles, o Fluminense de Big Mark tem plenas condições de fazê-lo.
– Roger Machado não é um técnico péssimo, mas não é o técnico ideal para o ano que o Fluminense tem à sua frente. Talvez fosse um nome melhor que Odair para iniciar 2020, mas para 2021 o tiro tinha que ser no alvo. Pelo visto, não será.
– O sorteio da pré-Libertadores nos indica que, se nos mantivermos com a sétima vaga, vamos, provavelmente, encarar o Ayacucho, do Peru. Esse time vai, muito provavelmente, jogar na altitude – exceto se escolher jogar em Lima, que não fica tão acima do nível do mar quanto as outras possíveis localidades. Como sabemos, qualquer time meia-boca se torna perigoso no ar rarefeito, vide Nacional de Potosí. E, passando deles, a terceira fase nos reservará o Independiente Del Valle, o mesmo que deu aquela sapecada nos mulambos na altitude de Quito, ou o quarto colocado do campeonato chileno, que é, atualmente, o Palestino, mas pode vir a ser, por exemplo, a Universidad de Chile, a Unión Española ou até mesmo nosso velho conhecido Unión La Calera, que estão rondando a quarta colocação. Não tem cachorro morto. Melhor fazer um esforço e pegar a fase de grupos, né?
– Palpite para o próximo jogo: Fluminense 2 x 0 Atlético-MG.