Favor virar a chave: agora é Fla x Flu e decisão (por Paulo-Roberto Andel)

Depois da vitória sobre o Santa Fé, o time do Fluminense encaminhou sua classificação para a fase final da Libertadores. É certo que sua atuação foi decepcionante em boa parte do tempo, mas na meia hora final foi suficiente para garantir o triunfo diante da equipe colombiana.

Chega a ser um alívio, porque agora o Flu pode se dedicar como necessário para enfrentar seu maior rival na final do Carioca. Na semana que vem joga contra o Junior Barranquilla e precisa apenas de um empate em casa para garantir a classificação.

Chegava a ser uma verdadeira agonia essa obsessão de se poupar o time, ato que pode ter sua utilidade mas também ruína, dependendo da ocasião.

Nas próximas três partidas, o Fluminense não viaja. Logo, há um bom motivo para uma preparação melhor, pelo menos nas questões físicas e técnicas – o Fluminense precisa demais.

É consenso de que a repetição da situação no primeiro tempo diante do Santa Fé não pode ser repetida, em hipótese alguma, diante do Flamengo.

Fica uma lição: o medo de perder tira a vontade de ganhar. Time grande que joga em casa tem que fazer prevalecer seu jogo. Foi o que o Flu fez depois de tomar o gol do Santa Fé, que já vinha amadurecendo desde todo o primeiro tempo.

Destaque-se mais uma vez a frieza de Fred na hora da finalização e é justo reconhecer que, apesar da notória limitação, Caio Paulista teve bom desempenho e finalizou com perícia. Não se vê nele nenhum sinal de empáfia. É um jogador dedicado, atento, com enorme disponibilidade física, que sabe muito bem das suas precárias condições técnicas. Por isso, ocasionalmente acerta o gol, assim como no belo chute que definiu a vitória tricolor.

Virada a chave da Libertadores, é hora de decisão. É Fla-Flu, é atitude, é jogo de time grande, é jogar para vencer e mostrar o tamanho do Fluminense. E ele não pode ser expresso por uma atuação tão medíocre, como que aconteceu em boa parte do jogo desta quarta-feira. Essa deve ser a primeira tarefa de casa de Roger Machado, que aliás precisa rever seus conceitos para ontem.

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A Força Flu tem um papel fundamental na história do Fluminense. Não fosse a sua participação, cobrança e militância no começo dos anos 1980, é difícil imaginar onde o Tricolor teria ido parar, mas sabemos onde parou: numa época de glórias, com muitos títulos e uma década de orgulho.

E aí a Força prepara um mosaico muito bonito para o Fla x Flu deste sábado.

Tem um simbolismo imenso.

É direito dos torcedores mais jovens valorizar os tempos que vivem, então é natural que valorizem o século XXI por exemplo, mas é importante dizer: o Fluminense viveu épocas da pesada no século XX.

Muito antes da tristeza das partidas precoces, Assis e Washington já eram duas figuras icônicas do Fluminense. Não lhe bastou a idolatria, nem os títulos nem o nome escrito para sempre na história do clube: eles se tornaram verdadeiros ícones mesmo, como se fossem sobre-humanos.

Para quem tem pouco mais de 50 anos, toda vez que a imagem desses dois caras aparece causa arrepios. É que a gente se lembra daquele momento implacável de gols no último lance, de gols de cabeça arrebatadores no Maracanã com mais de 130, 140 mil pessoas, de partidas onde o Fluminense foi senhor absoluto enquanto o rival tinha o melhor time de sua história.

O Fluminense tinha um time tão bom que parou de conquistar títulos naquela fase em 1985, mas mesmo com o desmonte de seu elenco, o que sobrou deu para jogar o resto da década com absoluta dignidade, disputando títulos e conseguindo boas colocações.

Assis e Washington fizeram gols de placa contra o Flamengo, gols comuns, gols decisivos, gols para a eternidade. Não estão no imaginário dos cinquentões à toa, eles fizeram por merecer.

E a Força, a velha Força, volto a dizer, tem tudo a ver com isso. Se não fosse a TFF, talvez o Fluminense nem futebol tivesse mais. Era sabido de movimentos dentro do clube para extinguir a razão de ser do Tricolor.

Depois de uma partida muito ruim contra o Santa Fé, mas feliz com o resultado obtido, talvez a beleza desse mosaico possa ser um bom presságio. Algo que eleve a auto-estima da torcida do Fluminense, e especialmente do time, para fazer uma partida à altura de suas tradições neste sábado.

Acontece que ao Fluminense, não basta ser figurante. Ele é protagonista, tem que disputar o título, ele tem que brigar sempre pela vitória. E aí sim os mais jovens podem entender porque os mais velhos têm tanta idolatria por Assis e Washington? É que a simples presença de seus desenhos num mosaico leva à memória um tempo em que o Tricolor era o time a ser batido, era o supremo campeão. Para quem conhece as coisas do Fluminense, isso significa muito.

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Quando se pensa em Assis e Washington no Fluminense, é justo traçar um paralelo com o que o escritor Norman Mailer disse a respeito de seu colega Jack Kerouac:

” Kerouac foi um sopro de ar fresco… uma força, uma tragédia, um triunfo e uma influência duradoura, e essa influência ainda está entre nós”.

Já 1995 foi tratado por livros inteiros.

Foto: Torcida Força Flu.

2 Comments

  1. Talvez Fred que pode encerrar a carreira no Flu, tenha vindo para o clube justamente para fazer essa galera mais da antiga relembrar como eram os tempos de Washington, Assis, Cláudio Adão, etc.
    Fred é um definidor nato na atualidade. Pena que algumas contusões tenham diminuído a quantidade de vezes em campo, pois seus números seriam místicos.

  2. Excelente. Não os vi jogar, mas me emociono sempre quando se toca o nome do casal 20.

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